OPINIÃO: A importância dos avós

“- Avô, vamos apanhar pampilhos para fazermos colares?”

“- Avó, prometes que não dizes nada à mãe?”

Quem não se lembra de proferir estas palavras aos seus avós, durante a sua infância?

Quem se lembra de se esconder atrás da avó ou avô para fugir de levar umas palmadas do pai ou da mãe, ainda que merecidas?

São tantas as recordações, as partilhas e cumplicidades que vivemos com os nossos avós, que eles se tornam marcos importantes nas nossas vidas.

Há uns cinquenta anos atrás, infantários e pré-escolas eram duas palavras que não faziam parte do nosso vocabulário. Nascíamos, permanecíamos no colo materno dois a três meses e passávamos para o colo da avó e lá ficávamos até irmos para a escola primária.

Simplesmente uma maravilha dulcíssima que o tempo não consegue apagar ou atenuar.

Os meus avós estão presentes no meu pensamento e é como ver um filme e lá estão eles sempre a ajudarem-me, a ensinarem-me a dar os primeiros passos, a falar, a expressar-me através das brincadeiras, dos desenhos, a incentivarem-me a não desistir às primeiras dificuldades e a acreditar em mim.

Muitas vezes, curaram-me as feridas feitas em brincadeiras e eu podia chorar sem vergonha, porque chorar fazia bem aos olhos porque os limpava e lavava a alma da tristeza, assim dizia a avó.

Que saudades da minha infância feliz, pacífica e cheia de mimos dos avós. Não havia luxos, mas existia o mais importante: muito amor, muitos risos, muitas brincadeiras vividas com intensidade e sem medos.

As traquinices, que eram mais que muitas, sempre perdoadas sem, contudo, haver uma história contada pelo avô ou pela avó, que nos ensinava a não cometer o mesmo erro, porque isso seria relevante, mais à frente nas nossas vidas.

Continuo a pensar que os avós serão sempre pessoas importantes na vida de todas as crianças.

Hoje em dia, infelizmente, os pais têm a grande preocupação de colocarem os seus filhos em creches e infantários com o intuito de cedo conviverem uns com os outros, por um lado e, por outro, muitos avós ainda estão ativos. No entanto, há muitos avós a viverem sozinhos e que não convivem, como gostariam, com os seus netos. Devo-lhes dizer que é um desperdício, tanto para os netos, como para os avós e também para os pais que vêm as suas despesas aumentadas pelos honorários de creches e infantários.

Os avós nunca deveriam ser preteridos e sim preferidos, como os segundos educadores na vida de uma criança. É uma convivência que faria e faz bem a ambas as partes. Os avós, com os seus netos junto de si, nunca se sentiriam sós, inúteis ou abandonados. Os netos, por seu lado, cresceriam sem ansiedades, sem horários rígidos e sem medos inerentes a regras a que se vêm muito cedo obrigados a obedecer e a serem punidos por diabruras que só os avós sabem perdoar, ensinando as atitudes mais corretas a ter, de uma forma suave e cheia de sabedoria.

Felizes aquelas crianças que têm o privilégio de terem no seu dia a dia os seus avós. O avô leva os seus netos à escola e vai buscá-los, a avó está sempre lá para cozinhar os nossos pratos preferidos, porque ninguém como ela sabe melhor os nossos gostos, para nos aconselhar na indumentária, nos chamar à atenção se tivermos o cabelo em desalinho, cuidado com as atitudes para com os outros… e os passeios com ambos são, no mínimo, fantásticos, cheios de sabor a liberdade e alegria. Com os avós, abrimo-nos muito mais do que com os pais, porque estes são mais rígidos e os avós, com a sabedoria que a vida lhes deu, entendem melhor os nossos problemas e são muito mais dóceis nas suas recomendações e chamadas de atenção.

