Estamos no século XXI, quase 2100 anos depois do nascimento de Jesus como dizem. Acabou de rebentar uma crise sanitária mundial – acabou, como quem diz, já dura há mais de um ano -, o ambiente perfeito para a proliferação de temas e discussões eminentes todos os dias, um pouco por todo o lado, desde explosivas e polémicas publicações nas redes sociais a notícias, mais ou menos sensacionalistas e mediáticas, nos meios de comunicação mais tradicionais.
Há tanta coisa importante para falar que fico confuso e deixo-me vencer pela inércia. Concluo que tomar decisões, por mais simples que sejam, como sobre o tema para escrever um artigo, torna-se muito cansativo. A inércia leva-me à saudade – palavra tão orgulhosamente portuguesa -, saudade do passado, de viajar e de conhecer pessoas novas. Sim, reconheço que, dada toda a realidade em que nos encontramos, torna-se este um tema meio fútil; mas no fundo, quem não o é?
De vez em quando transcende-me aquela saudade inexplicável de quando terminei, em 2019, a licenciatura e fomos, eu, os meus amigos/amigas de faculdade e a minha melhor amiga de infância – bem, amiga ou irmã, nunca sei bem que lhe chamar, porque todas as palavras se tornam demasiado vagas e ambíguas, pouco abrangentes, para descrever uma relação que já dura desde que tínhamos três anos – fazer um InterRail. Algo tão tipicamente europeu, mas que, clichés à parte, foi uma das melhores experiências da minha vida. As viagens têm este efeito em nós, ainda mais quando são viagens com tanto significado, como esta teve. Era o fim de um ciclo, da era da faculdade, tão, ao longo dos anos, prometida como a detentora dos melhores anos da nossa vida, que se comprovou ser verdade.
Falando do InterRail, foram 17 dias, com mochilas de campismo às costas, com muitas fotografias digitais e polaroids à mistura, a dormir em hosteis baratos, em autocarros e comboios, a correr mais de dois quilómetros para apanhar o comboio, a suar pelas ruas estreitas e embelezadas de Veneza, a passar água pelo corpo, às escondidas, nas casas de banho dos cafés – sim, o cheiro por vezes não era o melhor, a companhia, por sinal, era -. Começamos 7 pessoas, depois ficamos 8, voltamos a ficar 7 e no fim terminamos 6, porque uns tiveram que ir embora mais cedo; houve algumas discussões saudáveis, pontos de vista distintos, mas muitas memórias que nunca, nenhum de nós, esquecerá. Desde passeios em pequenos barcos a remo de madeira no Lago Bled, na Eslovénia, a momentos eufóricos nas festas e nas termas de Budapeste. Lembro-me de todos os abraços que demos e o quanto agradecemos sempre termos estado lá uns para os outros, lembro-me das tardes em frente ao mar, em Dubrovnik, na Croácia – terra de Kings Landing, mas sem os Lannister no trono – a beber uma espécie de cervejas coloridas, que davam um ar muito boémio à coisa, e a comer frango churrasco e batatas fritas enquanto o sol descia lentamente, banhando o céu e o mar com inúmeros tons de laranja e rosa. Foi um momento utópico este na Croácia. Naquele momento não havia mais nada, só nós, deitados na areia, a ouvir Lana del Rey, a conversar sobre tudo e sobre nada, com as pedras a incomodar nas costas e na cabeça, a ver o pôr-do-sol.
Concluo, a fugir para o banal, que viajar é muito bom, mas ter amigos/amigas com quem partilhar estes momentos é indescritível. Que saudades tenho de os/as poder abraçar outra vez.
