OPINIÃO: Os ódios de estimação da imprensa também votam

Ninguém gosta de bullies. Ninguém acha piada a bullies. Ninguém toma o partido dos bullies. E quando esse bully é a imprensa, a questão adensa-se. É invariavelmente a verdade que sai a perder. Falando de notícias [relato de factos]: De onde vem a necessidade de um jornalista ridicularizar Donald Trump? De ofender, em nome próprio, Jeroen Dijsselbloem? De demonstrar que prefere o momento em que as sondagens estão a desfavor da Marine Le Pen? Qual o propósito de falar dos pelos do peito ou tom de voz do dirigente da Nova Portugalidade?

As declarações e os atos de qualquer um deles falam por si. Desde quando é que passou a ser necessário adicionar opinião à notícia? É falta de confiança na história? É falta de material para cliques? É um assombro pensar na normalidade da imprensa que tem “direito” aos seus ódios de estimação.

Porque esses ódios não são inofensivos. Uma afronta muitas vezes – a maioria das vezes – gera revolta. Ora, se há quem se ria, concorde e o jornalista some pontos na consideração daquele leitor/ouvinte/telespectador, há quem considere aquela tomada de posição como uma afronta ou alguém a dizer-lhe o que pensar.

Um caso concreto: quando o Donald Trump torna pública uma intenção governativa ou a sua opinião sobre determinado assunto, não raras vezes lemos/vemos/ouvimos, nas notícias, referências ao tom informal do anúncio, ao uso continuado do Twitter, à “obsessão do presidente norte-americano” pela rede social. Ora, se eu sou um leitor que uso o Twitter de forma igualmente frequente, vou-me fartar de ver julgado o modo como comunico e o que faço com o meu tempo. Se gosto da maneira como ele comunica, vou ver o meu gosto continuamente reprovado pelos meios de comunicação.

Afinal, não pagou o leitor para ter acesso aos factos? Abriu aquela notícia para saber mais sobre o assunto ou para que lhe fosse servida de uma bandeja com um mescla de factos com ironia e piadinhas à mistura? Se gerar revolta, esta é certamente dirigida aos media e, como efeito colateral, a simpatia recai sobre o objeto da piada mediática.

Já se chegou à conclusão de que a forma como os media tratam o Donald Trump durante a campanha eleitoral lhe valeu alguns votos por simpatia de quem estava indeciso. Onde e quando é que nos esquecemos que a distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do leitor?

[Não, eu não apoio o Donald Trump. Sim, acho que ele próprio é bullie. Mas isso não faz com que goste de quem lhe responde na mesma moeda. Acabamos todos a perder. A verdade também.]

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