Não esqueço nunca o pátio grande da casa de meus avós e das brincadeiras que oito crianças desenvolviam em plena liberdade. O barulho que juntas fazíamos, os sons, os cheiros, a imaginação à solta daquelas crianças a pulsar de vida e alegria. Os brinquedos, que eram feitos com pedaços de natureza, porque não havia dinheiro para comprar os que estariam à venda, partilhados e envoltos de criatividade e que serviam para imitar as pessoas adultas. Vender peixe ou pão, por exemplo, servindo-nos de folhas verdes de plantas, era uma das brincadeiras. A Ladina, a nossa cadelinha que tinha a maior das paciências connosco, também brincava, ela gostava de fazer de nosso cavalo. Ela passeava-nos pelo pátio, cheia de orgulho por ter-nos sobre o seu dorso, uma de cada vez, caso contrário, ela ralhava-nos. Quando nos magoávamos, ela era a primeira a surgir junto de nós para nos lamber as lágrimas e as feridas, uma Ladina maravilhosa e muito carinhosa para com todas nós. Ficava triste quando tínhamos de ir para a escola, mas quando regressávamos, era aquela alegria efusiva e louca, caíamos, algumas vezes, com o amor que ela tinha por nós.

São estes pequenos grandes pormenores que coroam a nossa infância de felicidade e nos marcam positivamente para sempre.

Hoje em dia, a maioria das crianças são privadas destas riquezas que não têm preço. Quando não estão a estudar, estão ao computador ou ocupadas com outros “brinquedos” eletrónicos, que até lhes podem proporcionar alguma satisfação, ainda que momentânea, mas a anos luz de se comparar com as brincadeiras de há cinquenta anos atrás que propiciavam tanta alegria, poder imaginativo e intuitivo e a presença fundamental dos avós, sempre!

Alguns centros de dia, destinados aos avós, que passam lá os seus dias, estão a inserir crianças no quotidiano daqueles, com o intuito de ambos tirarem partido da convivência uns com os outros. É um bom sinal, quer dizer que o convívio entre avós e netos é, de facto, benéfico. Neste caso, será entre crianças e pessoas idosas, que, sendo avós, a maioria só vê os seus verdadeiros netos ao fim de semana e se tiverem muita sorte.

O papel de avó e avô devia ser mais valorizado na nossa sociedade de hoje em dia. Os avós não ficariam sós e suscetíveis e continuariam a dar sentido às suas vidas com a presença salutar dos seus netos. Ter uma rotina saudável, com a alegria, a espontaneidade, as traquinices, as dúvidas escolares que muitos partilham com os avós, é uma mais-valia para a vida dos avós e netos e atrever-me-ia, a escrever que só traria mais saúde psíquica para a maioria dos avós, porque os netos, com a sua vivacidade e perguntas e os inúmeros porquês, só fazem o cérebro dos avós trabalharem mais, na procura da satisfação do querer saber por parte dos netos.

Os avós que estão privados da sua melhor saúde devem ter a presença dos netos no seu dia a dia, porque a alegria destes é, com toda a certeza, uma lufada de ar fresco, que traz satisfação e vontade de viver aos avós. É obrigação nossa, enquanto pais, darmos esse presente aos avós, quando eles estão mais fragilizados, incutindo no espírito dos nossos filhos o quão importantes são os avós.

Em muitas civilizações, os avós têm um papel fundamental na vida dos seus filhos e netos e, contudo, muitas daquelas, estão integradas em países ditos de terceiro mundo ou subdesenvolvidos, no entanto, as pessoas idosas são respeitadas e consultadas, sempre que existem problemas, que parecem insolúveis para os mais novos. São tratados com o devido respeito, mas também sabem ocupar o seu lugar na hierarquia de suas sociedades, sem ultrapassarem os seus limites, e intervirem apenas quando são solicitados para isso. São avós atentos e presentes na vida de seus netos e, talvez por tal facto, terem uma maior longevidade.

O meu agradecimento aos meus queridos avós pelo muito que deram e transmitiram em saber à minha vida.

Deixo ficar um abraço bem apertado e do tamanho do mundo a todos os avós. Bem hajam por existirem no mundo e na vida de vossos netos.

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