Sabem quando estamos a ver determinado filme/série e temos de parar o episódio ou o filme para respirar? Ou porque está a ser muito duro ou muito forte? Foi o que me aconteceu com “Baby Reindeer”, série da Netflix adaptada do espectáculo autobiográfico homónimo de Richard Gadd e baseada na sua história verídica. É uma série que explora a necessidade de conforto e atenção, de auto-estima, amor próprio, é uma série sobre controlo e stalkerismo, violência sexual, abuso, é uma viagem aos abismos interiores, por vezes desconfortante e assustadoramente crua, onde a realidade é chocante e as escolhas acabam por ser tenebrosas.
Richard Gadd quis contar a sua história e fê-lo de uma maneira visceral, em que lentamente, episódio a episódio vai tirando o tapete ao espectador e o leva numa odisseia quase irrespirável. Não se fica indiferente a esta série.
Na série acompanhamos Donny (uma espécie de pseudónimo fictício de Richard Gadd, diria), um aspirante a comediante que trabalha num pub e lá conhece Martha, interpretada por Jessica Gunning. Aos poucos, os dois começam a conversar, mas isto é só o início. O que se segue é uma constante perseguição obsessiva por parte de Martha a Donny. E o que dela resulta. A série rapidamente gerou muitas conversas e polémicas, inclusive houve uma busca feita por várias pessoas, na internet, para perceber quem é a verdadeira “Martha”.
O que é certo é que a verdadeira “Martha” deu uma entrevista a Piers Morgan, jornalista britânico, no programa “Piers Morgan Uncensored”. Como espectador, senti um desconforto crescente ao ver a série, contudo foi necessário para certos temas como a violência sexual voltarem a estar nas bocas do mundo. Nesse aspecto, a série foi extremamente necessária.
Fica aqui provado que “Baby Reindeer” é dura e crua. Podemos rir e chorar ao mesmo tempo. Ou não. Mas a força da série é também o desconforto que nos causa.
Estrelas: 10 em 10
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.