U.Dream quer mostrar por todo o país como é fácil ser feliz

A U.Dream é uma empresa júnior social, criada no Porto, que tem como principal missão realizar sonhos de crianças e jovens que têm alguma doença, acompanhando também as suas famílias. Parte da premissa de que “ser feliz não é assim tão difícil” e é a partir daí que se pode mudar o mundo. O Jornal Referência conversou com o presidente da U.Dream, Bruno Silva.

Da FEP para o país

Em agosto de 2013, a Faculdade de Engenharia do Porto (FEP) via nascer um projeto educativo e social chamado U.Dream pelos olhos de Diogo Cruz – que é agora CEO da U.Dream Portugal.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

O então estudante de Gestão na FEP encontrava-se a passar uma fase menos boa em termos de saúde que teve um grande impacto na sua forma de pensar e de ver o mundo. Diogo achava que seria benéfico se alguém tentasse fazer algo para mudar o panorama negativo que este tipo de situações traz. E o caminho por onde melhor começar e mais impacto ter seria nas crianças.

Diogo conseguiu juntar um grupo de pessoas que acreditava na mesma ideologia que ele e, entre folgas e uma sala e outra, as reuniões eram feitas pelos corredores da FEP, de uma forma “muito informal”, segundo conta o presidente da U.Dream, Bruno Silva. Apesar de ter começado na FEP, a U.Dream não foi reconhecida como organização da faculdade, mas sim da Universidade do Porto.

Realizar os sonhos das crianças e proporcionar-lhes, no fundo, “dias bonitos”, foi a principal missão com que nasceu a U.Dream.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

Bruno explicou ao Jornal Referência que, com o passar do tempo, a U.Dream foi “evoluindo cada vez mais”, passando por uma fase que chamam de “verão azul”: Os recrutamentos que passavam só pela FEP foram alargados às restantes faculdades e houve uma reformulação gráfica e de imagem.

Atualmente, a nível nacional, há cerca de 200 estudantes envolvidos, ligados às mais variadas áreas e presentes no Porto (cerca de 80 membros), Aveiro e Braga. “Nós, muitas vezes, dizemos que a U.Dream só é o que é hoje por todas as pessoas que por cá já passaram, tenham estado meio ano, tenham só ajudado num ou outro projeto”, disse.

Proporcionar “dias bonitos” que se perpetuem

Ao longo da evolução da U.Dream, a missão passou a ser muito mais que “proporcionar dias bonitos”. Atualmente, é feito um acompanhamento mais alargado e personalizado das crianças juntamente com as suas famílias.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

Os membros da U.Dream estão “quase diariamente” presentes no IPO-Porto, no Hospital de Aveiro e no de Braga e também já estiveram na Raríssimas. Lá, conversam com as equipas médicas para saberem quais crianças beneficiariam mais do acompanhamento e quais seriam mais viáveis, em termos geográficos e em relação ao impacto positivo ou negativo na vida da família.

A partir daí, é feito um “acompanhamento ao domicílio” durante três meses, duas vezes por semana, em que se começa a construir “o sonho”, como explica Bruno. Para isso, durante este tempo, há uma constante recolha de informação quer da criança, quer de cada um dos membros da família e da dinâmica familiar.

“Esta informação é recolhida para depois nós construirmos o tal dia do sonho, de dar um dia ou mais alinhado com aquilo que são os gostos e os sonhos da criança, mas, mais do que isso, cada vez mais a nossa preocupação é o impacto a longo prazo”, acrescentou.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

O foco da U.Dream não é, então, o dia do sonho, mas, sim, todo o impacto que se perpetua ao longo dos anos, que é feito também com a ajuda do apadrinhamento. Os padrinhos e madrinhas das crianças são o elo de contacto entre a U.Dream e as famílias e permitem dar uma ajuda no desenvolvimento deste impacto positivo, tornando-se “mais um elemento familiar a ajudar ali e que vá, pelo menos, fazendo visitas e dando-lhes a atenção e o carinho que eles precisam”.

Mesmo que a criança não resista à doença, o apadrinhamento não deixa de acontecer porque “há sempre família para ser apoiada”. “Acaba por ser mais um naquela família e as pessoas gostam de o ter lá, ele gosta de estar lá e, portanto, cria-se uma ligação que já deixa de ser formal ou de procedimentos da U.Dream”, referiu Bruno.

Os estudantes que participam do projeto marcam também presença em instituições, como a Associação Protetora da Criança, em Gaia, onde não é feito um acompanhamento dos meninos e meninas que lá estão, mas sim atividades e os “sonhos partilhados”, que envolvem várias crianças, pelo menos, uma vez por mês.

As crianças ou adolescentes que a U.Dream acompanha têm um limite de idade de 18 anos e sofrem de várias doenças, desde o cancro ao autismo. Os membros que estão em contacto com elas têm direito a uma formação para que estejam a par das várias patologias com que possam ter de lidar.

Sustentabilidade baseada em troca de experiências, conhecimento e apoios

Sonho, Empresa e Academia – são estes os três pilares da U.Dream, que se define como uma empresa júnior social.

Na U.Dream, não são aceites donativos, mas tudo o que é feito tem uma contrapartida. Uma das formas de garantir a sustentabilidade do projeto é, por isso, em grande parte, através do contacto com o tecido empresarial.


“A nossa forma de recompensa por este trabalho que fazemos todos os dias é efetivamente o tal passar um, dois anos e olharmos para a família e vermos que melhorou aquele contexto e nos sentirmos realizados com isso”


Junto das empresas mais pequenas, a U.Dream oferece, em troca de apoio, o conhecimento que os estudantes já adquiriram, as suas skills, que podem ser aplicadas em diferentes tipos de negócios, através de Formação e Consultoria a Micro, Pequenas e Médias Empresas.

Por outro lado, nas grandes empresas, é trabalhada a consciência social junto dos trabalhadores, através, por exemplo, de campanhas, com o objetivo de inteirá-los sobre o que faz diariamente a U.Dream.

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Foto: Bruno Silva, presidente da U.Dream | Filipa Albergaria/JR

Bruno Silva explicou ao Jornal Referência que todos os sonhos têm intrinsecamente ligada a empresa Padrinho de Sonho. A U.Dream criou um programa de responsabilidade social em que são eles que ajudam a construir o sonho, na prática, ou apenas com ideias, de modo a “sentirem na pele para quê que estão a contribuir”.

Além disso, foi criado também o cartão de sócio, que permite cobrir as despesas fixas. Este cartão permite a qualquer pessoa contribuir com uma espécie de uma quota (de 12 euros anuais, ou de 5 euros mensais), que, em contrapartida, permitirá adquirir descontos em várias empresas e em eventos da U.Dream e também ter acesso à “experiência UD”, que inclui o envolvimento em algumas atividades do projeto.

Esta fábrica de sonhos é ainda apoiada pelo programa Portugal 2020, que prevê a expansão do projeto.

“A nossa forma de recompensa por este trabalho que fazemos todos os dias é efetivamente o tal passar um, dois anos e olharmos para a família e vermos que melhorou aquele contexto e nos sentirmos realizados com isso”, sublinhou.

Mudar o mundo começando pela própria felicidade

“Acreditamos que é através da educação que podemos mudar o mundo e por isso decidimos começar por nós próprios”, lê-se no site da U.Dream.

O ponto de partida do projeto é ensinar que “ser feliz não é assim tão difícil”, referiu Bruno, acrescentando que a mudança do mundo faz-se ao “descomplicar” este processo e através da mudança de mentalidades. Esta alteração de mindset torna-se mais simples quando se percebe que é “facilmente contagiado” e que é possível “multiplicar”.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

“Tal como, por exemplo, o Cristiano Ronaldo treina futebol todos os dias (…), o que nós fazemos é exatamente a mesma coisa, só que com a felicidade”, comparou.

No final da experiência com a U.Dream, o objetivo é que os estudantes que participam como membros e/ou padrinhos “sejam, não digo melhores, mas, pelo menos, profissionais, ou pais, ou familiares, ou funcionários mais conscientes daquela que é a posição deles na sociedade e do papel que eles têm quanto aos outros e da responsabilidade que isso lhes traz”. “Nós tivemos a sorte ou o privilégio de perceber isto (…), temos a responsabilidade de ir comunicando a cada vez mais pessoas”, rematou.


“Acreditamos que é através da educação que podemos mudar o mundo e por isso decidimos começar por nós próprios”


#amordiasimdiasim

Além de campanhas em escolas, a U.Dream começou a pôr em prática o efeito multiplicador da felicidade também através das redes sociais.


“Se uma pessoa gosta de outra e se tem a agradecer a essa pessoa, isso não tem mal nenhum em ser público”


A campanha “Amor dia sim, dia sim” nasceu no início deste ano, por parte de um desafio que a U.Dream lançou, e consiste na gravação de um vídeo para o Facebook ou Instagram em que se verbaliza o quão importante uma determinada pessoa (ou mais) é na vida de outra, “simplesmente porque sim”.

https://www.facebook.com/udream.pt/videos/2008434946039045/

“Se uma pessoa gosta de outra e se tem a agradecer a essa pessoa, isso não tem mal nenhum em ser público e o amor não deve ser privado”, sublinhou Bruno.

Passo a passo para a expansão

A U.Dream está presente em três pontos do país: Porto (desde 2013), Braga (2016) e Aveiro (2017). É gerida pela U.Dream Portugal, que é composta por cerca de 12 pessoas – sendo a maior parte membros fundadores do projeto -, numa vertente ainda mais profissional e empresarial.


“Queremos sentir que isto está a resultar e que as pessoas que contactam connosco gostam de o fazer e só têm tido impactos benéficos”


Coimbra e Lisboa são dois locais que estão, neste momento, em cima da mesa para análise da viabilidade de expansão, mas é um processo demorado. É preciso estudar a dinâmica do campus onde se irá localizar e dos estudantes, assim como as organizações que já lá existem e pessoas que possam fazer parte da equipa fundadora, por isso, não há ainda um prazo definido.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

“Aquilo que cada vez se torna mais real é a replicação por mais cidades”, que permitirá atingir a meta de envolver o país todo. “O que nós queremos fazer é chegar a cada vez mais pessoas, seja através dos sonhos, seja através das campanhas, dos eventos, nós queremos sentir que isto está a resultar e que as pessoas que contactam connosco gostam de o fazer e só têm tido impactos benéficos”, explica.

No entanto, o presidente da U.Dream contou que seria “muito bom” se, no recrutamento, conseguissem não rejeitar ninguém. “Isso era o sonho”, remata.

Perfil

Bruno Silva é estudante do quarto ano de Gestão, na FEP. Refere que entrou “um bocadinho mais tarde do que normalmente as pessoas entram” na U.Dream, uma vez que só o fez a meio do terceiro ano (em março, abril de 2017).

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Foto: Filipa Albergaria/JR

O estudante de Gestão acabou por integrar o projeto a convite de um colega de curso e foi para o departamento de Relações Externas. Passou por um período de quatro meses como trainee e foi convidado a ser vice-presidente externo. No final de dezembro, com a saída de vários membros, Bruno assumiu, então, a presidência da U.Dream.

Para Bruno, esta passagem para a liderança não foi difícil, dado que já tinha alguma experiência noutras organizações. Contudo, a parte social, do contacto mais próximo com o departamento de Relações Humanas e do acompanhamento das crianças, foi um “bocadinho estranha”.

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Foto: Filipa Albergaria/JR

Bruno conta que era uma pessoa mais “séria e introvertida” e, então, o ambiente de trabalho que se criava era algo que o surpreendia, mas que facilmente se adaptou.

O presidente da U.Dream referiu nunca ter estado nas equipas que realizam os sonhos e, por isso, todos lhe tocam “da mesma forma” e nem sequer gosta de compará-los porque tem “a certeza que cada um deles é feito à medida da criança e da família”.

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