Nem só de pão vive o Homem – já dizia a Bíblia. Mas hoje é o pão, no seu sentido simbólico como na Bíblia, que é responsável por uma parte significativa da morte de muitos portugueses.
Sal e Açúcar
No país do Pudim de Abade de Priscos, do Salpicão Transmontano ou do Bacalhau Salgado da Nazaré, há também uma enormidade de produtos embalados, numa grande maioria até aparentemente doces, que, na realidade, misturam tanto o açúcar como o sal para a verdadeira explosão gustativa.
Pela boca morre o peixe e Portugal é um caso muito expressivo dessa vox populi. De acordo com o Programa Nacional para a Diabetes 2017, estima-se que 13,3% da população portuguesa entre os 20 e os 79 anos padeça de Diabetes. Dois milhões de portugueses sofrem de hiperglicemias (valores de açúcar no sangue) tardias ou “pré-diabetes” – facto que empurra e empurrará o número de portugueses diabéticos para uma situação mais grave que a atual.
Assustadoramente, Portugal é o país de toda a Europa com a mais alta taxa de prevalência desta doença dos “açúcares a mais”.
A Diabetes não é só um problema de saúde, mas também um problema de finanças. Num país com tolhimentos financeiros desde há vários anos, como o nosso, termos a mais alta taxa de prevalência da Europa de diabetes significa agravamento da despesa do Estado. Dez porcento é a percentagem de toda a despesa para a saúde que serve apenas para o tratamento e resolução das complicações da Diabetes.
Com este meu timbre, talvez sugira, como fiz no caso do tabaco, uma postura mais repressora sobre a liberdade de consumo dos cidadãos em Portugal. Provavelmente, é exatamente a isso que corresponde. E com legitimidade. Ainda que eu saiba que quem não sabe é como quem não vê, há em Portugal uma teimosa estupidez de reiterar comportamentos cujos resultados estão mais que declarados.
E nisto me perco sobre se falta aos Portugueses maior consciência óbvia sobre os resultados do consumo excessivo de sal e açúcar ou é mesmo necessário uma ditadura alimentar para que se consiga travar um dos pilares dos maiores paradoxos da História do Homem que é da morte humana provocada pelo frenético consumo alimentar desequilibrado, em contraponto com as subnutrições fatais da África subsariana.
Por fim, partilho o regozijo com que o Partido Socialista tem vontade e tem conseguido estar à frente do seu tempo. A proposta do imposto sobre bebidas açucaradas arrecadou não só a tributação para, entre outras coisas, colmatarmos a despesa que falei antes, como verdadeiramente conseguiu provocar a redução do consumo das mesmas e, melhor que isso, provocou a redução dos valores de açúcar dos alimentos por parte dos produtores.
Outro paradoxo hiperbólico da História da Humanidade dos dias de hoje é precisamente a hipertensão arterial. Estima-se que em Portugal um em cada três cidadãos seja hipertenso e a base desta epidemiologia é precisamente o consumo excessivo de sal.
O PS apresentou no final de 2017 uma proposta contemporânea e a incluir no Orçamento de Estado que visava, assim como no açúcar, criar uma tributação sobre os produtos com excesso de sal. O estranho é que, mesmo depois da boa experiência açucarada, esta proposta não contou com o apoio das outras fatias parlamentares, com justificações e derivas muito pouco fundamentadas.
Resta-me a esperança reflexiva do Pe. António Vieira quando recitava que ou é o sal que não salga ou a terra que não se deixa salgar.