OPINIÃO: Greve do pessoal docente

A despeito das opiniões que o leitor possa ter a propósito da greve dos professores do ensino básico e secundário, gostaria de emitir alguns comentários: Em primeiro lugar, gostaria de dar como enquadramento ao leitor a informação de que sou docente de Físico-Química desde 1992, em Portugal, e, desde 1999, na minha atual escola, tendo sido um professor que não foi penalizado em demasia por deslocações ao longo da sua carreira.

A minha formação inicial, de bacharel em Engenharia Química, foi complementada com uma licenciatura, em 2006, tendo eu sido transportado para o sexto escalão, na altura (em dez possíveis) face ao acréscimo de habilitações literárias.

Nessa altura, havia um congelamento das carreiras, que durou até dezembro de 2007.

Em 2011, os professores foram novamente brindados com novo congelamento de carreiras, que, entretanto, durou até ao final de 2017.

Nesse meio tempo, foram feitas duas reestruturações da carreira docente, uma que, por ter menos escalões, reposicionou-me no terceiro escalão e outra que repôs os dez escalões de carreira, mas que me manteve no terceiro escalão.

E eis-me aqui, professor desde 1992 (em setembro, completo 26 anos de ligação ao Ministério da Educação enquanto professor), e ainda no terceiro escalão (depois de ter estado no sexto).

Pior do que isso, ainda no terceiro escalão, depois de ter procurado dar o meu melhor durante todos os anos, com resultados que refletiram todo o meu empenho.

Claro que permaneço como professor porque gosto da profissão, em especial dos meus alunos. Temo é que a profissão não goste de mim!

O que pensaria o leitor se estivesse no meu lugar?

Claro que eu tenho que “aguentar”, pois preciso do meu salário para por comida na mesa, mas entendo que hajam colegas, que estão em situação ainda pior do que a minha, que não “aguentem” e que desistam da carreira ou que, para não desistir, tentem mostrar os seus pontos de vista através de uma greve, que, imagino, possa incomodar algumas pessoas (não seria greve, caso não incomodasse ninguém).

Reconheço a justiça da greve nas suas motivações, pois também eu sinto a injustiça de ver o meu trabalho não ter sido reconhecido.

Claro que o facto do nosso país estar a passar por uma situação complicada a nível económico é um obstáculo sério para a resolução desta situação, mas também os colegas da Madeira passaram por essa situação e o governo regional, apesar das dívidas, negociou e fez um acordo com os docentes.

Partindo do princípio de que não existem professores de primeira e professores de segunda em Portugal, o mínimo expectável é a existência de negociações com os demais professores com propostas compatíveis.

Refira-se que a greve apenas pede a reposição da normalidade nas carreiras, horários de trabalho adequados, uma aposentação compatível com a profissão de professor (uma das mais exigentes a nível psicológico) e critérios de ingresso na carreira mais justos.

Num país como Portugal, que se assume europeu, é importante que a educação receba atenção prioritária sob pena do país afastar-se cada vez mais do resto da Europa. Para isso, não é necessário gastar dinheiro que o país não possui, mas é preciso que o país valorize os bons profissionais que possui, negociando de forma justa e honesta com eles, sem estratégias de “quero, posso e mando”, que longe de representar os ideais de democracia e de progresso, representam antes ideais de opressão e de descaso.

Já agora, quando virá uma Ordem de Professores que regule a carreira docente, sem estarmos ao sabor de ideologias partidárias?

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