OPINIÃO: Página solta

Romão Rodrigues, 20 anos, Estudante de Ciências da Comunicação na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

“Fragmentam-se divindades. Ao acaso, talvez. Até porque (ainda) não se conhecem comuns mortais aptos para serem esventrados. Se já imaginaram uma referência superior cortada em pedaços, devolvam o exercício à estaca zero. A prática consuma-se com a aplicação de um método bem distinto: segrega-se a alma de uma possível presença carnal, inverte-se esta última e talham-se os resquícios de ser”.

Soltou o copo, o chão estremeceu e quem me volteava era presenteado com o bafio a álcool. A solução apresentava uma cor cavernosa, uma textura densa e um trago ora adocicado, ora doce, conforme a alternância realizada com os aperitivos. O chão – esse alicerce para pés trémulos – foi resgatado e possuído.

O corpo amparou os seus movimentos na mesa arredondada. Os membros abraçaram o vácuo existente, enquanto a testa se inscreveu num debate francês com a madeira. O próprio espírito confluiu-se com o estado de graça visível a olho nu. Volveram minutos e alguns segundos. A quietude e o corrupio mental traduziam-se como duas realidades perpendiculares. O caos emocional, oriundo de nenhures e com mira apontada para todas as temáticas de diálogo, cresce ali mesmo.

Na ponta da mesa, uma caneta e uma sebenta. Metaforicamente, pode afirmar-se que habitavam uma casa repleta de assombrações e figuras ficcionais. Assumo, desde já, a não compenetração no assunto pela inépcia, força motriz.

O braço trespassou a imobilidade e içou-se sobre o material. A sebenta é folheada repentinamente e o olhar é apenas dirigido para os espaços baços.

A caneta – essa extensão corporal – rodopiou sobre as margens e traçaram-se linhas disformes. O júbilo, esse, só contemplado… eis a fissura personificada por uma folha! Destrinçou-se o prazer, chegou-se ao zénite! Há quem diga que se conquistou o céu e a sua companhia de guarda! Fico-me pela primeira expressão…

O clichê: toda a gente já escreveu uma dissertação com conteúdo símile. Os tempos corroem a inovação, é certo e sabido.

Nota: retirado do diário de um adolescente retraído, fuinhas e com ascendente em aquário.

Sigam-nos em:

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta