O ano está a terminar e a época natalícia pela qual passamos apela a certos estilos cinematográficos. Não vos trago mais um filme de Natal (por mais oportuno que fosse) mas falo-vos da comédia romântica “Amor da Minha Vida”.
Um estilo de cinema não muito, confesso, apreciado por mim dada a sua particular tendência para o repetitivo e para a falta de novidade, representatividade ou mensagem pertinente. Contudo, “Amor da Minha Vida” é diferente, quebrando este estereótipo com um roteiro leve, divertido e bonito.
A série brasileira de 10 episódios, da autoria de René Sampaio e Matheus Souza (tendo ainda como codiretora a atriz principal Bruna Marquezine), triunfa pela sua espontaneidade e pela forma orgânica como reflete os relacionamentos humanos. Na mesma vemos pessoas reais, seres humanos repletos de defeitos, sonhos e inquietações como todos nós. Esta promete romper os exigentes padrões de um relacionamento perfeito que as comédias românticas, comum e erradamente, nos fazem crer que existem, para um nós do futuro ou só para os outros. A mesma procura refletir uma geração na casa dos 20 e tal anos, confusa e à procura de um propósito, de um significado. Do seu grande momento, que nunca mais chega – e que, spoiler, não tem necessariamente que acontecer para a vida ser algo bonito e que deva ser aproveitado.
Como elemento principal da série temos a relação entre dois amigos, interpretados pela atriz Bruna Marquezine e Sérgio Malheiros. Aqui, estes são melhores amigos e ambos enfrentam desgostos e desamores, de formas completamente diferentes, mas igualmente intensas.
Um dos traços de maior realce desta narrativa é o humanismo, o olhar humano – quase em primeira pessoa – que o espectador sente e observa através das personagens. O enfoque dado nas caras dos atores traz uma intimidade para com o espectador, parecendo quase que somos amigos próximos dos protagonistas. Este é o eixo diferencial desta série. O que nos faz sentir através do choro e do riso nas diferentes cenas. Há momentos em que parece que estamos quase ali a ouvir amigos a falar connosco sobre a vida, sobre crises existenciais pelas quais todos passamos e que, em determinado momento, nos identificamos. Há momentos em que a Bia (interpretada pela Bruna Marquezine) parece falar diretamente com cada um de nós. Daqui resulta, sem dúvida, o inegável talento do elenco e é isto que, entre outros fatores, constrói uma obra de arte no cinema.
Sem prejuízo e sem querer parecer contraditório, paralelamente, a série peca pela falta de dinâmica ou mesmo química da história principal. Sem querer dar muito spoiler, o rumo que a mesma segue a partir de metade da temporada, acaba por abafar as personagens envolvidas, caindo no erro principal das comédias românticas – a previsibilidade e o clichê. Contudo, a série vale por tudo o que nos faz sentir, de bom e de mau.
Ainda é importante realçar que todo o enquadramento, fotografia e trilha sonora da série merecem o devido reconhecimento. Um trabalho meritório que traz ainda mais intensidade e carga emotiva às cenas.
A série está disponível na Disney+.
Estrelas: 08/10