EM TELA: Almas que se Reencontram (“Past Lives”)

Na onda dos Óscares, nomeado para Melhor Filme e Melhor Argumento Original está “Past Lives”, escrito e realizado por Celine Song, um filme muito bonito, poético e carregado de subtexto.

No filme, Nora e Hae Sung são dois amigos de infância muito próximos que se separam quando a família de Nora emigra da Coreia do Sul. A viagem dos dois segue o seu rumo e eles acabam por se reencontrar 20 anos depois.

O filme está carregado de subtexto, onde um simples olhar terno diz tudo e que, na minha opinião, é um dos trunfos do filme. A ausência de palavras não significa a falta de conexão entre dois seres humanos e muitas vezes o que fica por dizer é tão ou mais importante do que uma conversa usual. Celine Song transporta esta poesia de emoção para o ecrã com uma doçura que enternece a alma.

Independentemente do rumo da vida dos protagonistas, e de como eles estão equilibrados emocionalmente (ou parecem), há sempre algo que fica para trás, uma vida passada que podia ser vivida se os acontecimentos fossem outros. O desempenho dos actores faz com que as personagens que eles interpretam nos cheguem ao coração, nós acreditamos nelas e mesmo tendo elas bastantes certezas, acabam por se confrontar com a magia do reencontro e expor todas as suas angústias sentidas ao longo dos anos e que vêm à tona, como se um furacão emocional as destruísse por segundos.

O filme não se apressa a criar uma narrativa forçada, ao invés disso ele respeita o seu tempo, dá ênfase aos momentos dos dois protagonistas em paralelo e de como a vida deles muda ao longo do tempo, para depois dar lugar ao tão esperado momento de reencontro e de como isso altera (se de facto altera) as suas vidas e a percepção deles das mesmas. Mais do que um filme para nos emocionar ou para chorarmos com ele, é um filme que nos deixa a pensar. Um pouco como o amor. Deixa-nos pensativos, num misto de angústia e desejo.

Estamos perante um filme em que a poesia acontece perante os nossos olhos, através do ritmo de vida dos protagonistas e da escrita do argumento.

Como é que será que duas almas que não se vêem há muito tempo ficam quando se reencontram?

Será que desabafam sobre estas tais vidas passadas?

Será que, nos silêncios de ambos, nas suas solidões, elas se conectam uma com a outra?

Estrelas: 10 em 10

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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