OPINIÃO: Os Brinquedos

Lembram-se que tipo de brinquedos recebiam, pais, quando tinham a idade de vossos filhos?

Eu lembro-me perfeitamente, não os tinha, porque o dinheiro não abundava, mas a imaginação e criatividade, essas sobejavam e, por isso, com simples galhos de arbustos, papel e fio se construía um papagaio; com pedaços de pano, fios de lã e botões costuravam-se lindas bonecas de pano. O avô, com um pedaço de madeira, bem trabalhado, fabricava um pião e com um cordel, ensinava-nos a lançá-lo ao chão. Com uma simples corda, deliciávamo-nos a saltar, horas a fio, a brincar ao esconde-esconde…

Que saudades eu tenho desse tempo!

Misturando ingredientes como: farinha, água, açafrão, nas quantidades certas, construíamos bonecos em miniatura, com a ajuda dos avós ou pais. As crianças desenvolviam as suas capacidades de criatividade, raciocínio e imaginação, usando materiais do dia a dia, na construção dos seus próprios brinquedos, e isso gerava satisfação, porque havíamos feito algo com as nossas mãos. Lembram-se do carrinho de rolamentos? E do arco?

Aquele tempo era mágico! E nós, crianças felizes com o pouco que tínhamos, mas, que nos dava um prazer enorme. Quando a noite chegava, já ansiávamos pelo dia seguinte, para dar continuidade às nossas deliciosas brincadeiras.

Um dia, o pai chegou a casa com um triciclo vermelho, para que seis crianças pudessem brincar – enquanto escrevo esta simples frase, não consigo evitar de rir muito. Sabem, com toda a certeza, o que uma criança sente perante este cenário! Correm todas para o objeto, na tentativa de ver quem vai ser o primeiro a andar numa “coisa” daquelas. Foi lindo!

Muito nos divertimos naquele triciclo! O “coitado”, às vezes, fazia o transporte de três crianças em simultâneo, o condutor, esse, via-se aflito com a sobrecarga, mas era fantástico e divertido. Havia uma grande interação social, o saber partilhar, gerir o tempo, gerir conflitos. Brinquedos tão simples, mas tão educativos, tão marcantes.

Hoje em dia, o que as crianças mais desejam é carregar em botões de video games, computadores, tablets, consolas, joysticks e por aí fora.

Muitos especialistas são a favor, desde que supervisionados pelos pais e nunca excedendo um determinado tempo, porque certos jogos ajudam na concentração e raciocínio lógico, não sendo, contudo, a favor de jogos de violência, pelas consequências que daí advêm e que todos nós já sabemos quais são.

Este tipo de “brinquedos eletrónicos”, quando não são bem geridos pelos pais, sabemos que levam ao sedentarismo e consequente obesidade, bem como ao isolamento social, permitindo, às vezes, relações internautas perniciosas e que nós, pais, nem sempre, podemos estar a controlar a situação, porque temos que cumprir horários laborais e os nossos filhos, por seu lado, escondem, porque “acham” que aquele é o seu mundo e que nós não devemos interferir e, nestes momentos, nada melhor que usarmos da autoridade de sermos pais.

Os brinquedos analógicos e didáticos deviam ser uma primeira escolha dos pais para os seus filhos e adequados às suas idades. Bonecos feitos em materiais inofensivos para o uso da criança, que, normalmente, leva tudo à boca e, de preferência, que aqueles não sejam eletrónicos, para que, quando os pais estiverem a brincar com os seus filhos, possam construir diálogos, desenvolvendo o vocabulário da sua criança. Jogos com cubos, que, devidamente encaixados, fazem aparecer, como que por magia, animais, paisagens… oferecer livros para pintar, ou para ler, é maravilhoso.

Lembro-me de oferecer ao meu filho placas de borracha com determinados formatos, para que ele descobrisse como encaixar de forma correta os objetos, que iam desde figuras geométricas, passando por letras ou números. Os lápis de cores; a plasticina para a construção do que a sua imaginação quisesse, o descobrir do nome das cores e distingui-las umas das outras, jogos como a caça ao tesouro, o monopólio, entre outros. Os livros, primeiramente lidos por mim, mais tarde por ele. Tudo isso contribuiu para o seu bom desenvolvimento cognitivo e que o ajudou a interagir com as crianças da sua idade.

Entramos na época natalícia, em que, praticamente, todas as crianças, desejam receber um presente do Pai Natal. É maravilhoso enquanto elas pensam que o Pai Natal existe de facto. Vermos o brilho nos olhos dos nossos filhos, pela manhã, e a corrida para a Árvore de Natal para descobrirem qual é o seu presente é simplesmente inesquecível! O sorriso aberto de satisfação porque o Pai Natal deu exatamente o que ele mais queria ter. Uau! Fantástico! Ver os nossos filhos satisfeitos é uma realização muito grande para nós, pais, que hoje, com muito ou pouco sacrifício, lá lhes vamos dando o que eles ambicionam ter.

Cuidado, contudo, para que não deem a mais, porque isso não é bom para eles.

Tudo com conta e medida para que o equilíbrio seja sempre mantido pela vida fora de vossos filhos. Só dessa forma eles darão valor a tudo o que a vida lhes puder dar.

Sejam felizes, façam os vossos filhos felizes, mas com muito amor e não com excesso de “coisas” e eduquem-nos no sentido de dar os brinquedos que já não se adequem às suas idades a outras crianças.

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