Nos dias que correm, a falta de civismo é gritante e está a tornar-se intolerável.
Quando me desloco pelas ruas da cidade, vou sempre com muito cuidado, olhando para os passeios, com receio de ficar com os sapatos sujos, não só pelos excrementos de animais, como pelas cuspidelas das pessoas, tanto homens como mulheres, que têm por mau hábito, não usarem os lenços de papel e fazerem dos passeios públicos um depósito das suas excreções, sem esquecer a falta de decoro e higiene de muitos homens, que fazem dos recantos das ruas das cidades os seus urinóis.
Infelizmente, devido a estes hábitos de falta de higiene e educação, já fui alvo desta falta de civismo. Uma das vezes, quase me cuspiram para cima e tratava-se de uma pessoa idosa. Perguntei-lhe se ela se tinha esquecido das multas a que as pessoas estavam sujeitas, se tivessem este tipo de comportamento no tempo de Salazar? Era uma mulher idosa, que se lembrava muito bem e pediu-me desculpa.
Numa outra ocasião, cuspiram para cima da minha carteira, só me apercebi muito depois quando cheguei a um estabelecimento e vi aquela nódoa vergonhosa e imunda.
Já estive, por algumas vezes, sujeita a ser queimada pelos cigarros que as pessoas lançam para a via pública, sem sequer terem o cuidado de ver se alguém vai a passar, quando cometem estes atentados contra a saúde pública e a integridade física das outras pessoas.
Outra atitude reprovável é atirarem para as ruas os pacotes e embalagens de comida, adquirida em lojas de comida rápida, depois de a ingerirem nas suas viaturas e, em vez de levarem para casa os recipientes para serem reciclados, atiram-nos janela fora para as bermas dos passeios, sem qualquer tipo de consciência do mal que estão a fazer.
Os passeios das cidades até podem ter papeleiras para que as pessoas colaborem e, em vez de atirarem para o chão pontas de cigarros, papeis, embalagens, usem os cestos que estão estrategicamente colocados ao longo dos passeios, mas a maior parte das pessoas teima em não vê-los e muitos até são destruídos e arrancados pelas pessoas sem civismo e respeito pela ordem e limpeza pública.
Os passeios são varridos todos os dias pela manhã por pessoal que pertence a empresas de limpeza, contratados pelas câmaras locais. Momentos depois, já estão de novo sujos, pela falta de higiene da maioria das pessoas que se esquecem que pagam esses serviços na fatura da água, bem como a recolha de lixo doméstico.
São muitas as vezes que me lembro dos hábitos das pessoas dos séculos passados, em que atiravam para as ruas a urina e as fezes, bem como, lixo doméstico, e que depois acabavam por andar por cima da porcaria, muitas de pés descalços e, sem esquecer o cheiro nauseabundo que esses maus hábitos provocavam, e, assim, se propagavam epidemias e doenças que ceifavam a vida a pessoas ainda muito jovens.
Mudam-se os tempos e deveriam mudar também as atitudes de falta de higiene, mas tal não se verifica. Hoje em dia, não atiram com o conteúdo de baldes cheios de excrementos porque há o saneamento público, mas ficaram reminiscências de maus hábitos antigos.
Caminhar por um passeio e, de repente, ouvir o ruído produzido por alguém que está prestes a expelir para a via pública uma excreção, é algo que me enoja e faz o meu estômago dar voltas de repulsa.
Será que estas pessoas não se dão conta do quão lamentáveis e vergonhosas são as suas atitudes e a falta de respeito que representam para com os outros?
As pastilhas elásticas, em vez de serem guardadas em papel para depois serem depositadas no lixo doméstico, são expelidas para os passeios pelos seus consumidores, sem o mínimo de decoro e respeito pelos outros.
Carros estacionados em cima dos passeios, obrigando as pessoas que circulam a pé, descerem para a rua, sujeitando-as a serem atropeladas, é outra falta de civismo.
Usar os passeios como ponto de encontro e conversa, é outra falta de civismo, porque impede o livre fluxo de pessoas, forçando-as a descer para a rua sujeitando estas últimas a serem atropeladas.
Sair de estabelecimentos sem ter o cuidado de ver se alguém vai a passar já tem ocasionado queda de pessoas que, naquele momento, circulavam e colidiram com as primeiras, porque não houve a atenção que deveria existir.
As placas de sinalização também são alvos da falta de vergonha de muitas pessoas que gostam de as pintar ou arrancar, dificultando a boa circulação rodoviária.
As paredes das casas, de quando em vez, aparecem riscadas, porque alguém se lembrou de deixar ali uma série de letras que ninguém entende o seu sentido.
Às vezes, pergunto-me se estas pessoas têm estas atitudes dentro dos seus lares e se as têm, se deixam que crianças as observem. Todos sabemos, que para aquelas, nós somos modelos e, se cometermos faltas de higiene e civismo, elas vão pensar que é assim que terão de agir no seu dia a dia. Estaremos a contribuir não para uma sociedade que se quer ordeira e cívica, mas para uma comunidade permeável a todo o tipo de atitudes condenáveis e que desencadearão consequências graves para a saúde pública e ambiental.
São estas más atitudes, que todas somadas, são feias de ver, são dolorosas, porque inadmissíveis e fazem-me sentir vergonha de pertencer a uma sociedade assim, onde as pessoas agem sem pensarem nas consequências dos seus atos e no quanto estes comprometem a ordem e o bem-estar público.
Na minha opinião, todas estas faltas de civismo deveriam ser penalizadas com multas pesadas para que as pessoas se apercebessem do mal-estar que provocam dentro da comunidade em que estão inseridas.
É urgente mudarmos comportamentos. É urgente termos mais respeito e consideração por todos quantos nos rodeiam. É urgente deixarmos de ser egoístas e contribuirmos para uma sociedade mais cívica.