EM TELA: O Espelho está de Volta (“Black Mirror”, season 6)

Ainda me recordo de, em meados de 2020, estando uma pandemia instalada no mundo, ter visto uma fotografia de alguém numa manifestação com um cartaz com os dizeres “Tirem-me deste episódio do ‘Black Mirror’”. Esta série antológica criada por Charlie Brooker e com o selo da Netflix desde 2011 que anda a mexer com as nossas mentes e a apresentar-nos histórias tanto distópicas como surrais, mas que poderiam ser verdade, porque, como um “Mirror (espelho) Negro”, a série tem o poder de refletir o mundo em que vivemos e de nos apresentar problemáticas bem reais.

O mundo mergulhado num caos distópico em 2020 poderia muito bem ter sido um episódio de “Black Mirror”. E depois, já com a televisão desligada, poderíamos ter respirado fundo e pensado “está tudo bem”, ou “ainda bem que isto não acontece”. Mas aconteceu e não foi na série. E o Charlie Brooker não escreveu o guião desse ano. Acontece que, em 2023, qual fénix, “Black Mirror” volta a erguer-se das cinzas de um mundo destruído (ou a destruir-se gradualmente) para nos voltar a provocar e a servir-nos cinco pratos narrativos surreais, nesta ementa endiabrada por máquinas e tecnologias sci-fi.

“Joan Is Awful”, “Loch Henry”, “Beyond the Sea”, “Mazey Day” e “Demon 79” são as cinco novas histórias que o espectador pode ver. O que, para mim, foi interessante nesta temporada, além das performances de actores como Salma Hayek ou Aaron Paul e da ambiência e texturas de cada episódio, é que Charlie Brooker se distanciou da usual ficção científica a que nos primou em anteriores episódios da série e explorou novos caminhos, como o terror e uma visão meta. Funcionaram como entretenimento, mas confesso que não fiquei totalmente satisfeito com algumas propostas e um particular twist meio bizarro num dos episódios (não vou ser spoiler).

Apesar disso, já ansiava por mais uma temporada desta antologia, porque “Black Mirror” é o mundo como ele é, cheio de máquinas e twists e pesadelos medonhos, mas também cheio de romance e mistério e metaversos ou multiversos.

Estou para ver o que é que o Charlie Brooker vai escrever a seguir e qual será o rumo que a série irá tomar. Uma coisa é certa. O mundo está em constante evolução e “Black Mirror” parece ter o dom de o acompanhar.

Estrelas: 8 em 10

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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