A uma primeira vista desarmada, “Arrival” aparenta ser mais um filme de ficção científica onde seres interplanetários invadem a Terra, colocando a sobrevivência da espécie humana em causa – leitura, por sinal, bastante simplista e redutora. Deste resulta uma nova perspetiva sobre os tradicionais filmes de ficção científica, num hino à necessidade de comunicação e diálogo intercultural. Neste caso, “diálogo interespacial”, se é que esta designação sequer existe.
Vemos, o filme, através da intelectualidade e do humanismo da Dra. Louise Banks – interpretada, e com devido mérito, pela aclamada Amy Adams –, que é professora universitária em estudos linguísticos e culturais. Dado o seu currículo, é chamada, pelo exército norte-americano, numa tentativa de estabelecer um primeiro contacto com seres – salvo a expressão – “alienígenas”, cujas naves aterraram no planeta Terra. Doze naves aterram em diferentes partes do globo sem justificação aparente e, como é obvio, o medo – provocado pela insegurança do desconhecido – instalou-se um bocado por todo o lado. Sinais mal interpretados, problemas de comunicação e a compartimentação do ‘nós’ e ‘eles’ estão presentes ao longo de todo o filme, conduzindo a decisões precipitadas.
Dra. Louise confronta-se com um estilo de linguagem totalmente diferente, adotada pelos hectapods (os aliens do filme). Algo vai acontecendo ao longo da narrativa e à medida que Louise começa a entender e a “reprogramar” o cérebro consoante a nova língua que os seres extraterrestres, aparentemente, falam.
O filme mostra, através de uma metáfora – outra vez, “interespacial” – como o ser humano tem muito pouca consideração pela diferença, resultante do medo pelo que não se assemelha a ele e, consequentemente, como daqui nasce o preconceito. Percebemos como os nossos mecanismos de comunicação não verbal e intercultural são parcos e pouco desenvolvidos e como isto origina muros e barreiras culturais, devidamente alicerçadas, e difíceis de superar.
“Arrival” traz-se uma cinematografia e fotografia quase poética – numa constante oscilação entre presente e passado, com, respetivamente, tons frios e quentes que visam transmitir uma triste nostalgia -, acompanhada por uma intensa e profunda trilha sonora. O filme fala-nos, por fim, de amor, de família e de tudo o que estamos a dispostos a fazer por quem amamos, mesmo que desse amor resulte sofrimento. Desta conjugação resulta um filme emocionante e que visa abordar temas fraturantes da nossa atualidade.
Estrelas: 10 em 10