EM TELA: O fim de uma amizade e o desespero

(“Os Espíritos de Inisherin”)

Com a 95.ª cerimónia dos Óscares quase a chegar, apresento-vos “Os Espíritos de Inisherin”, um filme de 2022 escrito e realizado por Martin McDonagh, que também realizou projectos como “Em Bruges” (2008) e “Três Cartazes à Beira da Estrada” (2017), e que conta com interpretações de Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, Barry Keoghan, entre outros.

O filme está nomeado para nove estatuetas douradas, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Actor (Colin Farrell), Melhor Actor Secundário (Brendan Gleeson e Barry Keoghan), Melhor Actriz Secundária (Kerry Condon), Melhor Realizador, Melhor Montagem, Melhor Banda Sonora Original (a cargo de Carter Burwell), e Melhor Argumento Original.

A história desenrola-se na década de 1920, numa ilha na Irlanda, Inisherin, e acompanha dois homens, Padraic (Farrell) e Colm (Gleeson), cuja amizade de longa data é inesperadamente terminada por um deles e que terá consequências trágicas para os dois. Destaque em primeiro lugar para as sublimes interpretações de Colin Farrell e Brendan Gleeson (que anteriormente tinham também trabalhado juntos em “Em Bruges”), que se entregam de corpo e alma aos papéis, especialmente, na minha opinião, Colin Farrell, que, num primeiro momento se interroga constantemente e está desesperado, para, no momento a seguir, desenvolver uma raiva que se espalha por toda a gente que ele encontra no caminho e que, como foi mencionado, terá graves consequências, sendo bastante expressivo e demonstrando uma paleta de emoções diversificada.

Uma salva de palmas também para as performances secundárias de Kerry Condon e Barry Keoghan, que se vêm envolvidas nesta confusão. Barry Keoghan desempenha o filho de um polícia, instável, e Kerry Condon, a irmã de Padraic, que se debate com as suas próprias questões, ao mesmo tempo que é envolvida nesta avalanche dramática que a mói ao longo da narrativa.

A fotografia é igualmente bela, privilegiando a paisagem verdejante e acompanhada pela banda sonora de Carter Burwell, que nos remete para algo poético. O filme tem também como pano de fundo a guerra da independência da Irlanda (1919-1921), tema que também gera tumultos em Inisherin. Tal como a guerra rebenta do outro lado do mar, a guerra também rebenta em terra firme e no coração destas personagens.

Este filme é muito mais do que a perda de uma amizade. É também sobre a importância da solidão e o respeito pelas decisões do outro, mesmo que isso nos possa deixar desconfortáveis e ávidos por respostas. A história balança entre a comédia negra, o drama familiar, o desespero, com uma escrita requintada, poética e, por vezes, melancólica. Foi um filme que me deixou a pensar muito depois de acabar de o ver. O filme vai-se revelando mais duro e ganhando contornos mais densos à medida que estas personagens se confrontam. Quais são os valores que determinam uma boa amizade? Até que ponto é que respeitamos o outro?

Poderá uma amizade destruir-nos e dar cabo das nossas vidas ou o silêncio dos outros é que nos incomoda? Uma coisa é certa: o fim de uma amizade é desesperante. Mas há que seguir em frente.

Estrelas: 9 em 10

Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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