Algo ou alguém que não conseguimos esquecer por algum motivo muito importante. Todos nós temos, como que colada à nossa alma, esta palavra: “Inesquecível”.
Os motivos são diversos, muitos deles são saborosos, outros amargos, contudo, inesquecíveis. Todos eles nos trazem à flor da pele emoções de várias tonalidades: umas mais claras, outras escuras, outras ainda cheias de cor e luz.
Quem não tem algo ou alguém, ou várias situações, que viveram e que ficaram para sempre inesquecíveis?
Vou contar-lhes uma história, comum a muitos de nós.
Era uma vez muitas crianças que nasceram em famílias numerosas e carentes, num país fechado ao mundo, onde ninguém podia falar à vontade, onde se passava fome, entre outras privações.
Todos, ou, pelo menos, a maioria, viveu e sentiu o pulso forte do famoso político que chegou, caprichoso, ao governo, endireitou as finanças do país, à custa do muito sacrifício da população em geral, em que se incluíam muitas crianças.
Esse homem é inesquecível, pelas medidas que teve que tomar, e não só, sem sequer se lembrar das crianças e das dificuldades a que as iria submeter. Contudo, as crianças que passaram fome e frio e viveram em condições pouco dignas conseguiram ser felizes. Viveram momentos inesquecíveis, alguns de dor e tristeza, mas também de alegria e brincadeira.
Na escola, inesquecível ficou a falta de métodos pedagógicos de muitos professores e a famosa palmatória, com que batiam nas crianças, descarregando, nas mãos de seres indefesos, as suas raivas e frustrações.
Chegando a hora do recreio, tudo era momentaneamente esquecido pela brincadeira e pelo círculo que se formava de solidariedade entre as crianças que tinham sido sacrificadas e as que tinham sido obrigadas a assistir. Inesquecível escola que nos provocava dores de barriga e uma vontade enorme de não querer ir para aquele lugar, não fora as amizades e a imposição e quase todos teríamos desistido de estudar. Muitas crianças foram forçadas a abandonar a escola para trabalhar e, assim, ajudarem as suas famílias. De ressalvar, que existiram, naquele tempo, professores excecionais e inesquecíveis, enquanto profissionais e pessoas de índole doce para com os seus jovens alunos.
Outras crianças viram os pais partirem de noite, despedidas inesquecíveis, porque dolorosas, para saírem do país ou para serem presos.
Cercadas por tantas vicissitudes, as crianças, verdadeiras heroínas, conseguiam através das simples brincadeiras, sem brinquedos, com um poder de imaginação louvável, divertirem-se, rindo à gargalhada, construindo e imitando tudo aquilo que as rodeava, como se de verdadeiros artistas de teatro se tratasse.
Pedaços de vida inesquecíveis, que moldaram as personalidades e as vidas daquelas crianças que, com tão pouco, ainda sorriam de pura alegria. Hoje, adultos, a maioria são pessoas maravilhosas e solidárias.
O meu pai é a pessoa inesquecível da minha vida, com ele partia à descoberta da natureza. São inesquecíveis aqueles passeios, aqueles piqueniques, o jogar à bola com o pai, ir para dentro da água do mar e saber que nada de ruim me aconteceria com ele por perto. As nossas conversas ao fim do dia, cheias de sabedoria. O meu pai é inesquecível, também, pela sua beleza, pelo seu sorriso fácil e pelo seu porte de homem forte e inteligente.
O nascimento dos filhos é ou não uma experiência inesquecível?
Aquela ligação única e maravilhosa, as sensações que vivemos ao longo de nove meses. O crescimento do nosso amor primeiro, o diálogo que vamos tendo com ele, os primeiros sinais de entendimento mútuo, as carícias partilhadas a dois, o acordar a meio da noite, com as brincadeiras dele dentro de nós. O momento em que ele sai daquele mundo só nosso e abre os olhos para encontrar os nossos. Os cheiros que nos são tão conhecidos e íntimos. A primeira vez que ele vai alimentar-se no nosso seio, mais um momento só nosso e maravilhosamente inesquecível!
Aqueles que partem de mochila às costas em direção a outros países em busca de aventura e conhecimento, com toda a certeza, têm histórias inesquecíveis para contar sobre os costumes de vários povos. As amizades que se constroem, as verdades do dia a dia de populações tão heterogéneas, tudo isso deixa marcas memoráveis.
Escalar montanhas ou atingir o cume do Everest é, sem dúvida, uma experiência inesquecível, que só quem a vive a poderá descrever. Penso que devem ser variadas as sensações que experimentam. Antes de tudo é preciso coragem para enfrentar imprevistos, não ter grandes expectativas e, por fim, quando se atinge com sucesso o objetivo, para além do cansaço, deve-se sentir uma sensação de missão cumprida e que nunca será esquecida.
Há 48 anos atrás, em 20 de julho de 1969, três homens foram à lua e dois deles pisaram, pela primeira vez, a superfície lunar. Para Neil Armstrong, comandante da missão, que nos deixou a 25 de agosto de 2012, Buzz Alddrin e Michael Collins foi absolutamente memorável. De salientar que este último continuou a pilotar o módulo de comando chamado Columbia.
Pela TV, mais de 500 milhões de pessoas de todo o mundo assistiram ao desenrolar desta missão e ouviram a inesquecível frase dita por Neil Armstrong: “É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade.”
Por tudo isto, continuo a dizer que viver é maravilhoso, pelo muito que recebemos e damos, pelo que experienciamos e pela herança que deixámos aos nossos descendentes, para os quais nos tornamos pessoas inesquecíveis, sem dúvida alguma.