Tendo em consideração a caraterística época do ano que se avizinha, o tão aclamado Dia das Bruxas – ou, numa versão norte-americanizada e mundialmente conhecida, o Halloween – o conteúdo do Em Tela vestiu-se a rigor para a ocasião. “The Hauting of Hill House”, “The Haunting of Bly Manor” e, mais recentemente, “The Fall of The House of the Usher”, permitem-nos uma imersão no mirabolante universo do terror e do horror desenvolvido por Mike Flanagan.
Flanagan traz-nos uma nova visão, marcada por um saudosismo e uma nostalgia melancólica, das tradicionais e conhecidas histórias de terror. Traz também uma ênfase e uma priorização das relações humanas e familiares sob a necessidade de assustar o espetador. Todas elas, em diferentes moldes, presenteiam-nos com um lógico e coerente fio condutor – o que normalmente falta nos filmes de terror -, um continuo no espaço e tempo que nos mantém simultaneamente em estado de alerta e envolvidos na trama da narrativa.
Apesar de sem aparente ligação, as três séries trazem-nos uma encenação muito própria, marcada por saltos temporais entre o passado e o presente e as paletes de cores que melancolicamente se adaptam ao sentimento que cada um desses pontos temporais visa transmitir. Neste sentido, trazem-nos, os tons usados nas cenas no passado, um certo conforto e nostalgia e os do presente, uma frieza e tristeza.
“The Hauting of Hill House”, inspirada no conto de Shirley Jackson, acompanha uma família, composta pelos dois pais e cinco filhos, que se mudou para uma grande mansão, onde o plano seria restaurá-la e depois vender. Na misteriosa casa vinham incluídos um casal bastante religioso que tratava e cuidava da propriedade, mas que, apesar do trabalho a tempo inteiro, se recusavam a passar lá a noite. A narrativa vai alternando entre o presente, onde os cinco filhos já são adultos e têm diferentes versões e interpretações daquilo que foi a experiência naquela casa, e o passado, quando se mudaram para a casa e eram uma família aparentemente feliz. Onde a saúde mental se cruza com o paranormal, todos duvidam do que realmente viram, do que era real ou não, tendo todos em comum a necessidade de voltar àquela grande e velha casa onde cresceram para ultrapassar o que viveram lá com os seus pais na infância.
“The Hauting of Bly Manor”, seguindo o mesmo – mas ao mesmo tempo diferente – estilo de narrativa, traz-nos uma nova mansão misteriosa, desta vez inspirada na literatura de referência de Henry James. Mantêm-se atores de “Hill House”, vestindo uma nova personagem, o que transmite, de certa forma, uma ideia de continuidade. Dani, numa tentativa de fugir do seu passado, é contratada para cuidar de duas crianças órfãs que moravam em Bly Manor, onde rapidamente percebe que algo está errado, tanto na casa como com as crianças. Não há aqui muitas personagens, nem consequentemente demasiadas relações e dramas interpessoais – como em “Hill House” havia -, o que é contrabalançado com a intensidade e a cacofonia dos episódios. A tragédia e o trauma acompanham toda a série, sendo, as cenas de terror, bem mais subtis do que em “Hill House”.
Por fim e recentemente,” The Fall of The House of the Usher”, retorna às relações interpessoais que “Hill House” nos presentou, contudo em moldes bem distintos. Nesta mais recente minissérie, acompanhamos o império dos Usher, uma família magnata, envolta em polêmicas e tentativas de processos judiciais que nunca chegam a lado nenhum, que domina a indústria farmacêutica. Roderick e a sua irmã, Madeline, construíram uma das casas mais influentes, ricas e poderosas dos EUA, a partir do nada. Os flashbacks nostálgicos são aqui também recorrentes, que intercalam entre a idade jovem adulta dos irmãos e o presente, onde já estão a chegar ao fim da linha. No presente, os seis filhos de Roderick começam a morrer de formas repentinas, dolorosas e misteriosas, um por um, e um jogo entre decisões do passado e do presente começa a vir ao de cima e a ficar cada vez mais claro. Flanagan conseguiu construir uma narrativa envolta numa certa inevitabilidade e mesmo previsibilidade que o espetador aceita de forma empolgada.
Estas, e outras, séries de Flanagan encontram-se disponíveis na plataforma da Netflix.