Já sentiram o peso desta palavra? É dolorosa. Queima. Mata aos pouquinhos. Marca a existência de quem a tem por companhia, de forma indelével.
A solidão acompanha, como se de uma sombra se tratasse, a pessoa que dela padece. Enche todos os espaços dentro de uma casa, tornando-a assustadoramente grande e desconfortável.
Há medos que se instalam na mente das pessoas que dela sofrem, há lágrimas que escorrem pelas faces marcando sulcos à sua passagem.
As noites são longas e os amanheceres são muito tristes. As refeições, sem companhia, perderam o sabor e a alegria de outros tempos.
Se ainda existe mobilidade, sair para a rua é uma solução. Contudo, até aí ela marca a sua presença. Caminhando ao longo do passeio, sente-se o pulsar frenético das pessoas que têm um destino certo e rotineiro. Não há tempo para que elas possam observar o que as rodeia e a pessoa que deambula pela cidade, à procura de uma maneira de matar a solidão, que a persegue há muito tempo, não consegue.
São ótimas as amizades, se forem verdadeiras, porque proporcionam algum conforto, ainda que momentâneo, às pessoas que sofrem de solidão. Mas depois a noite chega e recomeça tudo. A televisão é uma companhia fria e não substitui a presença de alguém, que era importante nestas vidas feitas de ausência.
Há um vazio imenso que faz pensar nas piores situações destas vidas.
Os hospitais recebem muitas pessoas doentes, sós e idosas. Graças à existência de técnicos e auxiliares de saúde, bem como voluntários, são preenchidas as lacunas de que sofrem estas pessoas. Pelo menos, enquanto lá estiverem, não lhes faltará atenção, mimo, companhia e alimento. Muitos são encaminhados para lares de terceira idade, pelos serviços de assistência social, sempre atentos a estas tristes situações.
Contudo, nada substituirá, a casa onde um dia, houve vida, alegria, risos, amor e choros partilhados. Vai havendo, por parte das autoridades, cuidados em relação a estas pessoas que vivem com a solidão como companhia. Passam pelas suas casas e verificam se está tudo bem, se precisam de ajuda em algumas tarefas que a idade vai limitando na sua execução. Felizmente, também há vizinhos atentos e solidários que ajudam os mais idosos, que só com eles podem contar.
É urgente dedicarmos tempo às pessoas que se encontram sós e vulneráveis. Os nossos pais e avós merecem a nossa atenção e não há desculpa aceitável para os deixarmos sós e entregues à sua sorte. Se soubermos gerir bem o tempo, não faltará oportunidade para estarmos sempre prontos a auxiliá-los, a integrá-los nos nossos lares, nos nossos quotidianos.
É urgente deixarmos de ser egoístas e lembrarmo-nos dos nossos amigos, ou vizinhos que sofrem de solidão e dedicarmos tempo a eles. Muitas das vezes, as pessoas sós precisam apenas de ser escutadas e entendidas, necessitam de serem incluídas nas nossas existências.
Abraços, palavras de afeto, risos, passeios, leitura de livros, escutar belas melodias a dois ou em grupo é um bom elixir para as almas das pessoas que vivem de muitos momentos de silêncio.
A solidão não atinge apenas as pessoas com mais idade. Ela faz companhia a muitas vidas, pautadas pela falta de motivação, criada por uma sociedade egoísta e muito pouco inclusiva.
É urgente mudarmos os nossos comportamentos, para benefício de todos.
Vou deixá-los, esta semana, com o poema de: Mia Couto
Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio (…)