OPINIÃO: Um indivíduo adapta-se

Um gajo deve adaptar-se às circunstâncias. Caso contrário, vaguear pelas entrelinhas da existência – não queiram desencadear esta discussão via virtual – assume uma perda de tempo. Toda a gente é o pináculo do “mais-que-fazer”, a esmagadora maioria é a cara-metade do “nunca tenho tempo para o que quero” e alguns (alguns só) andam de braços dados com o célebre queixume “estou farto de não fazer nada”. Engraçada esta última expressão. E não venham dizer que nunca a utilizaram. O único – reitero, o único – com esse poder é o Joe Berardo.

Um indivíduo. Como não frequentava um café, o autor retirou os dois pedúnculos de cima da mesa e alterou o sujeito. Dizia… um indivíduo aborrece-se com muito, com pouco, com quase nada, com nada, com quase tudo e com tudo. Além disso, um indivíduo aborrece-se com o facto de não ter tema de escrita. Quer dizer, “não ter” não parece ser a melhor designação. Ter até tem, mas aparece sempre tudo tratado antes de o próprio lançar a temática aos leões. Outra expressão caricata. Se o jornalismo for o caminho a trilhar, mais vale pavimentar o chão com calçado confortável. O que é feito de celeridade da transmissão da mensagem?

Um indivíduo, com o combate desta problemática em mente, até pode comprar os jornais que instigam a sua preferência ou assinar digitalmente a coisa (a morte do papel, o sucumbir das redações físicas, silêncio), ler artigos/notícias/reportagens/entrevistas/crónicas até ao fim – sublinho – e malbaratar caracteres de Word a seu bel-prazer. Procurar os acontecimentos tidos e dados como insólitos (algures no JN) ajuda e é mote para a produção de conteúdo não-literário. Ou então compilar textos de Jaime Nogueira Pinto, Joana Amaral Dias e Sebastião Bugalho, por exemplo. São dois métodos distintos que adentram pela farra.

Ah, as expressões! Foram o prólogo do meu texto e agora não tenho abrigo nem guarida para lhes oferecer. Desprezei instrumentos repletos de vigor e não previ a capacidade de mutabilidade que possuem. Vão virar-se contra mim? É provável que sim. Resta dar-lhes tempero e cozedura. Repare na confeção:

Alimento 1: “Quer saber mais sobre os 26 anos envoltos na questão da eutanásia?

Tenho aqui os highlights dos debates sobre o tópico e os respetivos bloopers”. “Desculpe, mas tenho mais que fazer!” – responde a panela.

Alimento 2: “Oh, eu nunca tenho tempo o que realmente quero. Vou despedir-me, ficar fechado em casa até dia 4 de dezembro de 2021 e acompanhar as eleições internas do PSD ao pormenor. É tempo de pensar mais em mim”. “Estamos fartos de não fazer nada para que se edifique uma oposição forte e capaz de incomodar” – respondem vários alimentos em uníssono.

Alimento 3: Não resta nada a não ser lançar o partido a novas legislativas.

A 30 de janeiro, Portugal come cru, cozido, grelhado, assado, frito, escalfado, etc. Um indivíduo adaptar-se-á às circunstâncias.

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