No passado dia 10 de Outubro celebrou-se o Dia Mundial da Saúde Mental.
Todos os anos, dedico um artigo de opinião à temática devido ao flagelo que representa na nossa sociedade, tendo, nos últimos anos, alertado sempre para a grande epidemia do século XXI: a depressão.
Uma epidemia silenciosa cujos números de incidência deste ano nos demonstram o seu preocupante crescimento nas faixas etárias mais jovens.
Falar de doença mental ainda é um tema tabu na nossa sociedade. Ninguém é louco, ninguém está louco.
Automaticamente, revestimos a doença mental de preconceito e catalogamo-la como sendo um estado de loucura. O próprio termo “doença mental” foi criado com uma intenção humanista para se evitar o preconceito da loucura.
Quando pensamos em Robin Williams ou em Philip Seymour Hoffman, ou em tantos outros artistas que admiramos e cuja morte por suicídio entra nas nossas casas, não pensamos em loucura ou em loucos. Pelo contrário, viajamos para um sentimento de dor insuportável, tentando, racionalmente, justificar o suicídio.
Assim, entrou o conceito de depressão nas nossas casas, de forma violenta. Em cada três casos de suicídio, dois devem-se a um estado de depressão profunda.
Este ano e uma vez que dediquei este mês à sensibilização contra a violência no namoro e violência doméstica na Plataforma de Cidadania que coordeno “Bisturi Cidadania Ativa”, decidi levar o leitor a viajar comigo a um dos milhares de factores que podem levar qualquer pessoa para junto desta patologia silenciosa e para a qual, convém ressalvar, ninguém está imune.
A Organização Mundial da Saúde define a Saúde Mental como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe o seu próprio potencial sendo capaz de lidar com o stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e de dar um contributo para a sua comunidade”.
A Saúde Mental é parte integrante da Saúde e nenhuma delas pode existir sem a outra: a saúde mental, física e social são interdependentes e fazem parte de um conceito mais global de saúde.
E é com este conceito que retorno ao título do nosso artigo: abuso psicológico, a forma de abuso mais frequente por minuto.
O Abuso Psicológico é, no meu entender, das ervas daninhas mais perigosas em contexto de Saúde Mental.
Comecemos pelo Bullying nas suas mais variadíssimas formas, à violência no namoro e, por fim, na violência doméstica. Esta erva daninha está presente em todas estas situações.
O Abuso Psicológico esconde uma aparente e assustadora “normalidade” para quem o comete e para quem é vítima do mesmo. É muito simples não nos apercebermos que o nosso colega, amigo(a), namorado(a) está a cometer esta estirpe de abuso connosco. No Limbo, o Abuso Psicológico exemplifica-se com atitudes como a humilhação, a culpabilização, a chantagem e o controle.
Esconde-se, de forma aparentemente invisível, naquele colega que, no trabalho, expõe a todos os outros a sua intimidade à sua frente sem se preocupar com as suas emoções, esconde-se quando o seu namorado(a) termina a relação consigo por mensagens e ameaça-a(o) caso tente ter algum diálogo presencial, esconde-se no parceiro(a) que controla os seus horários e as suas conversações com familiares e amigos, esconde-se em todas aquelas situações em que se viu a dar razão ao seu parceiro(a), quando ele(a) não a tinha e ainda cai na desculpabilização porque o mesmo atingiu-a(o) com a cascata de culpabilização.
Esconde-se sempre no bullying… Esconde-se de mil e uma formas e, provavelmente, poderá identificar-se em algum destes três exemplos…
O Abuso Psicológico é extremamente perigoso porque, se o deixar entrar na sua esfera afectiva e emocional, poderá ver a sua Saúde Mental altamente prejudicada e, infelizmente, tende a ser “letal” quando se hospeda nos que amamos, como o nosso namorado(a)/marido(a)…
Em muitas situações, é comum a vítima desta estirpe de abuso tornar-se a “agressora”.
Caro leitor(a), esteja atento ao seu redor e a esta erva daninha silenciosa e lembre-se do que nos disse Freud, “os dias mais bonitos, são aqueles em que lutamos” contra tudo aquilo que nos faz mal.
Nada nem ninguém tem o direito de o privar do seu bem-estar, físico, social e mental. Não tenha vergonha de procurar as devidas ajudas especializadas.
Não nascemos preparados para lidar com tudo nesta vida e é urgente combater os números assustadores da doença mental, pondo por terra os seus tabus e os seus segredos que aprisionam milhares de pessoas no mundo que, por vergonha, não recorrem às ajudas devidas.
Esta autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico.