A Arte é um dos múltiplos receptores sensoriais humanos, sendo uma arma extremamente poderosa para transmitir ideias, emoções, sonhos e até quem sabe para edificar revoluções.
Penetra nas nossas córneas para depois excitar, relaxar ou inclusive fazer sonhar o cérebro das nossas emoções. O córtex pré-frontal alimenta a sua importância nas nossas vidas fazendo dela imprescindível.
Seríamos capazes de viver sem música, sem cinema, sem dança, sem pintura, sem a arte nas suas mais variadas formas como a urbana que transpira o silêncio dos inocentes nas nossas ruas?
Esta forma de arte tem uma boca para o mundo que faz respirar o talento daqueles que vivem ou gostam de viver dentro do sub-mundo edificando a cultura sub-urbana que muitas vezes se apresenta mais genuína e real ainda que extremamente rebelde em relação ao mundo pincelado a preto e a branco em que todos vivemos no quotidiano.
Gosto muito de arte urbana sobretudo a de Banksy ou a de Shepard Fairey, Obey que cedo perceberam que a verdadeira missão da arte urbana é a cidadania, sendo também a que mais reconhecimento e sobretudo reflexão suscita no seu público-alvo que somos todos nós, independentemente das nossas cores e feitios.
É uma arte universal, sem preconceitos e sobretudo de intervenção. E nós por cá, temos Vhils e tantos outros artistas visuais com um talento imenso. Atribuem-lhe este nome de artista visual, eu prefiro, com admiração, chamar-lhe escritor na pedra.
Lisboa abraçou a edição deste ano do Iminente depois de duas edições realizadas nos jardins de Oeiras. Acompanhei a edição do ano passado e recordo-me de pensar que para o sucesso do Iminente não bastava ter Vhils como curador, bem como a exposição de algumas das suas obras naquele conceito de arte urbana e música de mãos dadas.
Era necessário algo diferente que foi a meu ver bem atingido primeiramente com o novo cenário no Panorâmico de Monsanto bem no pulmão de Lisboa, em segundo lugar e sinceramente o mais importante para mim da edição deste ano, o mural em homenagem a Marielle Franco, demonstrando que a arte urbana tem um propósito muito bonito e revolucionário ao invés de marginal, como tantas pessoas ainda a catalogam. E quem diz a arte fala também da música de intervenção, com a linguagem tão característica do hip-hop e os movimentos do break dance.
A verdade é que aquilo que é diferente nem sempre é marginal, mas sim uma outra forma e uma forma muito própria de demonstrar descontentamento ou contentamento com a ordem que a nossa sociedade nos impõe com os seus hábitos, costumes ou até mesmo alguns preconceitos.
O mural de Marielle Franco é muito mais do que uma homenagem ou uma campanha da Amnistia Internacional: é uma lembrança e uma forma muito bonita de luta combinando a arte com a cidadania.
Luta essa que permanecerá para sempre no Panorâmico de Monsanto, tal como também está refletido por outro artista numa favela em Buenos Aires.
Aquele rosto cheio de vida e cor sorri para recordando-nos que não podemos desistir de lutar pelos direitos humanos.
Ninguém tem o direito de danificar e invadir a vida de ninguém em todos as suas formas muito menos o direito de retirar uma vida humana a outra pessoa, sem que esse acto seja culpabilizado, tenha a vítima a cor ou a proveniência social que tiver.
E é neste contexto de arte urbana, luta e revolução do Iminente que saliento o projecto mais ou menos que voltou a espalhar no recinto da edição deste ano do festival uma série de frases, bem como com a recolha de assinaturas para a edificação de um novo partido político.
Parece-me que temos mais um Miguel (Miguel Januário) cheio de sonhos e ideias a tentar penetrar e bem na cena artística portuguesa e nas faixas etárias mais jovens querendo trazer revolução e mais ou menos sim ou não para o cenário político português. Com o último Miguel vimos o bloco, com o Miguel Januário veremos surgir um novo partido?
O tempo o dirá…
Agora o Iminente viaja este mês até Londres para mais uma edição na capital do Reino Unido, após o incrível sucesso da edição deste ano na capital portuguesa.
Esta autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico.