“Nós somos o mundo” é o titulo de uma canção cheia de significado e verdade. Se nos dermos aos outros, todos os dias, com sinceridade, com afeto, amor e alegria, não só faremos o nosso dia brilhar como o dos outros e marcaremos a diferença com as nossas atitudes.
Este artigo pretende ser um texto de alerta e reflexão para todos nós que vivemos em sociedade e somos regidos por leis e regras de conduta. Escrevo, esta semana, sobre as barreiras que, todos os dias, as pessoas com qualquer tipo de deficiência e idosos se vêm obrigados a enfrentar.
O que a nossa sociedade tem feito por estes cidadãos? Alguns melhoramentos, mas ainda falta muito para que todos os cidadãos com mobilidade reduzida se sintam incluídos e possam desfrutar com serenidade do meio ambiente que a todos rodeia e pertence.
Quando deambulo pela cidade reparo em como os passeios, feitos com paralelos pequenos, estão cheios de ondulações, buracos, excrementos de animais de estimação e outras sujidades, para além de escorregadios.
Já vi pessoas idosas a caírem nestas armadilhas citadinas, a ficarem feridas, com fraturas ósseas, quando, por sorte, não batem com a cabeça no chão e a juntar a toda a situação desconfortável e dolorosa somarem um traumatismo craniano com todas as consequências inerentes. Pergunto: os culpados onde estão? Foram penalizados? Indemnizaram as pessoas que se magoaram nestas circunstâncias? Repararam e melhoraram o que estava errado?
Como se não bastasse, a juntar a tudo isto, a falta de higiene e civismo de grande parte da população, que cospe e urina na via pública, atitudes vergonhosas e indesculpáveis.
Estes e outros comportamentos deveriam ser penalizados com multas que reverteriam a favor da construção de melhores acessos a todos quanto deles precisam.
Ainda relativamente aos passeios, de salientar que os rebaixaram junto das passadeiras, que muitos automobilistas teimam em não ver, mas cujo rebaixamento não é, em todos os casos, suave, mas sim, mais uma ondulação que dificulta a locomoção das pessoas idosas, dos invisuais e dos que se deslocam em cadeira de rodas.
O que falta fazer em relação a espaços turísticos? Alguns aperfeiçoamentos: rampas suaves, pavimento táctil para deficientes visuais e adequados às cadeiras de rodas; parques de estacionamento adaptados e facilitadores da acessibilidade.
Edifícios públicos como: museus, bibliotecas, igrejas, cinemas, teatros, palácios e castelos devem derrubar barreiras arquitetónicas, no sentido da inclusão de todos quantos se vêm afastados pelas suas limitações físicas.
De ressalvar que o Museu de Arte Moderna, em Serralves; o Palácio de Cristal; a Casa da Música; e o Parque da Cidade já permitem a inclusão de pessoas com qualquer tipo de deficiência.
Os edifícios habitacionais devem ser arquitetados de forma a garantir a inclusão de todos os cidadãos e os elevadores devem ter dimensões suficientes para permitir a entrada de todo o tipo de cadeiras de rodas.
Transportes públicos: o metro é acessível a cadeira de rodas, contudo, as máquinas de carregamento do andante são totalmente inacessíveis aos invisuais. Nos autocarros, as plataformas para cadeira de rodas nem sempre estão operacionais, por outro lado, o estacionamento de automóveis junto das paragens, dificulta grandemente a saída das pessoas com mobilidade reduzida, criando situações de constrangimento. Em camionetas de longo percurso, estas plataformas, em alguns casos, não existem, mas os degraus nestes veículos são uma dura realidade para todos os cidadãos idosos, invisuais, pessoas portadoras de cadeira de rodas e até para crianças de tenra idade.
As centrais de transportes deveriam ter instalados, em pontos estratégicos, altifalantes anunciando as paragens correspondentes aos vários destinos de cada camioneta e, dentro destas, existir o aviso sonoro das paragens, uma mais-valia para quem não vê. A falta de informação sonora nas estações de metro ou comboio, ou o descontrolo, ocasional, daquela é mais um contratempo na vida das pessoas com deficiência visual.
Os motoristas deveriam ter o cuidado de estacionar ou abrandar junto das paragens, porque os invisuais não sabem que se aproxima um autocarro e, muito menos, para onde ele vai, mais atenção e humanidade, nunca são demais. Quando as portas do autocarro se abrem, ou mesmo das camionetas, é fundamental que exista um aviso sonoro identificando o transporte, o seu número e destino.
A colaboração de todos nós deve ser encarada como um dever cívico e nunca nos devemos furtar a auxiliar todos aqueles que precisam de ajuda.
A ausência de sinal sonoro nos semáforos, em alguns pontos da cidade, é mais um obstáculo na vida de um invisual. A manutenção destes deve ser constante. Encostar escadotes aos postes dos semáforos, não é uma atitude que se consinta, ou mesmo placas sinalizadoras de obras, junto ou em cima dos passeios, onde se deslocam pessoas com dificuldades visuais e de mobilidade. O estacionamento de veículos sobre os passeios é outra atitude reprovável, porque aqueles foram feitos a pensar na deslocação dos peões, que se vêm forçados a ir para a rua e sujeitarem-se a serem atropelados. Agora, imaginem o que pode acontecer se se tratar de um invisual.
Nos cinemas e teatros, é aconselhável a existência da áudio-descrição, para além de rampas suaves que facultem o acesso de cadeira de rodas, propiciando a deficientes motores e invisuais o acesso a estes lugares de lazer. Nalguns museus já existe o áudio-guia. Os sanitários públicos devem ser usados por todos sem que se esqueçam as regras básicas da boa higiene. Com atitudes cívicas, estaremos a cuidar da nossa saúde e da saúde dos outros.
As esplanadas junto das praias já têm plataformas que facilitam a deslocação de cadeira de rodas, mas aquelas não se prolongam até à beira-mar e ainda não vi pessoas integradas no pessoal nadador-salvador a ajudarem alguém que não consiga banhar-se, sozinho nas águas do mar. Penso que deveria existir sempre essa possibilidade, porque só quando nos deparamos com a imobilidade é que sentimos uma maior necessidade de algo que às páginas tantas não sentimos quando algo é um dado adquirido.
Entretanto, foram criadas ferramentas com impacto evidente na vida das pessoas com mobilidade reduzida, por empresas privadas, estou a referir-me a telemóveis que proporcionam a procura de lugares turísticos e não só, que têm acesso fácil a todos que dele precisam. Contudo, pergunto se todos os portadores de deficiência terão recursos financeiros para usufruir de tais vantagens.
A Associação Salvador Mendes de Almeida ambiciona a construção de um Portugal mais acessível para portadores de deficiência. Contudo, todos nós devemos colaborar com estas associações, fazendo donativos que serão aplicados na melhoria e bem-estar de todos os que precisam.
Devemos ser solidários uns com os outros e muito mais para todos os que sentem limitações inerentes à sua idade ou condicionados por qualquer tipo de deficiência.
Todos nós estamos sujeitos a adquirirmos limitações, provocadas por acidentes ou por falta de saúde.
Vou terminar com as palavras de Salvador Mendes de Almeida: “O mais importante é a pessoa aceitar-se, conseguir definir objetivos, saber o que a faz feliz e lutar por isso”.