Tudo tem um fim. Os risos e sorrisos do passado são a tristeza que ecoa no presente.
E é com tristeza que o mundo do futebol ficou a saber que Ronaldinho Gaúcho, o craque
brasileiro que inspirou milhões de adeptos de futebol com o seu estilo alegre e as suas fintas desconcertantemente geniais, decidiu pendurar as chuteiras.
Podia tratar-se de mais um entre os milhares de jogadores que decidem que o futebol dentro das quatro linhas já não é para eles. Podia ser. Mas não é.
Para lá do histórico impressionante de títulos e feitos individuais e coletivos que foi conquistando ao longo da sua carreira, Ronaldinho Gaúcho nunca foi um jogador como os outros. Não só porque tinha muito mais talento (inventando fintas mágicas que ninguém imaginava possíveis e que muitos replicaram depois), mas especialmente porque tinha uma forma única de encarar o futebol. Não era só pelo que fazia (dentro de campo), mas pelo que nos fazia sentir (dentro de nós).
Num mundo onde todos encaravam (e encaram) o futebol (e tantas outras áreas) como uma guerra de tudo-ou-nada, onde é preciso vencer a todo o custo, Ronaldinho mostrou a milhões de pessoas que era possível ser o melhor e ganhar… com um sorriso na cara. Sem inimigos. Sem maldade. Sem espezinhar ninguém. Sem menosprezar ninguém. Apenas com samba no coração, um sorriso na cara e uma bola no pé.
Ronaldinho Gaúcho não foi apenas um jogador que marcou o PSG, o FC Barcelona ou uma geração. Ele contagiou um desporto inteiro com a felicidade genuína com que jogava. Numa altura em que Cristiano Ronaldo era um projeto e Messi um miúdo, foi Ronaldinho a mostrar a alegria do futebol a milhões de pessoas. Ele – que disputava finais da Liga dos Campeões com o entusiasmo, a alegria e a diversão com que um miúdo joga no recreio da escola ou na rua – mostrou-nos que o futebol é, acima de tudo, um jogo para ser sentido e vivido e não apenas para ser ganho a qualquer custo.
O seu sorriso contagiante esteve presente em todos os momentos – não apenas quando venceu o Campeonato, a Liga dos Campeões, o Mundial ou a Bola de Ouro; o sorriso esteve lá enquanto ele ia ganhando. Mais do que tudo, ver Ronaldinho jogar deixava as pessoas divertidas e felizes.
Essa alegria contagiante com que vivia cada jogo, granjeou-lhe o respeito de todos, até dos adversários. Ronaldinho foi inclusivamente capaz de conquistar os corações dos adeptos do maior rival, o Real Madrid, que, em pleno Santiago Bernabéu e num dos momentos mais marcantes da história do desporto, o ovacionaram com uma estrondosa salva de palmas… isto depois de Ronaldinho ter “destruído” por completo a defesa madrilena e marcado dois golos do outro mundo…!
Ronaldinho foi a tradução perfeita daquilo que o futebol deveria ser: alegria, talento, técnica e companheirismo. Criatividade sobre o calculismo.
Vamos sentir a falta do “joga-bonito”, das suas reviengas e das suas vírgulas. Dos seus passes sem olhar e dos seus passes com as costas (!). Dos seus livres por cima da barreira, por baixo da barreira e a contornar a barreira. Dos ‘túneis’ e dos pontapés-de-bicicleta. Da mistura – como nunca mais se viu – de talento puro com alegria de um praticante de samba.
Mas, acima de tudo, sentiremos falta daquele sorriso de alegria genuína.
O futebol fica mais tristonho. Mas fica a lição: com um sorriso na cara, tudo é possível.