Nada nem ninguém faria pensar que, em pleno início da nova década, o recomeçar dos esperados loucos anos 20, estaríamos na situação que nos encontramos hoje – uma Europa em ebulição até à mais profunda das suas fundações.
Ainda a procissão vai no adro, mas não é preciso poderes de adivinhação para podermos afirmar com a maior das certezas que a democracia entrará também ela, em breve, em jogo.
Distraída pelo recente episódio da crise migratória, a Europa além de acordar tarde para os primeiros surtos do COVID-19, foi egoísta com países a proibir a exportação de material e equipamentos médicos.
Assistindo do alto ao apogeu da tragédia em Itália, a resposta de ajuda do velho continente caracterizou-se por um regresso ao protecionismo, ao nacionalismo, o fecho unilateral das fronteiras, à ausência de solidariedade europeia, ao cada um por si, sem qualquer rumo e sem uma verdadeira estratégia comum – e muitos perguntar-se-ão já, para que serve então o projeto europeu?
Antecipando o impacto sistémico desta crise (ainda sem medidas políticas suficientes), vários países da União, incluindo Portugal, enviaram esta semana uma carta ao presidente do Conselho Europeu, reclamando uma solução comum europeia – a emissão de “Coronabonds”.
Face à subida dos juros dos países do sul da Europa, trata-se da possibilidade de emitir dívida conjunta, de forma a evitar as consequências assimétricas de uma crise que é comum a todos.
Todavia, esta solução carece de consenso europeu e já foi caracterizada por muitos como um “debate fantasma” ou uma “não discussão”.
Numa altura em que os países europeus batem recordes quanto aos números de mortos e infetados, a China faz política com atos de solidariedade, limpando a sua imagem relativamente à crise epidémica. O gigante da Ásia exibirá orgulhosamente e tentará agora exportar para o ocidente o seu Estado policial digital (assente na vigilância digital massiva e big data), como um modelo de sucesso contra a pandemia.
Perante tudo isto, a nossa democracia e a nossa economia estão hoje em xeque.
Ou a Europa dá um passo no caminho da integração, respondendo de forma solidária e unitária à crise económica – e emerge mais forte. Ou correrá o risco de se desagregar, com a Itália (país onde há um grande número de eurocéticos) a ameaçar atiçar o fogo à coesão Europeia.