Este domingo, 20 de abril, celebra-se a Páscoa em muitas culturas. Esta data comemorativa está ligada, em parte, ao Carnaval no que diz respeito à sua origem.
Há várias teorias sobre como surgiu o Carnaval, mas sabe-se que, em 590 d. C., a religião católica decidiu incluir a tradição pagã de festejar para agradecer a produção agrícola nas celebrações religiosas da Páscoa.
Nos dias que antecedem a Páscoa, que simboliza, para os cristãos, um período de tristeza e de reflexão pela morte de Jesus Cristo, realiza-se, por isso, uma grande festa em que todos os excessos são permitidos.
Atualmente, os países católicos usam o calendário gregoriano que tem por base o calendário solar usado pelos Romanos, mas existem várias celebrações católicas que ainda são agendadas de acordo com o calendário lunar. Entre elas, está a Páscoa, uma vez que é uma data móvel. O Carnaval é comemorado sempre a uma terça-feira, 40 dias antes do primeiro domingo que se segue à primeira lua cheia que assinala o equinócio da primavera (altura em que se assinala a morte e ressurreição de Jesus Cristo ou domingo de Páscoa).
Na Idade Média, durante o período da Quaresma (os 40 dias que antecedem a altura que assinala a morte de Jesus Cristo), as pessoas deixavam de comer carne. Assim, os dias antes da Quaresma passaram a ser conhecidos como “carne vale” que em latim quer dizer “Adeus carne”, daí a palavra “Carnaval“.
Já a palavra “Entrudo” (usado como sinónimo de Carnaval) provém do latim “introitus” que significa “entrada”. No Entrudo, as festas pagãs celebram a entrada/chegada da primavera e, na religião cristã, comemora-se a entrada ou início da Quaresma.
Quaresma
A Quaresma começa na chamada Quarta-feira de Cinzas, logo a seguir à terça-feira de Carnaval, sendo comum fazer-se algum jejum e abstinência de carne, sobretudo na religião católica. É um dia de transição entre a folia e o período de “preparação” para a Páscoa.
Este período de 40 dias até à Páscoa (mais especificamente, até à Quinta-feira Santa) é de reflexão, penitência e preparação espiritual. Em todas as sextas-feiras deste espaço de tempo é habitual não comer carne e ser um dia de alguma abstinência/sacrifício, uma vez que é considerado que Jesus Cristo morreu numa sexta-feira (daí chamar-se Sexta-feira Santa à última sexta-feira antes do Domingo de Páscoa).
Semana Santa
Na Igreja Católica, chama-se Semana Santa à semana que antecede o Domingo de Páscoa. O domingo anterior é Domingo de Ramos, que celebra a entrada de Jesus Cristo, em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, a Morte e a Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde Jesus Cristo passaria montado num burro.
Com isso, o Senhor despertou nos sacerdotes da época e mestres da Lei inveja, desconfiança e medo de perder o poder, então, começou uma trama para condená-Lo à morte.
Neste domingo, os católicos costumam levar ramos para a missa para serem benzidos e são depois levados para casa para protegerem e darem sorte.
Também há a tradição de os afilhados oferecerem flores ou ramos aos seus padrinhos e madrinhas, os quais, no domingo seguinte, retribuem o gesto com o “folar” (prenda da Páscoa).
Segunda até quarta-feira Santa
Na Segunda-feira Santa, proclama-se, durante a missa, o Evangelho segundo São João. Seis dias antes da Páscoa, Jesus chega a Betânia para fazer a última visita aos amigos de toda a vida e anuncia que a Sua hora havia chegado.
Até quarta-feira, são dias de reflexão e preparação para os momentos mais importantes da Semana Santa. Algumas igrejas realizam procissões e celebrações penitenciais.
Quinta-feira Santa
Neste dia, celebra-se a Última Ceia de Jesus com os seus discípulos. É tradição realizar-se a cerimónia do lava-pés, que simboliza o serviço e a humildade, e as igrejas costumam ficar abertas para adoração ao Santíssimo Sacramento.
Antes da Missa da Ceia do Senhor, o bispo ou o padre lava os pés a 12 pessoas da comunidade que representam os 12 apóstolos, comemorando o que fez Jesus, como compromisso de estar a serviço da comunidade, para que todos tenham a salvação.
Terminado este rito, segue-se a Missa da Ceia do Senhor, dominada pelo sentimento do amor de Cristo que, na véspera da sua Paixão, enquanto comia a Ceia com os discípulos, instituiu o Sacrifício-Sacramento da Eucaristia, como memorial da sua Morte e Ressurreição a celebrar, tornando-o sempre atual: “Durante a ceia, tomou o pão dizendo – ‘Tomai e comei. Isto é o meu corpo, entregue por vós.’ Do mesmo modo, tomou o cálice e, dando graças, deu-o aos discípulos dizendo – ‘Tomai e bebei todos. Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim’”.
A palavra “Eucaristia” provém de duas palavras gregas “eu-cháris”, que significa “ação de graças”, e designa a presença real e substancial de Jesus Cristo sob as aparências de pão e vinho.
Terminada a missa, a assembleia canta a hora de Vésperas, enquanto o chamado Cristo vivo presente na Hóstia consagrada é conduzido em procissão pelas naves da catedral para um lugar de adoração (a representar o Monte das Oliveiras), onde permanecerá até ser dali retirado, também processionalmente, no dia seguinte, para o sepulcro. Os fiéis são convidados a velarem com Ele, na hora da sua Paixão. Em sinal de luto, o altar é desnudado.
Com esta celebração, é iniciado o Tríduo Pascal: Quinta-feira santa, Sexta-feira Santa e o Sábado Santo.
Neste dia também acontece a cerimónia que consagra os Santos Óleos, que serão levados pelos presbíteros para as suas paróquias a fim de servirem para ungir os batizandos e os doentes durante o ano. São três os óleos abençoados nesta celebração: o do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos.
Sexta-feira Santa
É dia de luto e reflexão sobre a crucificação e morte de Jesus e não são celebradas missas, mas sim a celebração da Paixão do Senhor, com a leitura dos relatos da Paixão e a adoração da Cruz. Muitas localidades realizam procissões do Senhor Morto.
Há um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da santa cruz, momento em que esta é apresentada solenemente à comunidade.
Ao longo da Quaresma, muitos fiéis realizam a Via-Sacra como uma forma de meditar o caminho doloroso que Jesus terá percorrido até a crucificação e morte na cruz. Em muitas paróquias e comunidades, é realizada a encenação da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo por meio da meditação das 14 estações da Via-Sacra.
Sábado de Aleluia
É considerado um dia de espera e esperança na ressurreição de Cristo. À noite, durante algumas horas, celebra-se a Vigília Pascal, a celebração mais importante do ano litúrgico, que marca a passagem das trevas para a luz, da morte para a vida, com vários momentos: bênção do fogo, procissão do Círio Pascal (vela grande e branca que representa a luz de Cristo; é um dos símbolos mais importantes da Vigília Pascal e é usado durante todo o Tempo Pascal) e Proclamação da Páscoa.
Domingo de Páscoa
É o dia santo mais importante da religião cristã, em que é celebrada a ressurreição de Jesus Cristo, o ponto alto da Semana Santa. É um dia de alegria e festa, com missas solenes e convívio familiar.
Do hebreu “Pessach”, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade.
Neste dia (e, em alguns casos, ainda nos dias seguintes), o Compasso Pascal (uma cruz decorada) é levado pelo padre e acólitos às casas das famílias, que beijam a cruz em sinal de fé e recebem a bênção.
A mesa da Páscoa é farta e variada, na qual o prato principal é, geralmente, o cabrito assado, mas também se consomem outras carnes, como borrego ou vitela. Os enchidos, como o presunto e o salpicão, também marcam presença, bem como o pão de ló e o folar como sobremesa.
Alguns símbolos da Páscoa
Folar: O folar é um pão doce ou salgado, tradicionalmente oferecido pelos afilhados aos padrinhos e pode conter um ovo (ou mais) no interior. Existem diversas receitas regionais, mas o folar doce é frequentemente decorado com ovos cozidos.
Ovos da Páscoa: Os ovos da Páscoa, de chocolate ou pintados, são um símbolo de renascimento, começo da vida e fertilidade e são oferecidos às crianças.
Amêndoas: As amêndoas, geralmente confeitadas ou de chocolate, são outro doce típico da Páscoa, simbolizando a vida nova.
Coelho da Páscoa: O coelho é símbolo da fertilidade e ressurgimento da vida.
Pelo país, são várias as celebrações realizadas e bem conhecidas nesta altura do ano, como é exemplo: a Semana Santa de Braga; em Óbidos, recriam-se os últimos momentos da vida de Cristo na Via Sacra; em Castelo de Vide, as tradições judaicas enriquecem as celebrações; em Loulé, são as Festas da Mãe Soberana que atraem muitos visitantes; em Constância, realizam-se coloridas procissões de barcos nas Festas da Senhora da Boa Viagem.
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