Chegou, por fim, o último mês do ano e, com ele, o Natal, símbolo de alegria, paz, esperança e solidariedade.
É também um período, por excelência, de reflexões, de fazermos o balanço das nossas vidas, do que fizemos por nós e o que deixámos de fazer pelos outros.
Ao redor de mim, só ouço e vejo pessoas preocupadas com os presentes que vão comprar para os familiares e amigos.
O melhor desta época é darmos, de facto, mas não bens supérfluos. Se temos meios financeiros, porque não distribuí-los por instituições de solidariedade social, pelas Aldeias SOS, onde existem tantas crianças carentes de afetos e muitos idosos sós. Alimentação e alguns brinquedos para crianças, bem como roupas e calçado para ambas as faixas etárias serão, com toda a certeza, bem-vindos, assim como os nossos afetos para com eles. Porque não dedicarmos uns dias por semana a estas pessoas?
Os sem abrigo também precisam de afetos e de bens de primeira necessidade. É um trabalho voluntário, da nossa parte, que nos encherá de satisfação e alegria, muito mais que um presente, seja lá ele, qual for.
O trabalho voluntário não dá dinheiro, mas dá algo tão especial, enche-nos a alma de uma luz imensa, de uma satisfação tão grande, que lhes garanto que não há dinheiro algum, por muito necessário que seja, que nos proporcione tamanha plenitude, alegria e a satisfação de missão cumprida. Sugiro que dediquem algum do vosso tempo disponível ao serviço dos que mais precisam, ao longo das vossas vidas, e não apenas durante este mês.
Como todos sabem, o Pai Natal foi inspirado na figura de um Bispo de nome Nicolau, nascido na Turquia no ano 280 d.C., foi um homem inspirador e muito humano, porque conhecia os seus paroquianos e as suas necessidades e costumava distribuir saquinhos com moedas que colocava junto das chaminés das famílias carentes.
É este, na minha opinião, que deve ser o espírito Natalício. Ajudarmos os que precisam.
Vou lançar um repto a todos os empresários deste país: deem oportunidade a muitas pessoas que, durante todo o ano, vos batem à porta para vos pedir trabalho. Tenham mais paciência a ler os CV’s que vos mandam e tenham curiosidade de conhecerem as pessoas. Sejam humanos e não máquinas avaliadoras/reprovadoras! Quantas pessoas desperdiçaram ao longo deste ano e que seriam uma mais-valia para as vossas empresas?
Ganhem um pouco com este tipo de reflexão, sobretudo, quando estiverem reunidos com a vossa querida família, ao redor de uma mesa farta, que, infelizmente, não será uma realidade na casa de muitas famílias portuguesas. Lembrem-se desta realidade, por favor. Lembrem-se do Bispo Nicolau. Lembrem-se que o verde da árvore de Natal simboliza a Esperança em dias melhores, numa vida nova, e abram as portas das vossas empresas, dando, dessa forma, uma nova oportunidade e melhoria de vida a tantos portugueses que, neste momento, estão sem emprego, sendo este um direito constitucional que nos assiste a todos.
O Presépio, que muitas casas portuguesas terão e que surgiu com S. Francisco de Assis, foi pensado para que todos nós refletíssemos que Jesus nasceu na pobreza e simplicidade e que os presentes mais relevantes estão na solidariedade, na bondade humana e no dar de boa vontade, sem interesse em receber.
Há cinquenta anos atrás, a maioria dos portugueses vivia com muitas dificuldades, mas nunca tinha falta de trabalho, apesar de os ordenados serem muito pequenos.
No Natal, na maioria das casas portuguesas com crianças, não existia a cultura consumista do “Presente” que há nos dias de hoje, apesar de não haver fartura de dinheiro.
Antes do 25 de Abril de 1974, a minha alegria, enquanto criança, era ver os meus pais unidos e as minhas irmãs e avós todos reunidos à volta da mesa da sala de jantar, com o tradicional bacalhau e as batatas com legumes e alguns frutos secos e um bolo que a mãe fazia. Garanto-lhes que, para mim, não havia presente melhor que este.
A reunião familiar continua, ao fim deste tempo todo, a ser o mais importante para mim. Não compro presentes! Primeiro porque faço parte de um grande número de portugueses desempregados, segundo, continuo a valorizar a simbologia Natalícia que se destaca pela simplicidade e pelo prazer de estar junto de quem me é importante.
A riqueza não está no dinheiro, ainda que tenha consciência que é difícil viver sem ele, ou com pouco. Mas como disse em tempos, sou formada com a nota de 20 valores em gestão de recursos financeiros super apertados, pela Universidade mais exigente deste mundo, que é a vida.
A riqueza reside nas nossas atitudes generosas para com o nosso semelhante.
A riqueza é a união e a fraternidade entre todos nós. A entreajuda, aquela frase maravilhosa, simples e cheia de significado: “Um por todos e todos por um”, mas, praticando-a todos os dias das nossas vidas e não apenas agora, porque é tempo de Natal.
É tempo de mudar mentalidades, é tempo de darmos oportunidades uns aos outros e é tempo de saber escutar os outros, com atenção, sem pressas.
Aproveitem da melhor forma este período. Sejam felizes e levem a felicidade a todos os que vos rodeiam. Às vezes, basta um lindo sorriso, um abraço caloroso. Nós somos movidos por afetos, é ou não verdade?
Desejo-vos o melhor Natal deste mundo na simplicidade de vossos lares e, não se esqueçam, não deixem escapar a oportunidade de fazer o bem aos outros.
Podemos ser muito ricos em bens materiais, mas seremos milionários se espalharmos pelos outros a nossa ajuda e darmos um pedaço do muito que tivermos. Seja em atenção ou em bens materiais. É tão bom ser solidário!
O meu pedido, neste Natal, como em todos os outros, é que Deus abençoe todas as crianças na terra, com a Sua proteção, com alimentos e muita saúde e que devolva a saúde a tantas pessoas que se encontram internadas em hospitais. Peço a Deus que ilumine as mentes e os corações com mais humanidade e amor pelo próximo daqueles que detêm o poder de mudar para melhor a vida de todos os seres humanos.
Feliz Natal para todos!