OPINIÃO: A Finitude da Vida

Esta semana foi marcada pela partida de um amigo. Partiu da Casa Grande que é este mundo em que todos juntos vivemos, onde deveria reinar a harmonia, a paz, a solidariedade, a alegria, a amizade e o amor.

Todos os dias ouvimos notícias desagradáveis sobre violência entre as pessoas. No local de trabalho, onde deveria imperar o espírito de equipa e cooperação para um melhor desempenho, quantas vezes o contrário acontece?

No seio familiar, que deveria ser o nosso porto de abrigo, quantas vezes a discórdia, as palavras e atitudes menos felizes nos levam às lágrimas e à vontade de desistir?

Quantos de nós já sentiu a fadiga de remar contra a maré, para sair da tempestade, e ficou desiludido com os parcos resultados?

Quantos já sofremos perdas enormes pelas intempéries que a natureza nos oferece, muitas ocasionadas pelo uso e abuso, pelo Homem, que só prejudica aquela e, consequentemente, a vida de todos os seres vivos e a nossa?

Contudo, quando confrontados com a finitude da vida, curvámo-nos sob o peso da dura realidade: deixarmos de ver e ouvir, rir e abraçar, de beijar e receber aqueles que nos eram queridos.

Surgem depois as perguntas que ficaram sem respostas, a tristeza de não termos dispensado mais atenção, mais tempo, mais compreensão, mais partilha…

Lembrarmo-nos que amanhã, ou daqui a instantes, nós ou os outros, podemos não estar cá devia permanecer no nosso pensamento sempre, talvez, desta forma, fôssemos mais altruístas, mais verdadeiros, conseguíssemos perdoar, dar novas oportunidades a quem as havíamos recusado e estender a mão a todos quantos precisam.

Digo muitas vezes, que estamos todos nesta Grande Casa para nos ajudarmos, para nos escutarmos, para sorrirmos uns para os outros, para nos entendermos, para limparmos as lágrimas no rosto dos outros, para darmos as mãos e formarmos um círculo imenso de boas vontades e entreajuda.

O que acontece, entretanto, é que estamos, senão todos, a maioria, de costas voltadas uns para os outros e a olharmos apenas para os nossos interesses e “mundinhos”. Nunca temos tempo para ouvir os outros, nunca temos espaço nas nossas empresas para uma pessoa, que seria uma mais-valia para nós, porque nem sequer lhe damos oportunidade de falar, sem que seja interrompida por nós, por perguntas rasteira e estamos sempre a olhar para o relógio ansiosos que a conversa acabe porque temos muito que fazer.

Nas nossas vidas particulares, o mesmo acontece. Quantas vezes dizemos aos nossos filhos: “Agora não tenho tempo”? Quantas vezes colocamos os nossos pais em lares, porque não temos tempo nem espaço para lhes dispensarmos, porque o nosso “mundinho” é mais importante que tudo o resto?

Passamos o tempo a avaliarmo-nos e a julgarmo-nos, sem qualquer critério, e a sermos continuamente injustos. Porquê?! O que colhemos com este tipo de atitudes? Creio que a resposta é um enorme vazio.

Quando as pessoas são alvo de um carinho ou atenção por parte de alguém, ficam tão admiradas que pensam: primeiro, os mais idosos, que não são inválidos, e os mais novos, ficam desconfiados. Porquê? Porque não estão habituados a receber mimos na forma de atenção, empatia e escuta ativa, simpatia e amor, sem qualquer tipo de interesse que não seja simplesmente ajudar.

Já repararam quão prazeroso é passarmos uma tarde a falar e a ouvir as pessoas com as quais convivemos no nosso dia a dia? Mesmo com aquelas que não conhecemos? É ótimo, porque estamos sempre a aprender uns com os outros, partilhando histórias de vida riquíssimas, aprendemos até termos novos, oriundos de terras mais para norte ou interior do nosso país.

Dispensarmos atenção uns aos outros é como escrevermos um diário, quando chegarmos à última página temos uma história para ler, reler, recordar, rir e, muitas vezes, ficarmos com os olhos marejados de lágrimas. Assim sendo, não haverá pergunta sem resposta, nem remorsos ou pesos na consciência, porque está tudo lá, na nossa memória.

Resta-nos partilhar uns com os outros aquilo que vivemos, saboreamos, no convívio com aquela pessoa que nos é querida, mas que teve que sair da Casa Grande, para conhecer, ou, quem sabe voltar, de onde um dia partiu.

Nesta vida, e enquanto cá estamos, devíamos pensar que nada é nosso, mas de todos. Ninguém deveria sentir-se só, a menos que o quisesse e por momentos. Todos temos direito ao Amor, à Felicidade.

O valor de todos nós não está no que possuímos, mas naquilo que somos, naquilo que damos aos outros, sem qualquer interesse que não seja o de ajudar.

Cada segundo das nossas vidas deve ser vivido intensamente. Dedicarmo-nos a nós e ao próximo com um único intuito – proporcionar felicidade e bem-estar. Não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje, desta forma, ficará praticamente tudo feito e os que cá ficarem lembrar-se-ão de nós para sempre.

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