
Boavista, 28 de Outubro de 2017
No Estádio do Bessa Séc. XXI sente-se a atmosfera febril de Sábado à noite. É dia de mais um dérbi da cidade Invicta, quiçá o maior de todos os que esta cidade tem para oferecer.
Irredutíveis boavisteiros recebem um “mar azul” de entusiastas portistas, num duelo de equipas que pretendem resgatar a cultura de vitória do passado, mais afastado no caso do “Boavistão”, mais recente no caso dos recém-reconhecidos bicampeões mundiais!
Pelos resultados, mas acima de tudo pela identidade de jogo que as equipas de Jorge Simão e Sérgio Conceição têm evidenciado, parecem ter encontrado o trilho certo para as respectivas metas.
No Boavista, o gambiano Yusupha era a única novidade, enquanto o FC Porto manteve o mesmo 11 da goleada frente ao Paços de Ferreira, para a Liga NOS.
Ambos os conjuntos procuravam entrar forte no jogo, mas são os axadrezados que conseguem começar por ameaçar, com Kuca e Renato Santos a superarem a oposição dos laterais portistas, conseguindo cruzar com perigo, mas faltava “presença” na área para finalizar.
Pouco depois, Yusupha ganha o duelo com Filipe, driblando-o, mas José Sá sai rapidamente e de forma arriscada aos seus pés, conseguindo evitar a grande penalidade e tirando o esférico dos pés do irrequieto avançado.
Do lado contrário, Brahimi desmarca-se no coração da área e remata, mas estava em fora-de-jogo, falhando – mesmo assim – o alvo. Mas o ascendente era boavisteiro e, aos 21 minutos, uma grande jogada de Renato Santos pela asa direita culmina num cruzamento rasteiro para – novamente – o calcanhar de Yusupha quase fazer um golo de antologia; quase, porque o barbudo guarda-redes do FCP fez uso de reflexos rápidos para evitá-lo, com uma boa defesa!
Seguiu-se um jogo ríspido, com vários amarelos de parte a parte.
Aos 40 minutos, um lance típico de Felipe: falha um corte, aparentemente fácil, – com Kuca a aproveitar para levar a bola para junto da baliza de Sá – mas recupera posição na raça e desarma, com categoria, para canto.
Ainda antes do final da primeira parte, um dos poucos cruzamentos perigosos de Alex Telles tem como destinatário Corona, com o mexicano a ser infeliz no remate e a perder uma boa ocasião.
Ao intervalo, um insípido nulo era mais penalizador para os preto e brancos, mas eram os dragões que tinham mais a perder. Talvez por isso, foram os dragões a entrar na etapa complementar mais decididos a mudar o rumo dos acontecimentos.
Logo aos 5 minutos, Aboubakar recua para ajudar na construção do ataque e faz um túnel a um médio boavisteiro, depois abre em Jesús Corona, que cruza da direita – ainda antes da latitude da área adversária – , encontrando Brahimi ao segundo poste; num entendimento africano, o argelino assiste o goleador camaronês, que só tem de encostar para inaugurar o marcador.
Todavia, as panteras não se retraem e, aos 57 minutos, o especialista Fábio Espinho cobra um livre tenso que desvia na cabeça de Héctor Herrera e quase acaba na baliza do FC Porto.
O jogo continua de parada e resposta: uma incursão individual de Brahimi, pela esquerda, acaba num remate fraco e à figura de Vagner; do lado contrário, Fábio Espinho – novamente – cruza perfeito da direita e o recém-entrado Mateus antecipa-se a Ricardo Pereira, dominando de peito mas “pegando” mal na bola e chutando enrolado, ao lado.
Aos 75 minutos, entra o ex-FC Porto B Leonardo Ruiz para o lugar do esgotado Yusupha e Rochinha pelo central Sparagna, com esta última a revelar-se uma substituição infeliz, mas à altura era uma opção que fazia todo o sentido: a perder, há que correr riscos para tentar, pelo menos, empatar.
O problema foi mesmo a interpretação desta posição híbrida – central/trinco – por parte do senegalês: apenas 2 minutos depois, Ricardo faz um passe em profundidade para Herrera, que lhe ganha em velocidade, mas falha clamorosamente no remate, quando tinha Aboubakar em boa posição. O mexicano, de resto, foi um elemento muito em jogo, mas falhava no momento da definição, ao longo do jogo.
Aos 79 minutos, André André – entrou muito bem – rodopia e tenta endossar para Herrera, a bola sofre um ressalto e chega mesmo ao destinatário que, desta vez, passa simples para Marega: o maliano beneficia do péssimo controlo de profundidade de Idris, e executa como se de um prodígio se tratasse – com o canto exterior da chuteira e colocadíssimo – para o fundo das redes. A partir daí, o jogo estava praticamente ganho para os azuis e brancos.
Aos 85 minutos, André André faz um dos seus passes simples, mas muito eficazes, para Brahimi que, após uma má recepção inicial, consegue progredir e – apesar de ter Marega completamente livre de marcação – remata junto ao poste mais distante, fora do alcance do guarda-redes visitado.
Já sobre o apito final, Yacine Brahimi descobre Marega e, desta vez, solta na altura certa, com o possante avançado a rematar de primeira, violentíssimo, ao poste. Era o último lance de um jogo mais complicado do que o resultado indica, para os líderes do campeonato português.
No final, os pupilos de Sérgio Conceição agradeceram aos milhares de adeptos que se deslocaram ao Bessa, brindando-os com aplausos e camisolas de jogo, não abandonando o relvado sem a habitual roda motivacional, onde todos – até o suplente Casillas – se abraçam em harmonia!
O Boavista, apesar do desaire, segue tranquilo na competição, sendo uma equipa que transmite aos seus adeptos e aos adeptos de futebol, que está de volta aos bons velhos tempos!
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.