A hipocoagulação oral é um tratamento que permite, através da administração de medicamentos, diminuir a capacidade de coagulação do sangue. Este tratamento visa reduzir a possibilidade da formação de coágulos na circulação sanguínea, conhecidos por trombos provocados por um conjunto de doenças do aparelho circulatório. Estes trombos, quando se formam, desencadeiam situações muito graves, nomeadamente o Acidente Vascular Cerebral (AVC) – conhecidas por tromboses ou podem ocasionar a embolia pulmonar.
Há estudos em Portugal, no ano de 2015, que referem que as doenças cérebro-cardiovasculares foram a principal causa de morte, com uma prevalência altíssima à custa de enfartes, AVC, embolias pulmonares em diversos doentes.
Sabe-se que a maioria dos eventos cérebro-cardiovasculares associam-se ao desenvolvimento de complicações como o tromboembolismo venoso, arterial ou cardíaco e o recurso a anticoagulantes como estratégia preventiva é cada vez mais uma realidade.
De facto, a utilização de hipocoagulantes tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, sendo expectável a manutenção desta tendência dado o aumento da esperança média de vida e a crescente prevalência das doenças cérebro-cardiovasculares existente em Portugal.
As doenças que justificam hipocoagulação incluem as perturbações do ritmo cardíaco, como por exemplo, a fibrilação auricular, doenças das válvulas cardíacas, prótese valvular cardíaca, trombose venosa profunda (TVP) associada a varizes nos membros inferiores, doenças genéticas (por exemplo, o síndrome de Leyden), algumas doenças oncológicas e ainda prevenção de embolias (pós-operatória).
A anti-coagulação pode-se, portanto, fazer com a ingestão de medicamentos em forma de comprimidos. As substâncias mais utilizadas (antagonistas da vitamina K) habitualmente são a varfarina ou acenocumarol (anticoagulantes sintéticos), substâncias estas encontradas em diferentes espécies vegetais.
A hipocoagulação também pode ser efetuada, por vezes, com injeções de aplicação subcutânea e de composição diferente do tratamento com os comprimidos, utilizadas em situações de internamento hospitalar e/ou em doentes operados ou a operar e só por alguns dias, retomando, logo que possível, novamente a terapêutica em comprimidos.
Sabe-se que diversos fatores podem fazer variar o nível de coagulação obtido com a administração dos antagonistas da vitamina K (varfarina/varfine e acenocumarol/sintrom), pelo que os doentes que fazem este tratamento devem controlar periodicamente o nível da coagulação sanguínea.
A análise sanguínea que permite esse controle denomina-se tempo/taxa de protrombina e é apresentada através de uma medida estandardizada conhecida por INR, sigla da expressão inglesa International Normalized Ratio.
De facto, o controlo do INR é hoje a análise que permite, em qualquer parte do mundo, o controlo da coagulação e pode ser efetuado no hospital, no centro de saúde, em laboratórios ou mesmo em casa dos doentes. É efetuada pelos médicos de família, devendo as doses ser ajustadas conforme o resultado do INR.
Os doentes que fazem este tipo de tratamento com varfarina ou com acenocumarol têm de tomar alguns cuidados no seu dia a dia, devendo andar com uma informação no bolso a referir que é hipocoagulado, quando forem fazer tratamentos dentários (informar antes do início do tratamento), não tomar outros medicamentos sem o conhecimento do médico que está a acompanhar o tratamento, evitar determinado tipo de atividades que possam ocasionar traumatismos e ainda efetuar uma alimentação racional, a fim de não alterar os níveis do INR.
Há ainda a possibilidade de tratamento com outra classe de medicamentos (chamados novos anticoagulantes) que não necessitam de controlo do INR, mas obrigam a efetuar análises, vigiar e investigar o funcionamento de alguns órgãos, nomeadamente, os rins e o fígado.
Estes novos tratamentos hipocoagulantes têm vantagens (por exemplo, os doentes podem comer e beber o que quiserem que não alteram a coagulação) mas também há desvantagens sendo a maior desvantagem o preço e a necessidade de vigiar o funcionamento de alguns órgãos.
Espero que este artigo esclareça as muitas dúvidas existentes quanto à necessidade de tomar os diversos tipos de hipocoagulantes.