Com a chegada da Troika a Portugal e com um novo governo, vimos desaparecer o Ministério da Cultura.
Na época, a justificação foi a crise financeira e a possibilidade de incorporação da cultura junto de outras pastas porque era considerada, pelos governantes daquele tempo, como sendo transversal.
Numa empresa, quando chegam tempos de sufoco financeiro, a primeira coisa que se descarta são os gastos não prioritários, sendo que isso culmina sempre com redução de pessoal.
As pessoas deixam de ser prioritárias perante a força dos números.
Não é difícil todos percebermos que a cultura é um pilar social, mas também económico.
Os nossos artistas são os nossos embaixadores pelo mundo todo, são, em si mesmos, a boca de um povo, através dos movimentos da dança, das palavras no teatro, são as nossas cores e as nossas histórias reflectidas nas telas de cinema e a nossa personalidade através da música.
São eles que transmitem as nossas ânsias, as nossas dificuldades, as nossas alegrias, as nossas reflexões e introspecções, num mundo cada vez mais palpável e pequeno, através da viagem universal que as novas tecnologias nos permitem fazer em milésimas de segundo a todo o globo.
A Cultura é o retrato mais fiel do ADN de um povo, é o nosso património imaterial. É, portanto, um pilar do Estado Social, sendo que é o principal atractivo para todos aqueles que visitam a nossa Pátria, influindo, positivamente, nos tão importantes números e devidos lucros.
Felizmente, o Ministério da Cultura regressou, e bem, com o actual governo, no entanto, o orçamento de Estado voltou a deixar a desejar, contemplando apenas 1% do nosso PIB, sendo que, nesta última semana, estalou o vidro, uma vez que inúmeras entidades não vão ser abrangidas pelos apoios às artes.
Ao não serem abrangidas, milhares de artistas ficam com as contas penduradas, porque todos sabemos que ninguém vive de ar e vento.
Fiz uma pesquisa rápida nas redes sociais dos artistas que fui conhecendo ao longo da minha vida e apercebi-me que não existe um único que não tenha partilhado a revolta perante o corte da torneira ou a inexistência de apoios às artes…
Muitos dirão porque não vão eles trabalhar? Porque os nossos artistas já têm um trabalho.
A arte é o seu trabalho e merece respeito, bem como, investimento.
Ninguém vive apenas de aplausos quando a cortina cai, ou com uma pancadinha nas costas.
As contas são certas e chegam todos os meses para todos nós.
A arte é um trabalho nobre, como qualquer outro, que implica uma fórmula química extremamente exigente: uma mistura de estudo, inspiração, talento e dom, que é coisa que, felizmente, a maioria dos trabalhos não exigem, doutra forma a maioria da população estaria, provavelmente, limitada…
Aguardemos que a cultura, que é o ADN do nosso povo, não fique presa a um orçamento quase abaixo de zero.
Esta autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico.
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