O Estádios de Alma regressou à Mata Real para a recepção do “aflito” Paços de Ferreira ao Rio Ave, candidato aos lugares de acesso às competições europeias.
Foi bastante significativa a afluência ao Estádio Capital do Móvel, não só pelo clima agradável, mas, sobretudo, pela importância que este jogo tinha para ambas as instituições.
Os pacenses não puderam contar com os lesionados Mário Felgueiras e Quiñones e o castigado Rúben Micael, enquanto os rioavistas se viram privados de Marcão e do influente Francisco Geraldes.
O técnico Miguel Cardoso optou pela titularidade de Pedro Moreira – um elemento com vocação mais defensiva do que o criativo Geraldes e isso reflectiu-se na maior capacidade de recuperação e filtragem do eventual ímpeto inicial da equipa da casa.
Por outro lado, os visitantes exibiram a sua ideia de jogo habitual, dominando o meio-campo com uma grande fluidez na circulação de bola. Faltava, no entanto, maior capacidade de penetração no último terço.
O treinador João Henriques apostava em pressionar o início de construção adversário e na mobilidade do tridente ofensivo com permutas constantes entre os extremos, sendo que o próprio ponta-de-lança caía várias vezes nos flancos, ora para contribuir para triangulações, ora para retirar referências de marcação aos centrais contrários.
Numa ilustração perfeita disso mesmo, os visitados construiriam a primeira jogada perigosa: passe longo de João Góis, com Luiz Phellype a assistir – de peito – Pedrinho, este a soltar em Mabil, que rompeu em aceleração e devolveu ao médio, que rematou ligeiramente por cima da trave.
A partir do quarto de hora de jogo, o meio-campo dos amarelos foi praticamente “engolido” pelo visitante, que melhorou na definição das zonas de pressão, às quais a equipa da casa procurava fugir, abusando do passe longo.
O Rio Ave procurava ser mais objectivo ao visar a baliza do Paços, mas só na sequência de um pontapé de canto o golo esteve à vista: cobrança do especialista João Novais e o capitão Tarantini, beneficiando de um desvio ao primeiro poste, surgiu isolado na cara de Defendi, mas o guardião brasileiro fechou-lhe a porta com uma defesa atenta.
O jogo atravessava um período algo “morno”, até que, aos 36 minutos, João Góis executou rapidamente um lançamento lateral longo que apanhou os caxineiros desprevenidos e desmarcou Luiz Phellype sobre a direita; o brasileiro rematou cruzado, mas Cássio fechou o ângulo e defendeu para canto.
Os anfitriões voltaram dos balneários com uma atitude mais proactiva em relação ao jogo, mais rápidos sobre a bola e tacticamente agressivos sem ela.
Os forasteiros viram-se obrigados a recuar o bloco, aparecendo João Novais mais recuado – maioritariamente no corredor central – procurando transições em condução individual “queima metros”, de forma a dar algum oxigénio à equipa.
Possivelmente na única dessas iniciativas que foi mal sucedida, o médio perde a posse do esférico, imediatamente flanqueado para Xavier, que cruzou na perfeição para Phellype, que fugiu à marcação e cabeceou para dentro da baliza. O lance seria, todavia, anulado por fora-de-jogo, numa decisão confirmada pelo vídeo-árbitro.
O Rio Ave reagiu de imediato, aumentando os índices de agressividade e instalando-se novamente no meio-campo dos castores. Pelé foi particularmente importante nessa reacção, ora filtrando o jogo ofensivo pacense, ora recuando para líbero em início de construção, com os centrais a abrir e permitindo a projecção dos laterais.
Do lado oposto, João Góis e, principalmente, Filipe Ferreira não subiam tanto como de costume, obrigando os extremos a descer mais vezes em apoio e na tentativa de desequilibrar com acelerações.
Numa dessas incursões o australo-africano Mabil aproveitou o espaço concedido e, num lance de contra-ataque, trabalhou sobre Lionn e rematou perto do poste esquerdo da baliza de Cássio.
Já Xavier pesava pouco no jogo, sendo a assistência para o golo anulado e um par de bolas paradas o melhor que se lhe viu na partida. O seu treinador demoraria a mexer no onze, tendo sido o técnico da turma de Vila do Conde o primeiro a arriscar, fazendo entrar o fantasista Óscar Barreto para o lugar Pedro Moreira.
Seria o colombiano, poucos minutos depois, a descobrir a movimentação diagonal de Diego Lopes e a endossar-lhe na perfeição para um falhanço clamoroso do brasileiro, à “boca” da baliza.
O jogo “partia-se” e, em mais um desequilíbrio, Mabil ganhou a linha de fundo e cruzou atrasado para Luiz Phellype, este fez uso de um bom jogo de cintura para trabalhar de costas para a baliza, mas o lance seria aliviado, primeiro, e o remate de recarga enviado redondamente para fora.
A partida estava muito disputada, com boas combinações bem e oportunidades de parte a parte. Só aos 78 minutos João Henriques se decidia a retirar um dos médios mais defensivos – Vasco Rocha –, alargando a frente de ataque com a entrada de Bruno Moreira. O melhor marcador de sempre no clube entrou bem em campo, por pouco não concretizando em golo um cruzamento da esquerda.
A partir daí, os rioavistas conseguiram levar a bola para a sua zona de conforto, ou seja, para o meio-campo adversário, congelando a posse de bola.
Não obstante, a derradeira oportunidade foi para os anfitriões e surgiu na sequência de um pontapé de canto de Mabil a solicitar o cabeceamento de Ricardo, que saiu forte e colocado, apenas travado pela defesa da noite, do ex-pacense Cássio.
O empate final foi festejado por toda a equipa do Rio Ave, porque garantiu matematicamente o quinto lugar, que poderá dar acesso à Liga Europa: foi um prémio merecido para uma equipa com identidade de jogo positiva e inegociável.
O Paços de Ferreira adiou a decisão sobre a permanência no primeiro escalão, mas a exibição que protagonizou abre boas perspectivas para a última jornada da competição.
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.