O célebre lema oficioso dos socialistas – o “Quem se mete com o PS, leva” – foi o mote da crónica da semana passada. Perdoem-me mas vou ter de voltar ao mesmo assunto. E se ficarem indignados pela minha aparente falta de originalidade, dirijam as vossas queixas ao deputado socialista Ascenso Simões, porque a culpa é dele. Mas fica o aviso: talvez não seja boa ideia queixarem-se dele. É que Ascenso Simões promete bofetadas a quem se queixa de membros do PS.
Na semana passada, depois de um colunista do Observador ter escrito um texto de opinião do qual Simões não gostou, o deputado socialista deu largas à sua prepotência dizendo: “para este comportamento só um par de bofetadas”.
Onde é que isto já se viu? Ah, esperem, viu-se no ano passado quando João Soares, na altura ministro socialista, também prometeu bofetadas a dois jornalistas do Público (e foi forçado a demitir-se por isso). Ou seja: é grave, sim, mas vindo do PS não é inédito.
Aqui chegados, é preciso não ser injusto. Simões excedeu-se, é certo, mas talvez exista uma justificação para a atitude que teve. Aguardem só um segundo que vou confirmar…
…Bem, já confirmei e, afinal, sim. Ou melhor, não. Sim e não, pronto. Sim, há justificações. Não, não são aceitáveis.
Depois de a polémica rebentar, Simões veio dizer, em sua defesa, que se limitou a usar o “registo do debate público do final do século 19, início do século 20”. Como se tal não bastasse, acrescentou que “o debate público não é para piegas”. Com justificações destas, a sorte é que Ascenso Simões não se lembrou dos cowboys do Faroeste. Senão, às tantas, ainda exigia um duelo de pistola e prometia ao pobre colunista uns quantos tiros.
Brincadeira à parte, o certo é que o episódio diz muito de Ascenso Simões (e de uma certa ala do PS). Ao optar pelas (ainda que literárias) bofetadas, Simões demonstrou, por um lado, a derrota do seu ponto de vista e, por outro, uma confrangedora incapacidade em responder com argumentos.
E com esta atitude de “Se não podes batê-los [com argumentos], bate-lhes [com bofetadas]”, Ascenso Simões não esteve longe de um qualquer rufia dos recreios de escola: também os rufias, quando não têm razão, nem argumentos, resolvem tudo com ameaças e violência.
Diz o deputado Ascenso Simões que “o debate público não é para piegas”. Quanto a isso, não sei. Sei, no entanto, que ser deputado não é para Ascenso Simões.
(P.S. – Também já me estou a preparar para um par de bofetadas)