EM TELA: “Westworld”

Imagem: Joana Aleixo

Sucintamente e sem querer levantar muito o véu de uma das melhores séries que já vi, “Westworld” explora a possibilidade, de uma forma inquietante, da fuga à realidade. Algo que todos nós sempre quisemos.

Retrata um mundo paralelo e utópico onde seres humanos – com muito dinheiro e pertencentes a altas castas sociais – podem ir e instrumentalizar robots.

Quase que parece simples, não é?

O fio condutor da série traça-nos uma distinção vincada e categórica entre seres humanos e robots, robots estes fisicamente iguais a “nós”, mas social e, consequentemente, moralmente inferiores. São programados, através de gatilhos e “aparelhos” informáticos – desta parte, sinceramente, não percebo muito – para manifestar dor, prazer sexual e se comportarem, na generalidade, como humanos – com o detalhe de nunca poderem ferir os verdadeiros humanos. Com eles, pode, o “humano”, esboçar e repercutir os seus desejos e segredos mais sombrios. Em suma, trás ao de cima o nosso pior e mais reprimido lado.

Onde já vimos isto? Em praticamente toda a História da Humanidade, nas relações e nos dogmas hierárquicos de poder, onde as instituições que moldam a forma de ser e agir das sociedades consideravam uns superiores a outros, dando a possibilidade de os primeiros explorarem os segundos. O que, de forma mais subtil, ainda acontece.

É, a série, apesar de, claramente, de ficção científica, uma elegante e subtil metáfora. Apesar de o foco desta serem os robots, a AI e como eles começam a ganhar noções do que os rodeia – uma realidade, atendendo à exponencial evolução tecnológica, não muito distante -, a verdadeira mensagem e beleza em “Westworld” está na assustadora semelhança dos robots a nós. E não falo apenas fisicamente.

A série esmiúça, quase de uma forma poética, o cerne da individualidade humana e tudo o que a mesma abarca, nomeadamente o nosso livre-arbítrio. A nossa liberdade de escolha e a possibilidade de, livremente, tomarmos as nossas decisões. De toda esta dinâmica resulta aquilo que nos define como seres humanos, que é a nossa dignidade humana, um conceito que, apesar de abstrato, reflete o núcleo duro do exercício de todos os direitos humanos. Estes são, diariamente, postos em causa pelas incessantes tentativas de padronização e categorização dos seres humanos em grupos, adormecendo, como na série, a nossa vontade, as nossas escolhas e ações; conduzidas por inferências e previsões comportamentais, muito impulsionadas pelas redes sociais, medias, algoritmos e demais meios de comunicação.

“Westworld”, que já nos presenteou com uma terceira temporada, é uma importante reflexão quanto ao rumo que a sociedade leva. Para além disto, o enredo e a história envolvente, a filosofia implícita nas falas, a estética e a coordenação artística das cenas, os fundos e as paisagens, os efeitos especiais, o arrebatador soundtrack e o próprio guarda-roupa deixam, ao longo da série, qualquer um rendido.

A série é original da HBO. Vejam o trailer da primeira temporada aqui:

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