OPINIÃO: Estudar em Portugal

Manuel Ramos, Professor

Já estamos quase no final do segundo período deste ano letivo e, por esta altura, (nós, professores) já estamos todos a pensar nos possíveis resultados dos nossos alunos no final deste período.

Confesso que nunca ouvi falar tanto de insucesso escolar como tenho ouvido falar no último ano…

Isto faz-me pensar no que está a acontecer…

Efetivamente, dá para perceber que os alunos estão muito desmotivados, facto que explica, em boa parte, os maus resultados académicos e, mais que isso, explica o aumento da indisciplina em sala de aula…

Mas qual será a causa da desmotivação dos alunos?

Não fiz nenhum estudo particular sobre o assunto, mas penso que podemos refletir sobre o que poderá estar a ocorrer.

A “escola para todos” foi das conquistas mais importantes nos anos pós 25 de Abril… Já o Veiga Simão, antes da revolução, pensava em romper com um ensino direcionado para as elites e em democratizar a educação, o que, entretanto, só foi sendo conseguido nos governos que foram formados depois da Revolução dos Cravos. Esta conquista foi sendo conseguida aos poucos, com a evolução da escolaridade obrigatória dos quatro anos iniciais para os atuais 12 anos e o estabelecimento de medidas diversas de apoio aos alunos e encarregados de educação.

Apesar destas conquistas do 25 de Abril, a situação económico-financeira do país tem sido considerada muito instável e a nação tem enfrentado grandes problemas de âmbito social, tais como desemprego ou emprego precário, salários baixos, endividamento das famílias, etc.

Estes factos, aliados aos currículos oficiais das disciplinas (extensos, demasiadamente teóricos e pouco relacionados com questões práticas do dia a dia), provocaram a desconfiança de que os ensinamentos transmitidos pela escola são inúteis… Esta desconfiança foi agravada ainda mais nos últimos anos, pois os pais verificaram que, mesmo com licenciaturas e mestrados, os seus filhos não conseguiram emprego em Portugal e foram obrigados a emigrar para trabalhar ou aceitar uma colocação com uma profissão diferente daquela para a qual estudaram.

Ora, esta desconfiança alastrou entre os pais e encarregados e, como é claro, os alunos também não ficaram indiferentes. Hoje, os alunos não pensam que a escola será o trampolim para uma vida melhor, conforme o Veiga Simão defendia. Pensam, isso sim, que a escola é uma perda de tempo, para onde vão apenas para conviver com os amigos… Hoje, apenas uma minoria considera que a escola lhe irá ajudar a galgar uma posição social melhor.

Os métodos de ensino e os currículos das disciplinas também não ajudam, pois estão desatualizados em termos de métodos e finalidades e não têm em conta a disponibilidade da informação proporcionada pela internet e o advento das redes sociais, das clouds, dos telemóveis e dos computadores…

A atuação de alguns ministros da educação também não promoveram a confiança, tendo antes complicado a situação, já por si mesma, difícil! São memoráveis os confrontos da ministra Maria de Lurdes e os docentes. Esses confrontos provocaram um aumento da desconfiança dos pais relativamente à qualidade dos professores e, consequentemente, dos serviços por eles prestados.

A educação é isso: uma questão de confiança! Se o leitor confia em alguém, não tem medo de pedir-lhe ajuda… Se o leitor não confia em alguém, não lhe pede ajuda, pois não acredita no seu auxílio e até tem medo de ser prejudicado por isso…

Ora, com os alunos, a escola e os professores acontece o mesmo! Se os alunos confiam na escola e nos professores, pedem ajuda, são ajudados na medida do possível e tudo corre melhor… Se os alunos não confiam na escola e/ou nos professores, não pedem ajuda para os seus problemas, e ficam sozinhos na procura de uma solução, ou o que é pior, ficam sozinhos, desistindo da procura de uma solução.

Manuel Ramos, professor

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