EM TELA: “O Vigarista” – “Ripley”

Em Tela, Ripley

Tom Ripley. Famoso personagem das histórias de Patricia Highsmith, adaptadas ao cinema várias vezes, sendo talvez a mais conhecida o filme de 1999 “The Talented Mr. Ripley”, de Anthony Minghella, no qual, Matt Damon interpreta Ripley, um farsante, que falsifica assinaturas, imita vozes, vive a vida de outros, enquanto carrega em si várias mentiras. No presente ano de 2024, surge pela mão da Netflix, uma série de oito episódios realizados por Steven Zaillian, que escreveu “The Irishman” (2019) e “Schindler’s List” (1993).

Andrew Scott interpreta Ripley, numa performance de alto gabarito, refinada e carregada de charme e psicopatia. O actor consegue não só manter uma postura fria como também dar bastante humanidade a uma personagem que facilmente chamaríamos de vilão, logo é muito fácil criar empatia pela personagem. Considero até que este é um dos pontos altos da carreira de Scott. Dakota Fanning, Johnny Flynn e Maurizio Lombardi também suportam esta narrativa e este elenco.

A premissa da série estabelece-se nos anos 60, em que um homem chamado Tom Ripley é contratado por um outro homem para trazer de volta o filho, que está em Itália. Tom aceita o caso e é a partir desse momento que começa um jogo macabro de farsas.

Em primeiro lugar, o que chama a atenção na série, é o facto de os oito episódios terem sido filmados inteiramente em preto e branco, o que confere um tom misterioso e noir. Muito ao estilo Hitchcock. Zaillian pela ausência de cores exactamente por o preto e branco dar um tom negro e sinistro.

Em segundo lugar, a fotografia. Sublime. As paisagens de Itália acompanhadas pelo preto e branco da imagem enchem o olho.

A banda sonora composta por Jeff Russo, com canções italianas dos anos 50/60, dá brilho sonoro à série e ambienta os nossos ouvidos, transportando-nos para a época em questão e criando uma magnífica partitura.

Em último lugar, e não menos importante, toda a série funciona como aula de pintura. Durante os oito episódios somos presenteados com milhentos quadros, muitos deles do pintor italiano Caravaggio, que, no seu tempo, tinha uma reputação violenta e chegou a ser acusado de homicídio. Muito parecido com a figura de Ripley, diga-se de passagem. Mas voltando aos quadros. Eles parece que nos dizem coisas, as pinturas emanam sons, olham para nós. A maneira como a câmara foca em cada expressão das figuras pintadas é quase sinistra. Parece que seguem Tom Ripley onde quer que ele vá. Excelente adição de pinturas, não só para quem não conhece o pintor se inteirar da sua obra, mas também porque dão requinte à série. Por vezes, um frame de um determinado quadro de Caravaggio é o suficiente para nos deixar alerta.

Com esta brilhante adaptação do material literário de Patricia Highsmith, a Netflix expande mais uma vez terreno o seu catálogo de séries, que já conta com grandes produções. Recomendo vivamente, não só a quem não conhece as histórias de Ripley, como também a quem conhece.

Estrelas: 10 em 10

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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