Tratava-se de um duelo directo pela permanência, a contar para a jornada 32 da Liga NOS e gerando o interesse presencial de mais de 2700 espectadores. Ambas as equipas vinham de derrotas na ronda anterior, não obstante o Aves ter vencido no mais recente jogo em sua casa e o Estoril na última deslocação.
Penúltimo e último classificados – separados por apenas dois pontos – partiam para esta batalha sem peças importantes: os primeiros sem o internacional Paulo Machado e o ex-FCP Sami, enquanto os visitantes – entre outros – sem o experiente Gonçalo Brandão, o ala Victor Andrade e o artilheiro Kléber.
Os visitantes entraram melhor e rapidamente tomaram a iniciativa do jogo, controlando totalmente a posse da bola. Apesar de segurar a “lanterna vermelha” do campeonato, a turma que se deslocou de Cascais parecia mais tranquila em campo.
O Aves só de bola parada criava relativo perigo para a área estorilista, nomeadamente, através do pé esquerdo de Nildo.
Também do lado contrário se aproveitava os lances de “laboratório”. Primeiro foi Allano a levar a bola ao poste, após um livre de Pedro Rodrigues e um primeiro desvio de Dankler; depois Bruno Gomes e Halliche cabecearam para uma dupla defesa de Adriano. Entre os postes, o brasileiro é quase imbatível, graças à sua elasticidade e reflexos apurados.
O Estoril ainda conseguiu, por alguns minutos, retomar o controlo do ritmo de jogo. Com Lucas Evangelista individualmente menos inspirado, era Pedro Rodrigues que se destacava, pela forma como recuava para construir o ataque posicional visitante.
Numa dessas jogadas, Ewandro beneficiou de um “buraco” na esquerda da defensiva avense e rompeu, de fora para dentro, cruzando rasteiro para o desvio de Bruno Gomes, que saiu a rasar o poste esquerdo da baliza de Adriano.
Entretanto, o jogo como que se “parte” em constantes transições, de parte a parte. A equipa da casa foi a primeira a estar próxima do golo nesse período, com um cruzamento aparentemente inofensivo a ser mal aliviado por Renan, que deixou a baliza deserta e só não viu o Nildo a aproveitar para marcar porque Dankler se havia posicionado em cima da linha de golo e cortou o lance. Era apenas mais um exemplo da assertividade do central brasileiro durante o jogo, sendo insuperável em todos os duelos, inclusivamente em velocidade.
Na resposta, um grande lançamento em profundidade de Allano isolou Bruno Gomes que, em velocidade, progrediu do meio-campo até à área do Aves, com Adriano a não
sair da baliza para encurtar o ângulo, mas os centrais Galo e Ponck recuperaram a frente do lance e o máximo que o avançado conseguiu foi conquistar um pontapé de canto.
Desta dupla defensiva, Carlos Ponck foi o elemento em maior evidência, ganhando fisicamente todos os lances que disputou e sendo o maior responsável pela inviolabilidade da sua baliza.
O treinador Ivo Vieira, percebendo que só a finalização impedia a sua equipa de estar em vantagem, substituiu Bruno Gomes por André Claro. A mobilidade e velocidade do avançado português pareciam, de facto, mais adequadas às contingências do jogo.
Mas, mais do que esta alteração, foi a troca de flanco entre Allano e Ewandro que se revelaria verdadeiramente infeliz, com o primeiro a não conseguir ultrapassar Rodrigo – esteve intratável defensiva e ofensivamente, na segunda parte – uma única vez.
Por esta altura, o jogo passava cada vez menos por Lucas e Pepê estava mais errático, perdendo algumas vezes a posse de bola.
O jogo atravessava um período algo “morno” e incaracterístico, com ambos os treinadores a introduzirem mudanças nas suas equipas.
José Mota seria o mais perspicaz e feliz neste particular, retirando as unidades de menor rendimento – Braga e Guedes – e fazendo entrar Luis Fariña e Arango. A profundidade qualitativa deste plantel do Desportivo das Aves é, de facto, impressionante.
No Estoril, Eduardo entraria bem em jogo, mas isso implicou a saída de Lucas Evangelista, o elemento mais capaz de produzir desequilíbrios na criação ofensiva canarinha.
Tudo somado foi inclinando o jogo para a área estorilista, com a explosividade de Amilton e a objectividade de Nildo a abrirem brechas na defesa do emblema da Linha.
Quando Derley já se preparava para entrar em campo, Vítor Gomes tirou um cruzamento teleguiado que encontrou Nildo no coração da área e este, sem marcação, domina de pé direito e com o canhoto faz um “passe” colocado junto ao poste direito da baliza estorilista.
Tem sido uma fantástica temporada para Nildo Petrolina, que aos 32 anos, atingiu o auge da sua maturação futebolística, nomeadamente ao nível da influência e da qualidade na tomada de decisão.
O Estoril, “mais com o coração do que com a cabeça”, procurou acercar-se da área dos visitados na etapa final da partida, mas estes – já com Falcão ao lado do super-experiente Tissone – fecharam todos os caminhos para a baliza de Adriano Facchini.
No final, foi a equipa da casa a festejar um triunfo que poderá ser decisivo na luta pela manutenção, revelando maior frieza e consistência.
O Estoril demonstrou – mais uma vez – que o último lugar na tabela não ilustra a qualidade da equipa, mas a inconstância exibicional e, sobretudo, anímica que atravessa durante os jogos levou a equipa a esta situação aflitiva.
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.