“Alcindo” é o documentário português que, tendo como ponto de partida o violento assassinato de Alcindo Monteiro em 1995, traça uma linha cronológica sobre a violência racista e xenófoba que, sob diferentes moldes e formas de atuação, ainda persiste em Portugal.
Contextualizando, Alcindo Monteiro era um jovem português negro, de 27 anos, que foi brutalmente agredido por um grupo de skinheads, em Lisboa, na madrugada de 10 de junho de 1995, acabando por falecer. O ataque não fora especificamente direcionado para Alcindo mas a toda a comunidade negra, dado que grupo de etno-nacionalistas saiu às ruas, nessa noite, no Bairro Alto, em Lisboa, para espancar pessoas negras. Daqui resultaram 11 vítimas, uma delas mortal – o Alcindo.
A morte de Alcindo personifica o ódio racial “sacudido para debaixo do tapete” e encarado como pontual que, ainda hoje – como bem o demonstra o documentário -, está estruturalmente enraizado na sociedade portuguesa. Alcindo é o ponto de partida que o realizador adotou para descrever a violência racista em Portugal. Pretende-se, com este, um humilde apelo à consciência sob os nossos próprios comportamentos, que, na sua vertente micro, resultam em atitudes racistas e que, continuamente ignorados, conduzem a acontecimentos macro racistas e crimes de ódio, como tivemos recentemente, em 2020, o assassinato de Buno Candé – um jovem negro morto a tiro por um ex-militar da guerra do Ultramar – também retratado no documentário.
Estes e outros casos são-nos abordados ao longo do documentário, onde se vê, no ceio da sociedade portuguesa, uma falta de noção generalizada do que é um comportamento racista. Ressalva também, o mesmo, a ideia que em Portugal se tem de que o racismo é algo mau, resultando daqui a dificuldade de nos encararmos e aos nossos comportamentos.
O documentário integrou a programação do festival DocLisboa em 2021 e resultou de uma campanha crowdfunding, que decorreu entre o início de maio e o final de junho.
