Que vivemos a correr já não é novidade, tendo sido este inclusive tema de outros tantos artigos, uns escritos por mim, outros nem tanto. Mas a verdade é esta, corremos constantemente e, particularmente, estes meses foram o claro exemplo disso.
Temos uma necessidade de nos afirmarmos perante nós próprios e sermos proativos e metódicos, construções estas tão contemporâneas. Afirmamos que temos uma carreira ou que queremos ter uma carreira numa envoltura tão ténue que passamos a viver numa dicotomia entre o que “eu quero” e o que “eu quero querer”. As carreiras – terminologia tão tipificadora e manipulável do século XXI – são um claro exemplo desta realidade.
Costumo escrever um artigo por mês, contudo, dois meses passaram e não escrevi um único artigo para o Jornal Referência, compromisso que assumi há mais de um ano. E eu gosto genuinamente de escrever, gosto e atirar coisas para o papel e interpretá-las da forma que gosto e deixar que os demais façam o mesmo. E escrever é algo que eu sei que quero mesmo e não “quero apenas querer”. Mas, numa montanha-russa de quereres e tentativas de querer, acabei por deixar o que gosto realmente de fazer para um segundo plano, perdido entre trabalhos, projetos e dinâmicas para o mestrado e para os demais afazeres. Tudo isto parece conduzir a momentos de inspiração e produtividade, contudo e antagonicamente, tudo isto se inverte e resulta numa espiral de inércia e de pensamentos “tenho tanto que fazer” que se refletem em não fazer nada. Não estou a descurar os momentos de tédio, fulcrais no desenvolvimento do raciocínio; refiro-me sim aos momentos em que queremos fazer tudo porque terceiros nos dizem que temos que fazer e que acabam por não ser nada produtivos.
Portanto, concluo esta crónica com um pedido de desculpas ao Jornal Referência e um auto apelo para fazer o que realmente gosto e eu realmente gosto de escrever. Vamos ver como corre daqui em diante, sem expetativas.