Antes de começar a escrever a minha opinião desta semana quero fazer uma ressalva a todos os profissionais que, para além da sua competência, conseguem ser afáveis, carinhosos e cuidadosos, no desempenho das suas funções.
São muitos, felizmente, mas poderiam ser todos e assim não é, de facto.
Quando estamos doentes e temos que ser internados, ficamos muito vulneráveis, sentimo-nos preocupados com o que irá acontecer, se teremos capacidades de superar esse momento doloroso, se a saúde voltará à nossa vida, que marcas uma cirurgia deixará, se voltaremos a ser os mesmos.
Estamos entregues a nós mesmos, não temos o conforto da família todo o dia, os cheiros, as cores, os ruídos, as pessoas… tudo é estranho e aumenta os nossos receios e insegurança.
Se somarmos a tudo o que sentimos, uma dose de desumanidade, vinda de equipas de técnicos de saúde e pessoal auxiliar, então, sofreremos muito mais.
Os doentes não têm culpa da insatisfação de muitos profissionais da saúde. Vamos ser impacientes ou antipáticos, para um doente, porque estamos há doze horas a trabalhar? Ou porque as condições de trabalho não são as melhores? Não!
São muitos os doentes a queixarem-se da maneira como são tratados, com pouca atenção, ou com palavras pouco sensíveis, quando estão internados, ou em serviços de urgência.
Ora, os doentes precisam de palavras de carinho, de sorrisos, de alegria, de força para enfrentarem aquele momento cheio de duvidas e medo do que lhes reservará o presente ou mesmo o amanhã.
O Estado não proporciona ao Serviço Nacional de Saúde as condições financeiras necessárias para que sejam admitidos novos profissionais de saúde em todos os hospitais, bem como, equipamento técnico para substituir o antigo e uma série de outras carências, e os salários não são os melhores… entende-se. Mas isso é em todos os sectores da vida económica do país.
Todos os portugueses, excluindo uma minoria de privilegiados, se queixa do mesmo. E isso dá-nos o direito de sermos menos simpáticos para quem dos nossos serviços precisa? Não, com toda a certeza.
Já estive numa cama de hospital por três vezes, não foram experiências boas. A primeira, poderia até ter sido, uma vez que esteve ligada ao nascimento do meu filho, mas foi um desastre na enfermaria pela falta de saber escutar com atenção a parturiente. Não sofri dores durante o parto, mas acabei por tê-las na enfermaria e muitas. As enfermeiras, que tinham como missão socorrer-me, provocaram-me lágrimas de sofrimento.
A sensação que dá é que estão com falta de tempo, o que nem sempre corresponde à verdade.
Das outras duas vezes, os modos duros a falar comigo, e refiro-me, de novo, a pessoal de enfermagem, tiveram como efeito aumentar a minha dor e solidão.
A terceira vez, que não usaram de humanidade, provocaram-me lágrimas de dor e quando reclamei que me sentia menos bem, ouvi uma resposta ríspida e de grande falta de cortesia e a situação de dor e desconforto continuou, enquanto as lágrimas me escorriam pelo rosto.
Quando cheguei ao bloco operatório e viram onde me tinham introduzido um cateter, apenas me disseram que iriam anestesiar-me para que eu não sofresse mais dor.
Isto acontece todos os dias e a todos os instantes nos hospitais, o que, na minha opinião, deveria ser completamente banido, este tipo de atendimento.
É preciso adquirir, para além de competências técnicas, outras, não menos importantes, ligadas à comunicação, como: empatia, assertividade, escuta ativa, usar uma linguagem carinhosa, saber ganhar tempo com cada doente.
Outra falta que o doente sente é a visita com regularidade do seu médico, pelo menos, aquele que lhe foi destinado em contexto hospitalar.
A falta de diálogo é notória dos técnicos de saúde para com os doentes e mesmo para com os seus familiares. Há familiares que têm que deixar de trabalhar, porque o médico não se encontra no serviço durante a hora de visita.
Por outro lado, deve obrigatoriamente haver um tratamento humano e igual para com todos os doentes. Às vezes, basta existir um familiar dentro do hospital – médico, enfermeiro ou auxiliar-, para que determinado doente tenha um atendimento melhorado. Não é justo.
Todos diferentes, mas todos iguais. Todos merecemos ser bem tratados quando mais precisamos.
Haja mais humanidade, para que a recuperação da saúde seja eficaz. Não é só com medicação que se recupera um doente, as palavras de conforto e carinho são fundamentais.