Por entre os pontos convergentes da perceção dos diferentes portugueses sobre o que se viveu antes e depois do dia 25 de Abril de 1974 em Portugal, surgem as experiências pessoais diretas ou indiretas. O que partilharei nesta breve discorrência é uma experiência pessoal diretamente indireta pela História da minha Mãe e do meu Pai.
Sou filho de uma portuguesa retornada, filha de pais amargurados por em curtos meses verem reduzir os seus esforços de estabilidade financeira de uma família de três filhos, aos quais se propunha um futuro menos árduo e mais simpático que o de seus pais, a nada. A minha Mãe nasceu na pequena aldeia de Malhadas do concelho de Miranda do Douro; primogénita, seus pais logo perceberam que teriam que fugir à Agricultura Pobre e Forçada do Portugal dos anos cinquenta e sessenta que era, na maior parte das vezes, único empreendimento de subsistência, para terem tempo e dinheiro para serem felizes. Em Angola, os terrenos são bem nutridos e férteis. São capazes de produzir quase três vezes ao ano.
Emigraram assim que a primogénita pareceu capaz; voltaram dezassete anos depois, forçados por uma Guerra Colonial mal explicada, mal resolvida e mal finalizada. “Na frente” voltou sozinha a minha avó com os seus filhos, como tantas famílias, enquanto seu marido tentava trocar as conquistas materiais de dezassete anos por valor em capital para na metrópole portuguesa trocar por escudos. Seis meses de um silêncio desesperante sem nenhum sinal de vida por postal ou telefone de ambas as montanhas familiares, eis que volta o senhor meu avô, com muitas notas com Camões desenhado, mas com valor nenhum para usar em qualquer parte do mundo.
Voltar à terra que só dá fruto uma vez ao ano, sem enxada ou semente para semear, resultou numa humilhante experiência da qual poderia resultar uma de duas sinas: morte ou vida.
E resultou vida. Enriqueceram novamente e foram felizes com a mágoa da ignorância de uma expulsão forçada de um paraíso agrícola, social, climatérico e natural. Resultou também o drama da discriminação. A discriminação dos homens ambiciosos que levaram o país à Guerra Colonial por irem esfolar os nativos e usurpar seu trabalho. A discriminação da mentira. O abolicionismo tratara disso há dois séculos atrás.
Portugal, pouco depois do 25 de Abril de 1974, era um país ignorante e, por isso, discriminador negativo. Restou-lhe a sorte de ter Governos Portugueses, socialistas suficientes para perceber que aquela corrente de imigração se tornaria num problema se respostas não fossem dadas ou planeamentos concretizados. Conseguimos!
Luís Guimarães, presidente da Concelhia de Penafiel da Juventude Socialista