Não foi ao acaso que tomei a decisão de me abster de escrever e publicar sobre este tema antes das eleições directas do PSD.
Não me pareceu nem justo nem correcto utilizar os jornais onde sou “Opinion Maker” para defender X ou Y candidato e influenciar o leitor nessa opinião.
Ainda que, naturalmente, preferisse um candidato a outro, a verdade é que nenhum deles me “enchia” as medidas, daí não ter sequer tido uma participação activa neste processo.
A minha preferência residia em Pedro Santana Lopes, pelo trabalho que desenvolveu na Câmara Municipal de Lisboa, por nunca abandonar o partido em nenhum momento e também por numa eleição a dois anos dar continuidade ao projecto do PSD com as pessoas que ajudaram o partido a vencer as últimas legislativas.
O grande ponto a seu favor é que não cede à geringonça de esquerda e coloca o PSD sempre como oposição reformista e eu concordo claramente com esta opção.
Não creio que pactos de regime com o PS seja o que melhor sirva o país…
Devo dizer que gosto igualmente de Rui Rio, foi um grande Presidente de Câmara e esta ideia caricata de ser o homem com a folha de Excel na mão, exigente e rígido é o que este país precisa para andar para a frente e sei que tem uma imagem extremamente forte junto da sociedade civil por isto mesmo, ou poderá construir essa mesma imagem nesta linha que foi erroneamente criticada, a meu ver, pelos seus opositores.
A credibilidade que a rigidez imputa a X ou Y pessoa que vai gerir o que é de todos só pode ser uma boa característica…
Escolhi, assim, observar, ao invés de ter uma participação activa pelos motivos que apresento o Carnaval Político que revestiu estas eleições que envolveram inclusive aqueles que nada têm que ver com este processo interno do PSD, mas que não hesitaram em opinar na imprensa e eu acho que bem até.
Estes momentos são sempre bons para perceber o que move este e aquele jornalista ou demais pessoas com caneta na nossa praça pública…
O PSD é um partido decisor em eleições, portanto, é natural, normal e essencial que a sociedade civil se envolva nesta discussão interna, ainda que, na realidade, os que vimos envolver-se na discussão pública são os que estão a reboque de interesses de distintos grupos sócio-políticos, portanto, falar em sociedade civil é ser politicamente “correcta”.
Estas eleições ficam marcadas, a meu ver, pela negativa: não vimos serem debatidas reformas estruturais na educação, na saúde, nas políticas de emprego, não vimos, no fundo, ser discutido aquilo que verdadeiramente interessa aos Portugueses.
Necessitamos reformas que melhorem a nossa qualidade de vida. Esse é o debate sério que o país quer assistir e que, acima de tudo, quer ver edificado. É este o debate que nos pode dar esperança em termos melhores dias e que nos aproxima a todos da política e da sua reflexão…
Ao invés, assistimos a um debate vazio em ideias, cheio de chavões em todas as frentes e ataques pouco elaborados, com base no óbvio, ficando bem aquém das notas humorísticas entre António Costa e António José Seguro que, seguramente, em termos de audiência política na sociedade civil saíram vencedores quando se defrontaram.
O outro grande ponto negativo começa no princípio, a ausência de um candidato na faixa etária dos 40 anos de idade, a meio da vida que sirva de ponte das distintas gerações não deixando de apreciar a experiência dos intervenientes na faixa dos 60 anos de idade.
Uma sociedade forte constrói-se com as várias gerações, no entanto, é essencial ver força, aliada a experiência e juventude nos nossos líderes políticos, como podemos ver com apreço no primeiro-ministro do Canadá, no Presidente da França ou no mais provável futuro primeiro-ministro Espanhol, Albert Rivera, líder de Ciudadanos.
A renovação da classe política tem, em si mesma, a renovação de ideias, uma proximidade transversal às faixas etárias do eleitorado, uma proximidade aos problemas da gerações do presente, mas também do futuro.
E a verdade é que o PSD tem bons activos nessa faixa etária como José Eduardo Martins, Carlos Moedas, entre outros…
Gente que tem um percurso dentro da realidade que só é possível quando se trabalha fora da política… que é o que todos gostamos de ver.
Muito se falou e se disse, mas a verdade é que aquilo que pode arruinar PSD nas urnas, fazendo a comparação ao fenómeno PASOK na Grécia, é a falta de renovação da classe política…
Não faltam bons activos no PSD do futuro. Caberá a Rui Rio a astúcia de se rodear destes distintos intervenientes mais jovens para levar o partido a bom Porto e, tal como disse no seu discurso de vitória, este não é um partido de amigos, por isso mesmo, esperemos que resista à purga de que tanto se fala e é tão mal vista pela sociedade civil.
Um partido desta dimensão só é forte se souber ser superior àquilo que afasta os seus intervenientes, superior aos grupos ou caciquismos de poder, um partido que sabe aproximar-se no seio das diferenças, sobretudo agora que é o maior partido da oposição…
Por essa razão, a questão da manutenção de Hugo Soares, que apoiou Santana Lopes na bancada, é péssima e vista, seguramente, com maus olhos pela sociedade civil.
É que são estas coisas que nos afastam a todos da política, que nos faz criticar severamente os seus intervenientes e dizer frases feitas como: “Zangam-se as comadres”, ou “lá vai o homem limpar a bancada para colocar lá os «seus homens»”. Nós que votamos não gostamos disto.
Hugo Soares, apesar de ainda ser bastante jovem, tem demonstrado ser um excelente líder de bancada, cáustico e rígido na oposição.
Se penso que deve ainda assim colocar o seu lugar à disposição ou dialogar com o novo líder sobre isso é óbvio que sim, mas ver abandonar a bancada por ter pertencido ao clube “de amigos” oposto ao do líder eleito não me parece uma boa opção.
Afinal, todas estas pessoas estão sentadas no mesmo sítio e vestem todas a mesma camisola.
Estas coisas simples são aquilo que nos afastam e nos fazem pensar a política como um local non grato…
Não sei como será o futuro do PSD, mas agora que o novo líder pode fazer tudo na estrutura que vai edificar, espero, sinceramente, que preencha o seu Excel com células diversas, mostrando que o bom senso é de facto uma característica sua e não apenas política…
Esta autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico.