De todos os filmes, até agora, vertidos nesta rubrica do “Em Tela”, este é, claramente, o menos consensual. Contudo e paradoxalmente, comporta o mesmo, em igual medida o esteticamente melhor arquitetado. “The Square”, um filme sueco, nomeado para melhor filme estrangeiro em 2018, traz-nos para grande ecrã a arte da divergência, transcendendo o paradigma social sueco desde as elites às pessoas em situação de sem abrigo.
É este um bem estruturado apelo à consciencialização da hipocrisia por vezes associada à caridade e aos direitos humanos. Debruça-se sob a indiferença, a apatia e o desinteresse pelas realidades alheias, pelas desigualdades perpetuadas e confortavelmente estimuladas pelos nossos comportamentos e juízos predefinidos. Juízos estes que, como nos mostra o filme, todos temos, mesmo que não os admitamos.
Para além de uma perspetiva particular e ponderada sob as conceções da arte contemporânea, esmiúça-nos, através das artes e do dia a dia num conceituado museu, as falsas camadas das elites intelectuais, cuja atuação se baseia e reduz a aparências e realidades distantes. Com o recurso a um constante humor ácido e amargo, acompanha-nos, o filme, a vida de Christian, com todo o seu individualismo, a sua arrogância e paternalismo para os que este via e considerava inferiores. E tudo isto era vertido nas suas contradições – que são também as nossas contradições, aqui acentuadas -, em que qualquer ação adotada pelo mesmo gera uma certa e ponderada reflexão no espetador.
A história desenvolve-se, como indicado, à volta de Christian, gerente de um museu. Vem este manifestando a cada comportamento ao longo do filme, traços questionáveis da sua personalidade, aparentemente exímia. Denota-se claramente isso na frieza instrumentalizada através de todas as formas e mais algumas de promover o sucesso das suas novas exposições. Explora ainda o peso dos média na construção da personalidade das elites e como a aparente preocupação com o outro é uma arma.
Sem prejuízo a tal, é louvável a desconstrução social perpetuada, ao longo do filme, pela personagem e o autorreconhecimento da sua própria hipocrisia para com a vida em geral.
O filme encontra-se disponível no FilmIn.
Vejam o trailer aqui: