Diogo Cunha é estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e foi o único português de seis vencedores do concurso da Federação Europeia de Movimentação de Materiais (FEM) “The Smart Logistics Challenge”. O Jornal Referência esteve à conversa com o estudante da FEUP para tentar perceber um pouco mais sobre o seu projeto e o funcionamento da competição.
Aos 19 anos e a frequentar atualmente o segundo ano do curso de Gestão Industrial na FEUP, Diogo decidiu lançar-se na sua área e participar num concurso em que pudesse, “sobretudo, aprender” e saber mais sobre o que o futuro profissional lhe pode reservar.
Através do webmail da faculdade, o estudante teve conhecimento do “The Smart Logistics Challenge”, um concurso europeu sobre logística e manuseamento de materiais, que decorreu durante este ano. Este concurso, dividido em várias fases e designado para estudantes universitários na Europa, pressupõe a criação de soluções inovadoras tecnológicas e/ou de negócio, dentro de um de três temas: e-comércio, cooperação entre robôs e pessoas na área de logística 4.0 e logística numa Economia Partilhada.
O projeto de Diogo, denominado “How a Digital Network can increase the scope of opportunities in the Business World (“Como uma rede digital pode aumentar a extensão de oportunidades no mundo dos negócios”), insere-se na secção da Economia Circular. Consiste numa aplicação que pretende envolver várias empresas de manuseamento de materiais (por exemplo, de transporte e de armazenamento) e, “através de saber os seus interesses e as suas necessidades, conseguir juntá-las, quase como se fosse uma rede social, só que para empresas desse tipo”, explicou Diogo.
Através dos princípios da Economia Partilhada (da qual é exemplo o modelo de funcionamento da Uber), esta aplicação aproveita aquilo que há em excesso, neste caso, o potencial desperdiçado, como espaço de armazenamento que não está a ser ocupado, veículos de transporte inativos, ou até mesmo mercadorias que não são usadas. Além disso, é uma forma alternativa de obter o que as empresas necessitam sem retribuir com dinheiro e sim com outro tipo de serviços, bem como é um segundo canal para vender um serviço ou promover uma marca.
Para Diogo, esta tecnologia, além de permitir informar seletivamente outras empresas, consegue “melhorar em termos da rapidez com que a informação é disponibilizada” e isso depois reflete-se em “agir em tempo real”.
Em termos de custos, estariam envolvidas despesas da criação da aplicação (cerca de 20 mil euros), contratação de programadores, de ter uma base de dados e um servidor ativo, mais a manutenção, o que rondaria os dois mil euros por mês.
“É uma ideia bastante disruptiva”, explicou Diogo, referindo que gostaria de vê-la em prática, mas que, “da maneira como a economia funciona atualmente, era difícil implementar”.
Um dos entraves que irá ser ultrapassado à medida que a tecnologia evolui está na legislação relativa à segurança da informação que é partilhada. Uma vez que a aplicação terá acesso a muitos dados sobre as empresas, é necessário, por exemplo, ter a certeza se a encriptação dos dados é feita corretamente e quem é o responsável caso haja alguma intromissão.
Houve seis vencedores do Grande Prémio, provenientes da Dinamarca, Espanha, Holanda, dois de França e um de Portugal. O júri era composto por alguns dos líderes da indústria da logística e do manuseamento de materiais e de um representante da FEM.
O prémio em questão incluía: uma viagem VIP até à Antuérpia (Bélgica), onde se realizou o Congresso FEM, nos dias 13 e 14 de setembro; um almoço e jantar com os CEO’s das empresas líderes desta indústria; e uma tour exclusiva pela cidade; além de um estágio pago de seis meses numa dessas empresas.
Entre julho e setembro, houve outra votação, mas online (TrendSpotter Award), para escolher os melhores trabalhos, cujos vencedores também tiveram acesso à viagem e participação do congresso, almoço e jantar com os CEO’s e visita à cidade.
Após a primeira submissão do projeto, os finalistas desta competição puderam limar algumas arestas dos trabalhos com a ajuda e partilha de conhecimento de mentores, representantes das empresas que lideram a área da logística.
Apesar da diferença de idades em relação aos mentores, Diogo sublinhou que “estava bastante à vontade e foi muito bom estar em contacto tão direto com pessoas, digamos, importantes”.
“O que eu queria mesmo era ganhar experiência numa área mais concreta que talvez tivesse aplicabilidade mais tarde”, referiu Diogo ao Jornal Referência, acrescentando que nunca teve “este tipo de experiência, por isso, foi mesmo uma mudança de mundo”. O estudante da FEUP revelou que, embora não se queira limitar apenas a esta área porque ainda não conheceu todas as outras opções, a “foi ótimo para me orientar” para este ser um possível caminho.