Acredito no Amor.
No Amor que inerva a felicidade, percorre a dor, as dificuldades do quotidiano, a doença e até a morte. Um Amor tão certo como o dia se transformar em noite e a noite em dia.
Acredito naquele Amor em que duas almas se fusionam numa só e, perante uma possível separação, os caminhos da vida sabem sempre que naquela rotunda vão encontrar de novo a paz e a felicidade que as saudades gravaram na cassete escondida dentro do coração.
E acredito nisto tudo porque já tive a sorte de o sentir para hoje poder escrever sobre ele. Mas também tive a oportunidade de o ver noutras vidas, com idades e destinos tão distintos.
Vi o Amor da Helena com os seus 50 anos pelo Jorge. Um Amor que a marcou para sempre e que, no meio de tanta dor, tantas desilusões, tantas traições a faz confidenciar, com orgulho a sair-lhe entre as sílabas: “Apenas Amei um homem na minha vida”.
O Amor mostra-se sobrevivente e superior a todas as dores provocadas pelo ser humano, que não é um hospedeiro perfeito, mas, sim, uma pedra bruta imperfeita em constante construção.
Os erros da nossa humanidade fazem parte de nós. O Amor acompanha esses mesmos erros, dando-nos a oportunidade do arrependimento, da aprendizagem e da superação porque, como pilar que é, ampara todas as nossas quedas em conjunto e perante o outro. Infelizmente para a Helena, o Jorge não a amou e talvez nunca ame, porque o Amor parece não lhe estar destinado…
Vi de novo o Amor através dos olhos do Fernando com os seus 90 anos. Contou-me com orgulho a recepção que deu no seu hotel na qual: “o convidado de honra da noite entrou de fato de mergulho, abraçando a minha esposa ainda molhado. A Antónia salvou a noite brincando com a situação. Tenho uma esposa formidável que sabe sempre resolver qualquer situação”.
Vi o mesmo Fernando desaparecer numa manhã e a Antónia desaparecer no dia seguinte com o do Síndrome do coração partido.
Vi o Amor do Joel com os seus 33 anos pela Sara…
Um Amor que o fizera ultrapassar as marcas que um passado difícil e demasiado precoce lhe deixaram. E vi o Joel separar-se e esconder esse mesmo Amor da noite para o dia. Não fala com a Sara, despediu-se dela por mensagem e não pode sequer ouvir o seu nome.
A ferida está aberta e focou no Amor uma imensa raiva, por não se querer permitir sentir Amor perante os erros da Sara…
Vi-o escolher uma nova vida que encontrou no Tinder.
Não é ao acaso que trago aqui exemplos de faixas etárias tão distintas e este último exemplo já no âmbito das gerações mais jovens nas quais me insiro.
Falei do Amor em que acredito para falar-vos do “amor” dos tempos de hoje e das perdas. As perdas dão origem à caça dos afetos nas redes sociais, no Tinder ou noutras aplicações de encontros.
As pessoas nessas aplicações estão disponíveis, mostram-nos as suas melhores fotografias, dizem-nos o que mais queremos ouvir “como é que x pessoa te fez isso… como é que alguém tão interessante e bonito(a) está disponível…” e bang!!
Instantaneamente, vemos ali alguém que preenche as nossas expectativas ou, sobretudo, aquilo que buscamos para preencher a solidão, que o vazio da paixão que findou e que confundimos tantas vezes com Amor, nos deixou.
Li, inclusive, na espuma destes dias um estudo que falava sobre a solidão causada dentro e pelas redes sociais.
É assim que, após a perda, ativamos as nossas antenas “Tinder” e buscamos a Paixão que nos preencha a Solidão.
Vivemos a vida de tal forma que ter um companheiro(a) é um requisito essencial, não sabemos estar sós.
Acreditamos que o Amor surgirá naturalmente e, se não resultar, facilmente encontraremos um novo companheiro(a).
É um erro comum das novas gerações evitar a dor ou situações menos favoráveis às suas expectativas a todo o custo.
Construímos castelos de areia que vamos destruir da noite para o dia sem nunca os querermos recuperar se virmos a nossa satisfação pessoal ameaçada por x ou y obstáculo, como se a dor e os obstáculos não fizessem parte da pele da vida.
Como se pudéssemos escolher apenas querer e ter Felicidade nas nossas vidas durante todo o tempo, todos os minutos e todos os segundos.
Achamos que podemos escolher tudo na vida, criando a nossa própria bolha afectiva; viramos sucessivas páginas sem nunca sequer olhar para elas.
Vimos acabar “amores” que nem sequer existiram. A Solidão chegará e o Tinder mostrará ser tão vazio como a vida que abdicamos de construir.
O fim vai mostrar-nos que, tal como o Amor, é a Vida que nos escolhe.
Esta autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico.