A transparência é (deveria ser) um valor fundamental na atuação política. Um bom Governo deverá ser, portanto, transparente.
Infelizmente, em vez de um Governo transparente temos um Governo traz parente. (Ou aparentado politicamente)
A diferença (das palavras) é pouca, mas a importância (do assunto) é muita: nos últimos dias, soube-se que o Governo escancarou a porta de altos cargos da Administração Pública a mais de 140 amigos, perdão, pessoas.
A situação não é nova – bem sei – mas é preocupante. E tem uma agravante: foi feita, na sua esmagadora maioria, sem concurso público como impõe a lei. Resumindo: emprego para os amigos sim, concurso é que não.
A CRESAP – órgão que, não sendo perfeito, é uma tentativa positiva de evitar os clientelismos no Estado – não foi tida nem achada. Facilmente se percebe porquê: o ladrão também não chama a polícia para vigiar o assalto.
Esta prática de colocar amigos, perdão, pessoas, a comandar direções gerais, institutos ou centros distritais disto e daquilo não é inédita. Inédita será, porventura, a quantidade e a velocidade das nomeações: cem dias, mil nomeações.
Neste banquete de distribuição de lugares, o maior número cabe ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, liderado por Vieira da Silva. E aqui, vejo-me obrigado a ‘tirar-lhe o chapéu’. Raramente se viu um Ministro a, com apenas um golpe, dar uso simultâneo a todos os pelouros do seu ministério: arranjou Trabalho para amigos, demonstrou Solidariedade para com eles e, pelo caminho, ainda arranjou novos contribuintes para a Segurança Social.
Como diz o ditado: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte”. Estes senhores não têm nada de tolos e arte não lhes falta…
O problema é que, à custa dessa arte, em vez de um Estado transparente, ficamos com um Estado (entupido) de ‘parentes’.
Este autor não escreve escreve segundo o novo artigo ortográfico.
Emanuel Bandeira, licenciado em Direito