OPINIÃO: Infâncias interrompidas

Porque é que há tantas crianças institucionalizadas no nosso país? Com que direito se interrompe a alegria da infância a tantas crianças? Como é que existem pessoas que são da opinião que, mais vale uma boa instituição do que uma má família, depois de sabermos que em muitas destas instituições abusaram da integridade física de muitas crianças?

Nada substituirá a família biológica, por muitas dificuldades que possam existir e, se estas existem, deve-se ao facto da falta de emprego e consequente degradação social. Ao invés de retirarem as crianças à sua família de origem, porque não ajudá-las a adquirirem a dignidade e direito de poderem educar condignamente os seus filhos?

O dinheiro que dão a essas instituições distribuam-no pelas famílias classificadas de problemáticas e proporcionem-lhes apoio psicológico e social e acompanhamento adequado a estas crianças, mas separá-las dos pais e irmãos, na minha opinião, é doloroso demais e disso eu tenho a certeza absoluta. Faço apenas uma ressalva, no caso de atentado à vida destas crianças, contudo, há sempre familiares próximos – avós, tios, padrinhos – que poderão, em casos extremos, assegurarem, não só a estabilidade emocional das crianças, bem como a sua integridade física e mantê-las no seio familiar.

Famílias adotivas também não substituem os cheiros, os hábitos, o lar onde nasceram, a mãe, o pai e os irmãos. Nenhuma criança esquecerá as suas origens, por muito más que elas possam ter sido, porque são as suas referências, o seu ponto de partida, o seu núcleo.

Quando retiramos de um vaso pequeno uma planta com a intenção de que ela possa crescer com melhores condições num vaso maior, o que acontece, a maioria das vezes, é que ela acaba por não se adaptar à mudança e morre. Há um tempo certo para tudo!

Retirar a criança do seu ambiente familiar não é sensato, porque provoca dor, tristeza e solidão. Já pensaram nas consequências? Sugiro que se ponham no lugar destas crianças e sintam, se forem suficientemente capazes, a dor que o desenraizamento provoca. É imensa a dor!

As crianças amam os seus progenitores e têm a capacidade de esquecer, perdoar e ultrapassar, porque o amor pelas suas origens é maior que tudo.

Quando afastadas dos seus familiares, assim que puderem, não tenham dúvidas que a primeira atitude que tomarão é procurarem as suas raízes.

Ajudarão os seus familiares nas suas dificuldades, sem hesitações e nos momentos mais imperiosos, quando os filhos se transformam em pais dos seus pais, porque a saúde destes últimos já não é a mesma, e torna-se premente a intervenção dos filhos.

Há uns anos atrás, as famílias grandes eram numerosas no nosso país. Passava-se fome e frio, porque o dinheiro nunca abundou nestas famílias e as casas eram pequenas, sem saneamento básico, nem água canalizada havia e, muito menos, conforto, muitas famílias viviam em barracas com um rancho de filhos. Contudo, a união e amor eram grandes. Se alguém dissesse a uma criança se queria ir para outro lar, a resposta era o choro e agarrar a saia da mãe e nem sequer isso passava pela cabeça de alguém. Era um facto muitas destas crianças começarem a trabalhar cedo, aos dez, doze anos, ainda que fosse a coberto das autoridades, mas a separação das crianças das suas famílias era impensável.

Não ceifem a alegria a nenhuma criança, por favor. A felicidade maior delas é tão simples, ficar junto dos seus familiares.

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