Dj’s ainda sem atuações com público, mas falam em “esperança” e “reinventar”

Há quase três meses que já não se combinam “saídas à noite” para dançar devido à pandemia do Covid-19. Os profissionais que colocavam música em bares, discotecas, festivais e outros eventos aguardam uma “luz ao fundo do túnel” e a palavra de ordem que alguns dj’s da região norte sublinham é “reinventar”.

“Não podemos baixar os braços nem deixar de trabalhar, temos que reinventar”

Jonh Mayze e Miguel Faria, naturais de Braga, são amigos e apaixonados pela música. Há cerca de 16 anos fundaram a dupla Mayze X Faria, com a qual já marcaram presença em alguns dos melhores festivais e clubs de Portugal e passaram por Angola e Espanha.

Foto: Mayze X Faria

Desde finais de fevereiro que estão parados em termos de atuações com público, devido à pandemia e já tiveram várias presenças em eventos canceladas. “Até agora, não temos data de começar nem conseguimos ver a luz ao fundo do túnel. É complicado para nós porque somos músicos que vivemos da música, dedicamos o nosso tempo a fazer o que mais gostamos”, refere Jonh Mayze ao Jornal Referência, sublinhando que ser dj “é uma profissão como as outras, tem de haver dedicação, trabalho e empenho”.

No entanto, Jonh Mayze acredita que “a evolução a nível de produção não atrasou, até adiantou e, de certa forma, até foi bom estar em casa, estar no estúdio, ter tempo para organizar as ideias na cabeça e passar para alguns projetos” que já tinham sido pensados. E, por isso, garante que a dupla ainda vai “lançar muita música nova” este ano. Já têm cinco músicas acabadas e uma “possível colaboração” em que ainda estão a trabalhar.

Mas a novidade da dupla que saiu do papel agora em fase de pandemia e cuja primeira edição vai ganhar forma ao final do dia deste domingo (pelas 19h30) chama-se “X Places”. É uma transmissão em direto no Facebook de uma atuação da dupla, filmada em 360º e com drones, num sítio inusitado e sem público – neste caso, no Minho, num local que ainda é segredo.

“Vai envolver muitos concelhos à volta porque as imagens captadas são imagens numa montanha e vai ser, de certa forma, uma viagem musical e para os nossos olhos vai ser um evento diferente de todos os que se veem em Portugal”, afirma. “É um projeto que eu e o Miguel tínhamos há algum tempo e tínhamos pensado, de certa forma, não para fins lucrativos, mas um projeto que nos desse gosto em fazer e é mais um prazer para nós”, descreve.

“A mensagem que digo aos meus colegas e tenho dito é que vamos ter esperança e não podemos baixar os braços nem deixar de trabalhar, temos que reinventar e tentar fazer algo e manter sempre a chama porque as pessoas precisam de música e nós, se precisamos de música, é nisso que temos que trabalhar e dar sempre às pessoas, mesmo em tempo de pandemia”

“Vamos voltar todos em grande porque aqui em Portugal temos muito esse espírito festivaleiro”

Quem segue as mesmas palavras de esperança e também de valorização das redes sociais é Freakj, dj e produtor de Viana do Castelo que é 29º no Top 30 da “100% DJ”, uma publicação digital especializada em música eletrónica.

A ligação a esta área já tem cerca de dez anos, mas desde muito novo que se lembra de ouvir música eletrónica, muito por influência do irmão mais velho. Ainda na escola básica participou numa rádio escolar onde foi ganhando gosto pela mistura de música e, a partir daí, o interesse só foi aumentando até aos dias de hoje em que vive desta área.

Foto: Freakj | Miguel Gonçalves

Confessa que esta pandemia “mudou muita coisa”, quer a nível de vida pessoal, mas também de carreira, já que as presenças em eventos foram canceladas e alguns contratos que ia fechar ficaram em stand-by. “São coisas que uma pessoa agora não sabe se vão voltar e como é que vão voltar porque este mercado não sei se vai ter o mesmo ritmo depois disto. Mas uma pessoa mantém a esperança e, quando isto passar, espero dar o salto e voltar muito mais forte do que o que estava, porque, no fundo, acho que vamos todos dar muito mais valor a tudo, voltar com outro foco e outra dedicação, seja em que ramo for”, acredita.

“Contudo, consegui ganhar tempo e disponibilidade para me focar na produção”, acrescenta. Há poucos dias assinou uma faixa numa “editora importante”, que ainda não pode revelar, mas que deverá sair “para meados de agosto, setembro” e tem preparadas algumas colaborações com artistas de renome nacional.

Foto: Freakj | Galp Beach Party

Durante este período de isolamento social, participou num festival online organizado com outros artistas, realizou um direto e está a pensar fazer mais algumas transmissões online, de forma a “tentar chamar a atenção das pessoas”, uma vez que tem “um cuidado muito grande com as redes sociais”, que usa também para partilhar o seu dia a dia.

“A palavra que posso deixar aos meus colegas da minha profissão é que mantenham a esperança acima de tudo, não desistam e que tentem, como eu, trabalhar, dedicar tempo a outras coisas que possam fazer em casa. Há muitos artistas a fazer diretos nas redes sociais, também é uma forma de não cair no esquecimento. Assim que possível, vamos voltar e vamos voltar todos em grande porque aqui em Portugal temos muito esse espírito festivaleiro e temos tudo para voltar fortes”

“Acredito que, brevemente, vamos ter novas diretrizes e que vai poder haver uma luz ao fundo do túnel”

Também com uma carreira musical com cerca de 10 anos, Luís Silva, mais conhecido por Dj Lewis, acredita que “as coisas estão muito complicadas, isto está completamente parado, não há uma adaptação dos dj’s, porque um dj sobrevive de público e de receitas com isso”. Defende que a opção é a transmissão em direto pelas redes sociais, que é gratuita, mas que, “em termos de receitas para os dj’s, não há”.

Foto: Dj Lewis

Natural de Paredes, habitualmente, atua em festas, bares e discotecas na região e este verão tinha muitas marcações para festas ao ar livre, mas foram adiadas e “não há qualquer perspetiva” para retomar a atividade normal. “Não há nenhuma diretiva para esses espaços, tanto para discotecas como bares, da parte dançante, porque sei que muitos bares se têm atualizado para ter o alvará de café e estão a tentar trabalhar da forma que podem porque toda a gente tem contas para pagar”, refere.

Atualmente, Dj Lewis tem outro trabalho, relacionado com comunicação empresarial, para além da música. “Felizmente, nesta altura, tenho outras opções porque há muitos colegas que vivem essencialmente disto e que, neste momento, estão a passar bastantes dificuldades, outros já tiveram que se virar para outras áreas profissionais, porque não dá”, comenta, acrescentando que a última atuação que teve foi no fim de semana do Dia da Mulher.

Foto: Dj Lewis

Por agora, tem mantido o contacto com alguns proprietários de discotecas e bares para saber o ponto da situação e está a pensar voltar a montar o estúdio para, “brevemente, voltar a produzir música”.

“A mensagem é que não vamos baixar os braços e que cada vez mais tem havido mais união no setor da noite porque temos que obter algumas respostas breves do Estado, em novas diretrizes para poder abrir estabelecimentos. Sabemos que é um negócio um bocadinho diferente dos outros, que causa mais ajuntamentos, mas vai ter que haver alguma solução para isto porque há muitos milhares de pessoas que dependem e vivem exclusivamente do mundo da noite. Acredito que, brevemente, vamos ter novas diretrizes e que vai poder haver uma luz ao fundo do túnel e espero que daqui a pouco tempo estejamos todos juntos”

O que está definido para o setor da Cultura?

Na passada quarta-feira, ficou definido que “fica assegurado desde já o pagamento integral aos artistas em caso de cancelamento ou reagendamento dos espetáculos provocado pela pandemia, com um pagamento não inferior a 50%, a pagar até à data em que o espetáculo estava agendado”. Além disso, o Governo anunciou ainda que é possível a realização de festivais e espetáculos de natureza análoga ao vivo, em recintos cobertos ou ao ar livre, com lugar marcado e desde que respeitadas as regras definidas pela DGS.

Já tinha também sido anunciada uma Linha de Apoio de Emergência ao Setor das Artes, que já fechou as candidaturas, destinada a profissionais das artes performativas, artes visuais e de cruzamento disciplinar.

O Ministério da Cultura criou um site com informações para os profissionais do setor no âmbito desta pandemia e também um e-mail de apoio para as entidades artísticas, artistas e técnicos de forma a esclarecer as medidas de apoio (cultura.covid19@mc.gov.pt).

 

* Artigo atualizado às 22h20 do dia 31 de maio de 2020 com informações sobre as medidas de apoio ao setor da Cultura

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