Quando pensamos neste sucesso que foi “Guerra Civil”, pensamos necessariamente na brutalidade ao mesmo associada, tendo este como plano de fundo uma guerra civil nos EUA.
“Guerra Civil” é uma experiência cinematográfica altamente sensorial, que nos deixa desconfortáveis, que nos faz sentir uma estranha melancolia violenta ao longo de toda a história. O desenlace do filme é inevitável e tal nunca é escondido ao longo do mesmo, tornando-se esta inevitabilidade bastante apelativa e vibrante.
Sem prejuízo à violência já mencionada, Alex Garland – diretor do filme – consegue a proeza (um pouco perturbadora e rebuscada) de romantizar todo este cenário, que se desenrola com uma estética e fotografia impactante, bem como um soundtrack arrebatador.
O momento do lançamento do filme não é ingénuo. A poucos meses das eleições para o futuro presidente dos EUA (que serão em novembro), os conflitos entre os apoiantes dos intervenientes da máquina bipartidária, intensificam-se. A política já atualmente domina os principais fóruns nos EUA e como a arte imita a vida, “Guerra Civil” surge-nos nas salas de cinema, hiperbolizando estas tensões e fraturas da sociedade norte-americana.
Pouco se sabe sobre os motivos que conduziram a este cenário distópico e, na verdade, os mesmos são irrelevantes na narrativa, sendo que o que interessa transmitir ao espectador são os detalhes dos conflitos armados (em grande parte, comuns a todos) e que normalmente passam despercebidos nos tradicionais filmes sobre a guerra – o horror, o medo, as vítimas e o sofrimento dos civis. Afastando o holofote da política norte-americana, mas tendo-a sempre em mente, a narrativa avança pelos olhos de uma equipa de fotojornalistas que correm o país para fotografar momentos emocionantes, embelezando, como o próprio filme, o horror da violência e da guerra. Lee e Joel, interpretados respetivamente por Kristen Dunst e Wagner Moura, correm o país numa tentativa de entrevistar o presidente, mas fotografando o caos que os rodeia pelo caminho, sob uma ótica fria e distante que a uma primeira vista pode chocar quem vê o filme. Garland consegue a proeza de, pelo detalhe, construir uma narrativa arrepiante e emocionante do início ao fim.
Estrelas: 8 em 10