A sociologia e a economia têm vindo a estudar, ao longo dos anos, o comportamento dos indivíduos que nasceram no lapso temporal, que medeia do ano 1980 ao ano de 1997, tendo-se aí encontrado alguns traços comuns que os diferenciam de outra gerações, como a “Geração Z” ou os “Baby Boomers”.
Vulgarmente apresentados como “Milllenials” ou “Geração Y”, são os primeiros nativos digitais, caracterizados por uma incrível tolerância às diferenças e por um otimismo exacerbado, que despoleta nestes indivíduos um sentido de compreensão e um espírito de aventura único.
O idealismo e a criatividade, típicos da geração dos anos 70 (“Baby boomers”), encontra agora uma nova face, o que leva, por um lado, a uma maior preocupação com as pessoas e o seu bem-estar em detrimento dos bens materiais e, por outro lado, ao aumento da exigência e do espírito crítico, que obrigam à reinvenção dos setores tradicionais da economia e até à alteração do velho paradigma do capitalismo.
Estamos, assim, perante uma geração única, uma verdadeira atualização do ser humano, nascido e criado num clima urbanizado, de prosperidade económica e desenvolvimento tecnológico. Foram acompanhados de perto pelos VHS e pelas consolas de jogos, que, muitas vezes, colmataram o cenário familiar em que o pai e a mãe sacrificaram horas e horas na empresa com a esperança de proporcionar um futuro brilhante aos seus filhos.
Por esse motivo, os pais (“Geração Z”) e os avós (“Baby Boomers”) julgam que esta “Geração Y” é apenas composta por indivíduos antissociais, mimados e preguiçosos, o que, felizmente, na sua grande maioria, é mentira.
Se é verdade que eles nasceram numa conjetura económica favorável, não é menos verdade que eles tiveram de lidar com a maior das hostilidades do novo século.
Pressionados por uma das maiores crises mundiais, os jovens, agora adultos, foram obrigados a entender quais os erros que foram cometidos e, ao mesmo tempo, a combater afincadamente pelas oportunidades e pelos seus direitos, de forma a que tais erros não se voltassem a repetir.
Um ambiente familiar fraturado e um futuro pouco animador foram ingredientes essenciais para uma alteração de prioridades, o contrato de trabalho passou a ser visto como o amor, “é para sempre enquanto dura…”, houve um interesse contínuo na melhoria das condições associadas ao contrato de trabalho e houve um desinteresse pelas mega ofertas bancárias que tantas famílias destruíram.
Foram estas circunstâncias que forjaram esta geração que hoje se encontra a revolucionar de forma ímpar o status quo de todos os segmentos da sociedade.
A sua racionalidade de consumo continua a desafiar todos os dias as empresas que tentam compreender as tendências de uma geração em que as experiências são customizadas e altamente pessoais, o que difere dos seus antecessores, em que a influência era transmitida num formato passivo e unidirecional.
Como refere Rui Ventura, encontramos uma geração que, “fazem contas, falam com os amigos, comparam os preços, estão em pesquisa constante de informação. E querem menos compromisso e menor fidelização, o contrário daquilo em que o marketing tem vindo a apostar”.
Na vertente do emprego, os “Millenials”, procuram “organizações que ofereçam oportunidade de se focar no desenvolvimento de competências, na melhoria das condições salariais e dos níveis de satisfação dos seus profissionais, mas também que sejam capazes de criar empregos e disponibilizar bens e serviços que têm um impacto positivo na vida das pessoas”.
Diferenciando-se das outras gerações, estão predispostos a aceitar uma redução salarial e a renunciar uma possível promoção, se isso significar um ganho para a sua vida pessoal e familiar, equilibrando-se de forma saudável a balança do tempo entre casa e trabalho.
Embora sejam “mais desprendidos do ponto de vista material”, na hora de escolher um emprego, esta geração não se foca apenas no valor que se leva para casa no final do mês, mas, sobretudo, nos benefícios que a empresa poderá assegurar (seguro de saúde, ginásio, formação…).
Algumas empresas já perceberam a ideia e, na DreamWorks, por exemplo, é possível, nas horas de trabalho, frequentar aulas de fotografia, escultura, pintura, cinema e karaté. A Google oferece refeições grátis, massagens no local de trabalho, aulas de fitness e deixa os funcionários levarem o cão para o trabalho… Situações que deixariam de boca aberta o operário representado por Charlie Chaplin, no filme Tempos Modernos.
Por conta da forma livre como gerencia o dia a dia, esta geração é capaz de localizar de forma intuitiva qualquer dado com a ponta dos dedos e uma pequena aplicação, ao mesmo tempo que ouve música e publicita de forma espontânea o seu trabalho, superando positivamente o índice de criatividade de qualquer outra geração.
Podemos, por isso, dizer que esta geração não é mimada, nem preguiçosa. É sim, uma geração com princípios e valores que, apesar de ser ferida pelas dificuldades dos últimos anos, conseguiu impor à sociedade e, sobretudo, à economia os seus ideais e as suas exigências.
Confiar nos ideais e ambições desta geração é confiar em algo que não está explícito, mas também é confiar numa base sólida e coesa, onde se poderá construir um futuro ideal, racional e socialmente justo, contrapondo-se, assim, às antigas gerações que, devido ao seu pessimismo, à sua irracionalidade e descontrolo nos gastos, levaram-nos a uma situação de dependência incontrolável e consequente desmoronamento da economia.
Perguntamos, assim, quanto tempo será preciso para que estes princípios e valores não sejam apenas uma idealização, mas antes uma realidade do mundo atual? A aposta nestes jovens conscientes e qualificados é essencial para renovação de mentalidades e para a modernização das estruturas centrais. Só assim será possível reformar o Estado e os seus princípios basilares que se encontram desgastados pela erosão dos tempos.