“Santo António já se acabou
e São Pedro está-se a acabar.
São João, São João, São João
dá cá um balão para eu brincar!”.
O refrão da música de Lenita Gentil não podia descrever melhor junho, o mês dos Santos Populares. E já em vésperas de se comemorar o São João, recorda-se o Santo António celebrado na semana passada.
Uma das tradições comemorativas de Santo António são as marchas populares. Em Lisboa, onde são popularmente conhecidas, começaram a ser realizadas no ano de 1932, mas esta não é a única cidade em que a tradição vem abrilhantar as ruas.
Vale de Cambra, uma cidade no interior do distrito de Aveiro, tem o mesmo santo padroeiro que a capital. No entanto, as marchas populares só começaram a ser realizadas há cerca de 28 anos.
Clementina Pinho foi uma das costureiras que assistiu ao começo da tradição das marchas populares valecambrenses. “No início, era tudo muito simples, as pessoas que começaram a organizar faziam-no por amor à tradição. A mão-de-obra era toda gratuita. Ainda me lembro das primeiras roupas serem azuis da cor da freguesia que representávamos”, afirma.
A costureira acrescenta que, “com o passar do tempo, todas as pessoas já esperavam mais e mais das marchas e tudo começou a ser muito mais organizado e sério, até começámos a ser apoiados monetariamente pelo município”.
A costureira das marchas por mais de 20 anos consecutivos diz também que toda a preparação, os ensaios, as provas das roupas, a própria arte de coser dava muito trabalho. “Tudo envolvia muitas pessoas e muita mão-de-obra. Conciliar tudo e todas as pessoas é muito difícil e, por isso, é que, com o passar dos anos, vão desistindo cada vez mais pessoas”, continua a valecambrense.
Há cerca de uma década, a tradição cresceu e para que se conseguisse envolver desde os mais pequeninos até aos mais graúdos, Vale de Cambra começou a organizar as marchas populares infantis, que se realizam durante a tarde de dia 10 de junho. Comummente, as marchas populares saem na noite de 12 de junho, o que fazia com que os mais pequenos ficassem cansados e não conseguissem todos participar nas mesmas. Estas marchas infantis foram a solução arranjada pelo município para envolver todos os que queriam participar na tradição.
Este ano foram nove as “pequenas” marchas que alegraram as ruas do centro da cidade no Dia de Portugal. A tradição passou e encheu de sorrisos aqueles que assistiam nas bermas das estradas a passar o futuro da cidade.
Clementina Pinho, este ano, apenas cortou as 33 roupas de uma das marchas a concurso. “Os anos pesam e tomar conta da roupa de uma marcha já é muito para mim. No entanto, ainda cortei todas as roupas de uma marcha infantil, o que me deixou feliz! Mantém-me viva costurar e enquanto puder vou continuar, porque tenho sempre este «bichinho» dentro de mim!”, conclui a costureira.
As marchas passaram e não foi só na capital. A alegria da marcha, a dança ao ritmo dos compassos e a música com versos à cidade marcaram mais um Santo António naquela que é a “Suíça portuguesa”, Vale de Cambra.